Uma postagem feita no Twitter pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no último fim de semana pode ir além da onda de críticas que ganhou vez na imprensa, nas redes sociais e no cenário político. Por causa da postura adotada publicamente, atacando a jornalista Míriam Leitão e ironizando o fato de ela ter sido torturada pela ditadura militar, o parlamentar deve perder o mandato. Ao menos esse é o entendimento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Em nota oficial divulgada nesta semana em seu site, a entidade avalia que Eduardo, que além de deputado é filho do presidente Jair Bolsonaro, cometeu o crime de apologia à tortura ao ironizar o fato de Míriam Leitão ter sido mantida detida em uma sala escura com uma cobra quando foi presa pelo regime militar. Pelo Twitter, o parlamentar compartilhou uma mensagem em que a jornalista, exercendo o seu trabalho de analista política, criticou o mandatário do país. Como complemento, ele avisou que tinha pena da… cobra. Diante desse cenário, a Fenaj pede a cassação do mandato dele em Brasília.
Um crime que é também uma manifestação inequívoca de desumanidade
“A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), entidade máxima de representação da categoria no país, vem a público repudiar a apologia à tortura, um crime que é também uma manifestação inequívoca de desumanidade”, diz a instituição no início de seu comunicado. “E, para que não haja relativização em favor dos criminosos, a Fenaj defende a imediata abertura de processo ético contra o deputado Eduardo Bolsonaro”, prosseguiu.
Em outro trecho da nota, a equipe da Fenaj lembra que não é a primeira vez que o deputado federal ou algum outro membro da família Bolsonaro profere ofensas e ataques pessoais contra a jornalista Míriam Leitão. A entidade também pontuou que tornou-se comum o clã ligado ao presidente da República relativizar crimes cometidos por agentes do regime militar brasileiro.
Algumas dessas autoridades, como Bolsonaro pai e filho, também demonstram absoluta falta de empatia e compaixão
“Não foi a primeira vez que Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, tratou a tortura como uma prática banal e defensável. Também não foi a primeira vez que a jornalista Míriam Leitão foi desrespeitada pela família Bolsonaro, em sua história de militante e presa política”, reclama a entidade. “Portanto, passa da hora de os demais poderes constituídos da República brasileira, agirem para garantir o Estado de Direito, com a punição cabível para autoridades que insistem em agir fora dos preceitos legais e democráticos. Algumas dessas autoridades, como Bolsonaro pai e filho, também demonstram absoluta falta de empatia e compaixão, sentimentos normalmente partilhados entre os seres humanos.”
Criticado por ter ironizado o fato de uma jornalista ter sido vítima de tortura por um regime apoiado por ele e sua família, Eduardo Bolsonaro prosseguiu com ataques à jornalista Míriam Leitão. Em vídeo, também divulgado por meio do Twitter, o deputado tentou pôr em xeque o fato de a comunicadora ter sido torturada. “Sobre essa questão da cobra, tem apenas da Míriam Leitão dizendo que isso aí ocorreu”, garantiu o congressista que, sem nexo algum, destacou que estava — supostamente — desvendando a “vida pregressa” da jornalista.
As mensagens me fortalecem e me ajudam a ter esperança no Brasil
Alvo dos ataques de Eduardo Bolsonaro, Míriam Leitão, que faz aniversário em pleno Dia do Jornalista (7 de abril), tem recebido apoio de colegas de jornalismo e de figuras da política — do ex-presidente Lula (PT) ao ex-governador paulista João Doria (PSDB). “Agradeço a todas as pessoas que se manifestaram aqui e por outros caminhos. As mensagens me fortalecem e me ajudam a ter esperança no Brasil e no futuro da democracia, que nos custou tão caro”, enfatizou.
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