Deepfakes: o futuro que nos espera e enganará

Apavorante. Em deepfakes eles podem tirar sua roupa, fazer você falar o que quiserem, colocar você em qualquer lugar do mundo, ou até participando de um animado vídeo pornô. Muito mais. Pior: dependendo do que possam pretender, nem precisam de você. Podem criar as pessoas que quiserem com as características e pensamentos que bem entenderem

Confira, abaixo, o artigo de Marli Gonçalves sobre deepfakes

São Tomé? Já era. Essa de acreditar só no que se vê está indo por terra e em toda a Terra. Estamos em perigo real, de vermos criados mundos paralelos completos, como a própria Criação, como religiosamente acreditamos que foi. Sete dias, descanso, costelas, ceias – tudo ultrapassado. Sairão de máquinas potentes, hardwares, guiados por mentes com domínio tecnológico, e nos serão apresentados em vídeos tão perfeitos que não será possível perceber sua manipulação. Com eles, facilmente o sentimento coletivo poderá ser manipulado.

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São deepfakes, vídeos criados por softwares de inteligência artificial, que conseguem utilizar fotos e gravações da voz de alguém para criar um vídeo falso dela, mostrando não apenas ela fazendo algo que nunca fez como ainda dizendo algo que nunca disse. Ou criar essas pessoas, totalmente virtuais, com idades, raças, credos, ideologias, gêneros. Que surgirão buscando nos influenciar, domesticar, pensar como elas, até nos fazer ter raiva de outras que sejam reais. Distopia total.

Lembram daquele vídeo tosco do agora governador de São Paulo João Doria, e que surgiu pouco antes das eleições? Ele, numa suruba. Como o conheço pessoalmente e fui capaz de jurar que por vários motivos não era ele naquela cena – ambiente sujo, etcs, principalmente os etceteras… – não me toquei à época do perigo, nem do que se tratava exatamente. E é mais, muito mais, do que mera manipulação de imagens. É infernal. Aquela era bem tosca, assim como grande parte do que está sendo feito ainda é rudimentar, produzido por nerds digitais e por pura diversão, humor, gracinhas.

“E é mais, muito mais, do que mera manipulação de imagens. É infernal”

Mas a tecnologia, e em pouquíssimo tempo, está ficando a cada dia mais apurada. E perigosa. E a gente aqui ainda preocupado com as fake news, que já abalam muitas estruturas e poderes, elegendo líderes desconcertantes, trazendo riscos inclusive à vida humana quando trata de saúde, como no caso das vacinas, ou causando linchamentos, que também já ocorreram. Para você entender: com deepfakes até o Drauzio Varella, em carne e osso, pode aparecer em vídeo condenando a imunização. Claro que não será ele, mas poderá ser tão perfeita a produção do falso, que você bateria o pé que, sim, você viu, você recebeu o vídeo, era ele, falando, a voz, os movimentos, os tiques. A técnica é a síntese de imagens, vídeos e sons, combinados e sobrepostos cuidadosamente.

Inacreditável é que o assunto perturbador ainda não está com a devida atenção dos governos e nações. Os deepfakes representam a mais nova ameaça à cyber segurança, sem que ainda se saiba como combatê-los. Não há regulação, normatização, legislação ética sobre a sua má utilização com os geradores de textos falsos, imagens falsas, vídeos falsos, clonagem de vozes e, o máximo, clonagem de personas. Se hoje nem as fake news conseguem ser combatidas, imaginem se esses novos monstros o serão em curto espaço de tempo. A inteligência artificial aprimorada aprendendo, sendo nutrida por informações, a criar um mundo falso em algoritmos.

“Não há regulação, normatização, legislação ética sobre a sua má utilização com os geradores de textos falsos, imagens falsas, vídeos falsos”

Apavorante, repito. Discursos de ódio, manipulação nas eleições, ataques aos movimentos sociais, as relações humanas, tudo poderá ser afetado de forma ainda mais violenta do que o que já vem ocorrendo celeremente em todo o mundo. Tudo virtual, não haverá como prender o autor de calúnias, difamações, informações falsas que aparecem nas imagens, porque ele simplesmente não existirá. E o mundo ainda não está preparado para capturar os jovens, em geral, muito jovens, que já detêm essa tecnologia, a operam cada vez melhor, e estão gostando muito, orgulhosos dessa brincadeira que inventaram. Sem limites, farão nascer exércitos que hipoteticamente podem ser maiores do que os chineses, com a fidelidade dos soldados norte-coreanos, e com a loucura dos radicais.

Fica a dúvida: como agirão quando tiverem noção do poder que essa poção mágica poderá lhes proporcionar? Devemos temê-los? Afinal, estarão criando uma nova civilização. Como se deuses fossem. De mentira. Mas o que é verdade, ultimamente?

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Marli Gonçalves

Jornalista formada pela FAAP, em 1979. Diretora da Brickmann&Associados Comunicação, B&A. Tem 40 anos de atuação na profissão, com passagens por vários veículos, entre eles Jornal da Tarde, Rádio Eldorado e revista Veja. Na B&A, além de assessoria de imprensa e consultoria de comunicação, especializou-se em gerenciamento de crises, ao lado de Carlos Brickmann, com quem trabalha desde 1996. Também é editora do Chumbo Gordo, site de informações da B&A. Mantém, ainda, o blog particular Marli Gonçalves (http://marligo.wordpress.com). Desde 2008, escreve semanalmente artigos e crônicas para inúmeros jornais e sites de todo o país sobre comportamento, feminismo, liberdade e imprensa. Entre suas atividades na área de consultoria, comunicação empresarial e relações públicas foi de 1994 a 1996 gerente de imprensa da multinacional AAB, Hill and Knowlton do Brasil (Grupo Standard, Ogilvy & Mather). Participou de várias publicações e veículos, entre eles, Singular & Plural, Revista Especial, Gallery Around (com Antonio Bivar), Jornal da Feira, Novidades Fotóptica, A-Z, Vogue. Na área política, foi assessora de Almino Affonso, quando vice-governador de São Paulo, e trabalhou em várias campanhas, entre elas, de Fernando Gabeira e Roberto Tripoli.

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