Em meio à disseminação de notícias falsas nos meios sociais, a Folha de S. Paulo promoveu o seu segundo encontro de jornalismo. Recentemente, o jornal decidiu não publicar mais conteúdos no Facebook. O motivo é a mudança dos algoritmos provida pela rede social, que passou a privilegiar as postagens pessoais em prol de assuntos jornalísticos. Segundo o periódico, a modificação ira impulsionar a propagação de bolhas e fake news.
Professor de jornalismo na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, o brasileiro Rosental Calmon Alves abriu os debates com um discurso sobre as novas mídias e o jornalismo. “De repente o sertão virou mar e o jornalista se viu obrigado a aprender a nadar”, provoca. Além disso, o professor aludiu para os drásticos cortes promovidos pelas empresas de mídia ao decorrer dos últimos anos. “Uma redação que possuía 80 jornalistas hoje possuí cinco. É preciso pensar em modelos sustentáveis”.
Além de Rosental, a primeira mesa do 2º Encontro Folha de Jornalismo foi formada por Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Publicas da USP; e Stephanie Habrich organizadora do Jornal Joca, publicação voltada a jovens e crianças. O sugestivo título “Jornalismo como antídoto às fake news” foi a tônica das conversas mediadas pelo editor-executivo da redação do jornal paulistano, Sérgio Dávila.
Ortellado alertou para o uso indiscriminado do uso da expressão fake news. Segundo ele, os erros dos veículos não podem ser classificados dessa forma. “Os jornalistas estão expostos aos erros. As fake news são direcionadas e feitas por grupos políticos”. O professor explica que as notícias falsas só se alastram em sociedades polarizadas. “Do contrário, morreriam na praia”, afirma.
Outro assunto abordado foi a importância de ensinar os jovens a diferenciar notícias de boatos. “É fundamental criar uma cultura jornalística na criança. O jornal é a ponte entre o mundo e a vida.”, ponderou Stephanie Habrich. Ela contou que cresceu tendo o hábito de acompanhar veículos impressos. “É algo praticado há 40 anos. Sempre existiu jornais para crianças. Nos Estados Unidos circulam mais de dez títulos voltados a esse público”. Ela acrescenta como as crianças se relacionam com o formato. “Dormem com jornais de baixo do travesseiro. Além de tudo, as protegem de fake news”.
A terceira mesa discutiu os limites do politicamente correto e contou com a participação de William Waack, ex-apresentador do ‘Jornal da Globo’; Carlos Maranhão, editor de Veja; e Sérgio Rodrigues, colunista da própria Folha de S. Paulo.
William Waack foi o primeiro a se manifestar. Recentemente, ele teve um vídeo vazado na qual atribuía a “pretos” o barulho de buzinas ouvido fora dos estúdios. Na época, o jornalista cobria as eleições norte-americanas diretamente da cidade de Washington. O episódio gerou críticas e rapidamente tomou conta das redes sociais.
Relembre o caso…
William Waack iniciou sua fala definindo o termo. “O politicamente correto é um discurso correto de um ponto de vista político. E, com política, eu quero dizer embate cultural”. Lembrou, ainda, a cobertura da queda do muro de Berlim, em 1989, como exemplo das restrições da linguagem. “Enfrentei serias dificuldades. Não era politicamente correto chamar o muro de Berlim de muro da vergonha”, disse.
Carlos Maranhão argumentou que o primeiro passo para enfrentar o problema é defini-lo com as palavras certas. “O grave problema de segurança no Rio de Janeiro não pode ser definido simplesmente como violência. É bandidismo, criminalidade”. No entanto, para ele, o politicamente correto trouxe avanços importantes na quebra de preconceitos, como direitos às mulheres e quebras de preconceito.
O colunista Sérgio Rodrigues contou como surgiu e se desenvolveu o politicamente correto. “Esse discurso nasce nos anos 60, transformando a linguagem em palco de luta política”. Por fim, ele lembrou que o politicamente correto também produziu benefícios, mas alertou para o fato do jornalista se tornar refém das patrulhas ideológicas. “No jornalismo, a linguagem é crucial”, completou.
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Por Renan Dantas. Integrante do projeto ‘Correspondente Universitário‘ do Portal Comunique-se e estudante do 4º semestre de jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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