Opinião

Fim da versão impressa do “novo” JB provoca demissões de jornalistas

No período em que deveria comemorar um ano de seu retorno às bancas, versão impressa do Jornal do Brasil chega ao fim. Jornalistas são demitidos em meio ao encerramento em papel do “novo” JB — que segue só no online

Depois de oito anos desde que circulou pela última vez sob gestão do empresário Nelson Tanure, o Jornal do Brasil voltou às bancas — sobretudo as do Rio de Janeiro — em 25 de fevereiro de 2018. Um ano depois, não há muito o que se comemorar com o projeto. Nesta semana, em meio a movimento grevista por parte da redação, o “novo” JB foi impresso de modo derradeiro. Ação que fez com que os responsáveis pela operação demitissem mais de 20 jornalistas. Houve baixas também em outros setores. Com o fim da edição em papel, a marca jornalística volta a se concentrar no online.

Em meio às informações que já davam conta do encerramento da versão impressa, o empresário Omar Catito Peres, que acertou o arrendamento do título em fevereiro de 2017, usou o seu perfil no Facebook para confirmar. O executivo foi enfático ao garantir: o mercado da mídia em papel não tem futuro no país. “O ser humano não quer mais se informar por jornais impressos”, cravou. “O jornal impresso não tem mais a menor importância”, lamentou o dono da marca JB. O discurso, porém, foi bem diferente do de quando relançou o diário no ano passado. Na ocasião, ele almejava o futuro a longo prazo do meio. “Ainda tem mercado relevante”, apostou à época.

Você sabia? Omar Catito Peres é o responsável pela marca Jornal do Brasil (JB) desde fevereiro de 2017. Ele acertou com Nelson Tanure espécie de arrendamento do veículo de comunicação.

No longo texto (íntegra no fim da reportagem) em que publicou na rede social, Omar Catito Peres ignorou o fato de ter demitido dezenas de jornalistas. Preferiu evidenciar, de certo modo, que voltar a fazer o Jornal do Brasil rodar na gráfica careceu de estruturado plano de negócios. O executivo dá a entender, por exemplo, que na base do achismo acreditou que o “novo” JB venderia em média 8 mil exemplares por dia. Isso diante de um cenário em que marcas como O Globo, Estadão e Folha já protagonizavam passaralhos por causa da queda da comercialização em banca. Tirando o sucesso da reestreia, o número sempre ficou abaixo da expectativa, informou.

“Essa premissa, vender 8 mil jornais/dia , nunca se comprovou. No dia do lançamento, vendemos 25 mil exemplares”, começou a relatar. O presidente do JB indicou, ainda, que o fim da versão impressa do Jornal do Brasil só não ocorreu antes por causa da veiculação de propagandas vindas de órgãos públicos. “Nos primeiros seis meses, conseguimos quase equilibrar o orçamento por conta de algumas publicidades de governos”, pontuou. “Mas daí em diante, com o bloqueio judicial equivalente a três folhas de pagamento e com venda de 3 mil exemplares/dia, o prejuízo se tornava insustentável e o leitor, ‘apaixonado’ pelo JB e que pedia um jornal independente’, continuava a ler e se informar gratuitamente pela internet”, lamentou o responsável-mor pela volta da marca às bancas.

Omar Catito Peres. Empresário é responsável pela volta (e também pelo fim) da versão impressa do “novo JB” (Imagem: reprodução/Jornal Opção)

Demissões e calotes em jornalistas

O fim do Jornal do Brasil impresso acontece em meio a problemas que os jornalistas vinham encarando desde o fim do ano passado. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, funcionários sofrem com o não pagamento de direitos trabalhistas, além de ficarem com atrasos salariais de até três meses. A situação vinha provocando paralisações. Na última semana de fevereiro, parte da redação aderiu ao movimento grevista. Episódio que se repetiu nesta terça-feira, 13, dois dias antes da confirmação do encerramento do título em papel. Por 24 horas, colaboradores interromperam suas atividades como forma de lutar a fim de receber o que lhes eram de direito.

