A informação de que a Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu inquérito para investigar a conduta profissional de um jornalista não caiu nada bem entre entidades do setor. Diante da abertura do caso contra Leandro Demori, editor-executivo do site The Intercept Brasil, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou nota de repúdio. Além de criticar a investigação por causa de reportagem sobre operação policial na favela carioca do Jacarezinho, a entidade questiona se o país voltou a viver sob condutas ditatoriais.
“DRCI: um novo DOPS?”, perguntou-se a ABI logo no título do texto assinado por seu presidente, Paulo Jeronimo. DRCI é a sigla referente à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, órgão responsável pela abertura de inquérito contra Demori. DOPS, por sua vez, remete ao extinto Departamento de Ordem Política e Social, um dos setores de repressão — e tortura — ativo durante o período da ditadura militar brasileira.
“Iremos buscar instrumento jurídico”
Jeronimo garantiu, ainda, que a entidade presidida por ele irá além da nota de repúdio. Ações junto a políticos e ao poder Judiciário estão no radar para, de alguma forma, ajudar o jornalista investigado, que foi intimado a depor nesta semana. “Além de carta de protesto ao governador Cláudio Castro, iremos buscar instrumento jurídico para, efetivamente, defender o jornalista Leandro Demori deste atentado às liberdades de imprensa e de expressão.”
Por meio de nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) foi outra entidade a se manifestar contra a ação do DRCI e, consequentemente, em favor de Leandro Demori. Para a instituição, aliás, o caso não se refere apenas ao editor-executivo do Intercept. “Uma tentativa de censurar a imprensa”, definiu a diretoria da associação, conforme texto publicado em seu site oficial.
“Apelam de forma rápida para o ataque imediato ao mensageiro, em vez de apurar as graves denúncias e prestar contas à sociedade”
“Empoderadas pelos ataques desferidos pelo presidente da República e outras autoridades públicas à imprensa e aos jornalistas, as forças policiais se sentem respaldadas para convocar jornalistas a dar explicações como forma de intimidar seu trabalho de informar a população sobre assuntos de interesse público. Apelam de forma rápida para o ataque imediato ao mensageiro, em vez de apurar as graves denúncias e prestar contas à sociedade”, prosseguiu a diretoria da Abraji.
A Abraji atenta, ainda, para o fato de o delegado responsável pelo DRCI, Pablo Dacosta Sartori, ter histórico de ações contra comunicadores. Anteriormente, ele já havia intimado o youtuber Felipe Neto por ter, supostamente, violado a Lei de Segurança Nacional ao se referir ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), como “genocida”. Dacosta também foi um dos responsáveis por intimar a dupla de âncoras do ‘Jornal Nacional’, Renata Vasconcellos e William Bonner, a prestar depoimento para apurar suposta desobediência a uma decisão judicial.
Pelas redes sociais, o editor-executivo do site The Intercept Brasil ganhou apoio de colegas da imprensa. Ao informar, por meio de um tuíte, que está bem “graças ao carinho e apoio” do público, ele recebeu mensagens de profissionais espalhados por outros veículos de comunicação. “Resistência”, afirmou a diretora de redação do portal Metrópoles, Lilian Tahan. “Força, meu caro. Estamos juntos. Fatos como o de hoje só ajudam a escancarar o absurdo que estamos vivendo”, analisou Gian Oddi, comentarista dos canais ESPN. “Siga firme”, pediu o apresentador Daniel Adjuto, da CNN Brasil.
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