O jornalismo brasileiro não pode mais contar com os trabalhos de Paulo Henrique Amorim. Na madrugada desta quarta-feira, 10, o comunicador de 77 anos sofreu um infarto fulminante em sua casa, no Rio de Janeiro. Ocorrida horas após jantar com amigos, a morte de PHA foi lamentada por diversos colegas da imprensa. O que também ocorreu em veículos de mídia. A Record TV, por exemplo, divulgou nota em que lamenta o falecimento de seu contratado. A lamentação partiu da mesma emissora que há duas semanas decidiu tirar o apresentador do comando do ‘Domingo Espetacular’.
“Paulo Henrique deixa esposa, uma filha e dois netos. A Record TV lamenta profundamente o falecimento de Paulo Henrique Amorim e se solidariza com os amigos, familiares e admiradores. A todos, nossas sinceras condolências”, afirma a emissora em nota divulgada à imprensa. Em outro comunicado, o veículo de mídia informa que o corpo do jornalista será velado na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. O velório será realizado na quinta-feira, 11, das 10h às 15h. “A família do jornalista Paulo Henrique Amorim agradece as manifestações de pesar e carinho dos colegas e amigos”, divulga o canal.
A saída de Paulo Henrique Amorim do time responsável pela revista eletrônica foi agitada. De modo oficial, a Record TV informou que a decisão de tirá-lo do programa semanal foi pensada como simples “processo de reformulação do jornalismo” do canal, que tem Antonio Guerreiro como vice-presidente. Colegas de jornalismo e políticos, contudo, acusaram a emissora de ceder a suposto pedido por parte de Jair Bolsonaro. De acordo com o que se chegou a ser noticiado em colunas e em postagens nas redes sociais, o afastamento de PHA da atração teria sido definido por pressão vinda diretamente do presidente da República.
Com a recente decisão envolvendo o time do ‘Domingo Espetacular’ há quem relacione a morte do jornalista com a sua saída do programa. Criado por Laura Capriglione e outros profissionais, o projeto Jornalistas Livres usou o Twitter para culpar o canal televisivo. “Paulo Henrique Amorim passou por Band, Globo e Record TV. Por pressão dos fascista bolsonaristas ele foi afastado no mês passado do programa semanal que apresentava desde 2006 na emissora de Edir Macedo. São responsáveis por sua morte”. Pela rede social, o coletivo ainda relembrou manchetes que ligavam o afastamento de PHA com “pressões políticas”.
Fora do ‘Domingo Espetacular’ desde o fim de junho, Paulo Henrique Amorim seguia como contratado da Record TV, empresa da qual era funcionário desde 2003. Na emissora, apresentou o ‘Jornal da Record – 2 ª Edição’ e o ‘Tudo a Ver’, ambos hoje extintos. Desde 2004 era o principal nome da revista eletrônica dominical. A carreira na imprensa, porém, somou passagens por outras importantes redações. Formado em sociologia estreou no jornalismo no impresso carioca A Noite, em 1961. Permaneceu na mídia escrita até 1984, passando pela Bloch Editores (Manchete e Fatos & Fatos), Editora Abril (Realidade, Veja e Exame) e Jornal do Brasil. Atuou como repórter, correspondente em Nova York e editor-chefe. Conquistou um prêmio Esso de economia.
Premiado e com experiência internacional, migrou para a televisão. Primeiramente, foi contratado da Rede Manchete, em 1985, como editor-executivo do jornalismo. Meses depois, deu início à trajetória na TV Globo. Na emissora fundada por Roberto Marinho, exerceu diversas funções. Foi editor de economia, repórter e apresentador de programas econômicos. Em 1990, voltou a exercer o cargo de correspondente internacional em Nova York, sendo o chefe do escritório da Globo na cidade. Na mesma época, colaborou com o programa ‘World Report’, da CNN.
Fora da Globo, em meados da década de 1990, PHA passou pela apresentação de telejornais da Band e TV Cultura. Antes de ser contratado pela Record, começou a desbravar a internet. Passou por Terra e iG e ajudou a impulsionar o trabalho audiovisual desenvolvido pelo UOL. Ao pegar gosto pelo mundo digital, passou a conciliar seus trabalhos na televisão com o Conversa Afiada. O projeto online nasceu como mero blog sobre política, ganhou status de site e, mais recentemente, passou a contar com canal no YouTube. Com quase 1 milhão de inscritos, a versão do Conversa Afiada apresentava o jornalista em versão analista político. No último vídeo, afirmou que o Brasil era “uma pátria sem chuteiras e sem povo”.
Reconhecido por ser polêmico, sendo processado por autoridades e colegas de imprensa, a morte de Paulo Henrique Amorim comoveu diversos jornalistas. Companheiro de Record TV, Renato Lombardi definiu PHA como “uma referência no jornalismo”. Idealizadora do site SóNotíciaBoa, Andrea Fassina relembrou o tempo em que trabalhou ao lado do agora saudoso colega. “[Ele] entrava na salinha onde eu trabalhava e me acostumei a ouvir: ‘bom dia. Olá, tudo bem?’. Nada vai ficar bem por aqui, mas, com certeza, jornalistas como Boechat e Paulo Henrique vão ficar melhor do que estamos”, publicou a comunicadora que, assim como o público em geral, deixará de ouvir do jornalista que devemos ter “boa noite, boa sorte”.
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