“Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp“. Com essa manchete, a versão impressa da Folha de S. Paulo circulou na última quarta-feira, 17. O conteúdo, que repercutiu no ambiente online, motivou críticas, xingamentos e ameaças direcionadas ao veículo e a profissional responsável pela apuração da denúncia: a premiada e experiente jornalista Patrícia Campos Mello. Depois da veiculação do material, a repórter foi alvo de ações virtuais propagadas por bolsonaristas. A atitude por parte de apoiadores do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) fez com que entidades jornalísticas se posicionassem. Ao menos três instituições enalteceram o trabalho da comunicadora, que, entre outras ofensas, foi chamada de “putinha” e “vagabunda”.
Carta pública conjunta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) observa que o risco vai além da integridade física e moral da repórter contratada pela Folha de S. Paulo. “Avessos ao debate e à crítica pública, essenciais numa sociedade democrática, os agressores querem sufocar a liberdade de imprensa e calar qualquer voz que levante questionamentos dirigidos a seu candidato. É a própria democracia que está sendo atingida quando a repórter é atacada”, afirmam. As duas entidades sinalizam que a comunicadora pode contar com apoio para processar bolsonaristas. Elas se colocam à “disposição para tomar todas as medidas necessárias para defendê-la e para responsabilizar os autores desses atos de vilania”.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) teve conduta similar à adotada por SJSP e Fenaj. Para a equipe da entidade, as ações proferidas por bolsonaristas foram além de simplesmente tecer críticas ao trabalho apresentado por Patrícia Campos Mello. “Retaliar jornalistas em função de sua atividade profissional não atinge apenas o(a) comunicador(a) em questão; traz prejuízos à sociedade como um todo, inclusive aos que praticam os ataques”. Sem citar nomes, a Abraji indica que a campanha difamatória começou a partir de influenciadores digitais. “Perfis com grande número de seguidores, apoiadores da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), publicaram postagens com questionamentos à credibilidade da repórter”.
A trinca de entidades também fez questão de valorizar o currículo construído pela hoje repórter da Folha de S. Paulo e comentarista de assuntos internacionais da Band. “Patrícia Campos Mello é uma jornalista experiente, com uma importante trajetória em vários veículos de imprensa e uma carreira premiada no Brasil e no exterior”, reforçou SJSP e Fenaj. “Repórter experiente, cobre relações internacionais, economia e direitos humanos há 18 anos. Cobriu conflitos como o da Síria e foi a única profissional brasileira a cobrir in loco a epidemia de Ebola em Serra Leoa em 2014 e 2015″, destaca a Abraji. Entre os reconhecimentos obtidos estão o Rei da Espanha de 2018 e o Prêmio Mulher Imprensa de 2016. Nos últimos três anos, a comunicadora figurou no top 3 como ‘Repórter – Mídia Escrita’ do Prêmio Comunique-se.
Não foram somente as entidades que se posicionam a favor de Patrícia Campos Mello. Jornalistas de outros veículos de comunicação valorizaram o trabalho apresentado pela colega da Folha de S. Paulo. A maioria das mensagens foi em tom de solidariedade. “Ameaças e assédio contra jornalistas são inadmissíveis numa democracia”, escreveu Sônia Bridi, da TV Globo, em seu perfil no Twitter. Tai Nalon, da agência de checagem Aos Fatos, também se posicionou por meio da plataforma de microblogs. “[Ela] fez um trabalho de investigação difícil, que pode e deve ser determinante para que a Justiça Eleitoral finalmente regule distorções de campanha”. Colunista do El País Brasil, Xico Sá elogiou a reportagem. “Muitos vivas e aplausos para a jornalista Patrícia Campos Mello (…) que escancarou a bandalheira eleitoral de Jair Bolsonaro. A reportagem renasce no Brasil. Viva o jornalismo”, comentou por meio da rede social.
Além de entidades jornalísticas e colegas de imprensa, a repórter conta com apoio judicial. Isso porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou pedido feito por Jair Bolsonaro. A equipe do candidato à presidência da República desejava que a reportagem assinada por Patrícia Campos Mello fosse retirada da internet. O integrante do PSL fez uso de vídeo que circulou nas redes sociais nos últimos dias. Em edição tirada de contexto, a jornalista da Folha aparece se dizendo de esquerda e eleitora do PT. Isso, segundo os advogados bolsonaristas, bastaria para classificar a matéria como “no mínimo, suspeita”. Relator do caso, Sérgio Silveira Banhos foi contra tal argumento. “Não se extraem da matéria impugnada elementos suficientes que configurem transgressão capaz de desequilibrar a disputa eleitoral e ensejar de plano a suspensão do conteúdo impugnado”, definiu o ministro, conforme registrado pelo site Congresso em Foco.
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