A greve, contudo, não fez com que os gestores do Jornal do Brasil arcassem de bate e pronto com as reivindicações chanceladas pela entidade da classe de jornalistas. Pelo contrário. Sem a versão impressa, a equipe do JB foi reduzida sumariamente. Informações apuradas pela reportagem do Portal Comunique-se apontam que mais de 20 comunicadores foram demitidos. Número que não é comentado de forma oficial por Omar Catito Peres. Sem salários e benefícios empregatícios em dia, alguns dos demitidos podem levar o caso para o poder Judiciário. Essa é, inclusive, a orientação por parte do sindicato. “Os trabalhadores devem dar ‘baixa’ na carteira e entrar na Justiça para receber as rescisões e os atrasados a que cada um tem direito”, sugere a instituição.

Mesmo para quem permanece no Jornal do Brasil, a situação não é das melhores. Um jornalista que segue na empresa lamenta o clima. “Esta semana, vivemos na redação momentos muito difíceis”, comenta o comunicador, que por razões de segurança não terá o nome revelado. “[Na quinta], o clima foi péssimo e ver os colegas se despedindo e se retirando foi uma cena muito triste”, prossegue. “É lamentável ver bons jornalistas saindo da redação sem o brilho no olhar, esvaziando seus espaços, carregando seus pertences, quase que em fila. Sempre defendi a união entre os jornalistas, mas fico impressionado como isso parece cada vez mais distante”, complementa o colaborador, sugerindo uma autocrítica dos colegas de imprensa.

Futuro online para o Jornal do Brasil

Com redação reduzida, o “novo” JB seguirá ativo na internet. Sob comando de Gilberto Menezes Côrtes, vice-presidente editorial, o veículo de comunicação foca de vez no online. Para isso, o portal pode passar por reformulações ao decorrer dos próximos meses. Deve-se investir principalmente em colunistas renomados. Omar Catito Peres salienta que buscará nomes gente conhecida. “Lá estará uma maravilhosa turma de jovens jornalistas, comandada por Gilberto Menezes Côrtes e nossos principais colunistas. Vamos, a partir de hoje, convidar mais cronistas de nome nacional para participar de nosso JB que continua vivo”, promete o executivo que, em suma, é o grande responsável pelo retorno e encerramento do “novo” Jornal do Brasil.

Presidente fala sobre o JB daqui para frente

Abaixo, o Portal Comunique-se reproduz – com eventuais erros gramaticais, ortográficos e pontuação – a íntegra do texto publicado originalmente no perfil de Omar Catito Peres no Facebook.

O JORNAL DO BRASIL ACABOU ?

A RESPOSTA É NÃO !

Quando tomei a iniciativa de trazer de volta às bancas o JB impresso, vários amigos foram contundentes em dizer que eu estava na “contramão da história”, ao relançar um produto que estava “em coma” no mundo todo .

Sabia, claro , dessa realidade. Tanto que escrevi há 15 dias, artigo comemorando um ano do JB nas bancas, onde faço um pequena analise sobre o presente e o futuro da mídia brasileira e, afirmo que dentro de muito pouco tempo os impressos vão acabar, Aqui e em todo o mundo .

O projeto, obviamente, tinha o olho no futuro, ou seja, investir pesado no JB online, com base no impresso e, com o tempo, migrar definitivamente para o jornalismo eletrônico.

Em meu plano de negócios, entendia que o impresso deveria ser nossa principal ferramenta para esse processo de transição. Pessoalmente acreditava que o impresso duraria uns 3 anos até a mudança definitiva para a web. Durou, exatamente, um ano .

Mesmo com amigos dizendo que era uma “loucura” minha iniciativa, diante desse quadro de mercado caótico para os impressos , fui em frente e apostei em uma única possibilidade , a qual , todos os que embarcaram comigo no projeto, também acreditavam : não era o lançamento de um jornal mas, sim, do JORNAL DO BRASIL, que nos traria um número suficiente de leitores para bancar, independente de publicidade (que “não existe mais” para jornais), o JB impresso.

Para atingirmos o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas , era necessário a venda de 8 mil exemplares/dia ! Eu pensei e, todos pensaram a mesma coisa: MOLEZA !

Na redação, a aposta mais pessimista era de que venderíamos 10 mil exemplares/dia. Esse era o clima de quem participava da equipe de relançamento.

