Divulgar boatos por trás da tela do celular ou do computador é muito fácil. O autor da mentira não tem que encarar olho a olho as pessoas que pretende enganar e, também, dificilmente terá sua identidade descoberta. As fakes news têm se mostrado um grande problema nessa era digital, em que quase tudo é feito por meio da internet, a qual tem uma capacidade ímpar de espalhar muito rapidamente para toda a sociedade essas informações enganosas e danosas.
O problema se mostrou tão impactante, chegando até mesmo a interferir nas eleições presidenciais do Brasil. O YouTube, como uma das plataformas de divulgação de conteúdo mais utilizadas, não deixou barato para esses mentirosos de plantão. Criou uma ferramenta que visa alertar seus usuários sobre conteúdos polêmicos que tenham sido alvo de fake news. Assim, a partir de agora, começando na Índia, quando um usuário fizer sua busca, a rede social vai disponibilizar entre suas respostas uma verificação de fatos. Alertará, assim, que a pessoa pode estar buscando algo que não é verdadeiro.
O assunto parece até irrelevante. E em determinadas situações realmente pode ser assim visto. A informação falsa, por exemplo, de a atriz X estar ou não namorando o ator Y não é algo que vai afetar danosamente a vida das pessoas que leem o que determinada plataforma de conteúdo da internet fale. Mas e se a fake news fosse a respeito de um remédio, acusando-o de ser na verdade um medicamento fatal? E se uma pessoa ao ler tal boato deixasse de tomar um remédio (por medo de morrer) enquanto a morte se daria na verdade pela ausência do mesmo? Pois é, neste cenário o assunto fake news já não parece tão irrelevante assim, né?
O caso do medicamento acima exposto não é um mero exemplo, ele aconteceu. Ninguém morreu, pois não se tratava de um remédio imprescindível para garantir a vida. Tratava-se do paracetamol, um fármaco utilizado essencialmente para tratar a febre e a dor leve e moderada. A fake news afirmava que médicos tinham confirmado a existência do vírus Machupo no paracetamol P/500. Isso levou muitas pessoas a deixarem de tomá-lo. Nenhuma pesquisa já afirmou que a ausência de paracetamol pode levar a morte.
Porém, e se o remédio em questão fosse, na verdade, para diabetes? E se o boato fizesse com que diabéticos não tomassem suas doses diárias? O estrago poderia ser bem maior. Portanto, para evitar que incidentes como estes se repitam, o YouTube já se adiantou com a criação dessa ferramenta de alerta aos usuários sobre a veracidade do conteúdo lido. A ação diminuirá a circulação de informações inverídicas na internet.
Muito embora louvável, o que garante que essa ferramenta do YouTube realmente saiba o que é fake ou não? E se os algoritmos ou profissionais da plataforma errarem ou até mesmo dolosamente exporem ser fake algo que de fato não é? As pessoas de certa forma estariam sendo induzidas a pensar de uma maneira que não pensariam – o que não deixa de ser uma forma de controle. Assim, seria melhor estar sujeito às fakes news ou a uma informação que se diz confiável, mas na realidade tem procedência também desconhecida?
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Por Fernando Stacchini, Carla Guttilla e Paola Lorenzetti. Eles são, respectivamente, sócio e advogadas do Motta Fernandes Advogados.
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