Fui em frente e relancei o jornal que marcou o Rio e o Brasil. Tínhamos certeza, GIlberto Menezes Cortes, Tereza Cruvinel, Hildegard Angel , Renato Mauricio Prado, Octavio Costa, Rene Garcia Jr., Jan Theophilo e diversos outros “coleguinhas” que, com dedicação , muito suor e amor ao jornal, acreditaram que faríamos recursos suficientes com as vendas em bancas e assinaturas, cujo faturamento nos permitiria não só pagar os custos operacionais mas, também, crescer.

Mas essa premissa, vender 8 mil jornais/dia , NUNCA se comprovou. No dia do lançamento, vendemos 25 mil exemplares.

E, porque isso aconteceu ? POR QUE O SER HUMANO NÃO QUER MAIS SE INFORMAR POR JORNAIS IMPRESSOS ! É simples assim.

Prova disso, é que TODOS os jornais brasileiros somados, vendem , hoje, nos dias da semana, cerca de 500 mil exemplares/dia !!! Me refiro à Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, Zero Hora (que já não imprime aos domingos), e outros de menor expressão.

Repito : todos eles, juntos, vendem, durante a semana, cerca de um pouco mais de 500 mil exemplares de jornais/dia, sendo que 90% para assinantes e 10% em bancas.

Pegue esses 500 mil exemplares e divida por 220 milhões de brasileiros. Resultado: o Brasil apresenta um índice PERTO DE ZERO LEITOR de jornal impresso . Um dos piores índices do mundo.

Em outras palavras, o jornal impresso no Brasil NÃO TEM MAIS A MENOR IMPORTANCIA e todos , sem exceção, continuam caindo a tiragem e perdendo leitores.

Mas em nosso caso, acreditávamos que seríamos um sucesso por sermos o JORNAL DO BRASIL, sinônimo da prática de um jornalismo independente , corajoso e combativo, marcas do JB.

E fizemos exatamente isso, dando liberdade absoluta aos editores para escrever e relatar o que era importante para a sociedade. E, neste contexto, publicamos importantes matérias, sendo a mais marcante , sobre o oligopólio dos bancos no Brasil , dentre muitos outras.

Mesmo assim, as vendas não se comprovavam. Nada fazia o leitor que era contra a “mídia hegemônica e que adora e pedia um jornal independente”, comprar e/ou assinar o JB.

Fora isso, ainda tivemos bloqueios judiciais no valor de R$ 600 mil (quase três folhas de pagamento !), por ações trabalhistas , algumas , acreditem, do século passado ! Evidentemente, nenhuma ação de nossa responsabilidade. Esses bloqueios contribuíram, ainda mais, para dificultar a existência do impresso.

Nos primeiros seis meses, conseguimos quase equilibrar o orçamento por conta de algumas publicidades de governos. Mas daí em diante, com o bloqueio judicial equivalente a três folhas de pagamento e com venda de 3 mil exemplares/dia, o prejuízo se tornava insustentável e o leitor “apaixonado pelo JB e que pedia um jornal independente”, continuava a ler e se informar gratuitamente pela internet.

Prova disso é que nosso site deu um salto explosivo de audiência, alcançando 3 milhões de visitantes por mês. Inacreditável !

Se de um lado o site crescia com milhões de visitantes, o impresso morria…, por falta de comprador. Foi e, é, simples assim.

Em resumo, só antecipei o que era previsto : acabar com o JB impresso e continuar investindo no JORNAL DO BRASIL online, cujo site passará por profundas modificações em seu desenho .

Mas lá estará uma maravilhosa turma de jovens jornalistas, comandado por Gilberto Menezes Cortes e nossos principais colunistas.

Vamos, a partir de hoje, convidar mais cronistas de nome nacional para participar de nosso JB que continua vivo.

Estou triste, claro, por ter sido obrigado a antecipar o fim do JB impresso.

Mas o motivo foi um só: O LEITOR QUE NÃO QUER MAIS LER JORNAL IMPRESSO.

Atendemos à essa demanda.

VIVA O JORNAL DO BRASIL, VIVO E PARA SEMPRE.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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