Opinião

Gêneros textuais e suas inovações – por Dulce de Almeida Torres

Quem não se lembra dos tempos da escola, quando voltávamos das férias e a primeira atividade a se fazer era uma redação com o tema: o que você fez nas férias? O texto não podia ter mais de 15 linhas. Não havia liberdade. Se você tivesse longas e excelentes férias, 15 linhas eram pouco. Já se não tivesse saído de férias, 15 linhas era muita coisa.

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Mas, felizmente, tudo mudou. Hoje, temos a necessidade de repensar nosso modo de utilizar novos conceitos, novas formas de comunicação, novos gêneros textuais. E o que são gêneros textuais? Este é um conceito que busca explicar a materialização dos inúmeros textos que utilizamos em nosso cotidiano, desde mensagens telefônicas e posts em redes sociais, até entrevistas, artigos científicos, redações e outros.

Como nos ensina o filósofo Mikhail Bakhtin, gêneros textuais se definem principalmente por sua função social. São textos que se realizam por uma determinada razão em uma situação comunicativa para promover uma interação específica. Vamos então tentar fazer uma abordagem simplificada sobre a evolução pela qual vem passando esse gênero.

Os gêneros antigos eram: carta, quando precisávamos de um texto longo para dizer muitas coisas; telegrama, com textos curtos, para casos emergenciais e fax, para envio de documentos via telefone. Esses gêneros, hoje, são muito pouco usados. Na sociedade, temos necessidade de acompanhar a evolução em todos os sentidos, inclusive nos gêneros textuais que, após o advento da tecnologia, se revelaram muito mais eficientes e rápidos.

Então, como é a nossa interação nos dias de hoje? Que espécie de gêneros passamos a utilizar? Com as inovações contemporâneas e com o avanço do tempo, tudo ou quase tudo mudou em relação aos gêneros textuais. Se antes escrevíamos cartas, hoje, com a chegada da informática, enviamos e-mail. O e-mail nada mais é do que uma carta resumida ou uma adaptação virtual que dispensa papel e caneta. Surgem os chamados “gêneros digitais”.

O mundo virtual e a comunicação estão intrinsecamente relacionados e certamente antigos gêneros serão adaptados e outros novos surgirão

Na verdade, a tecnologia trouxe muitas novidades não só para a comunicação, mas também para a linguagem. No entanto, é importante observar que, embora os meios tenham sido modernizados, a estrutura da comunicação e a forma com a qual nos expressamos continuam seguindo parâmetros que estabelecem uma relação dialógica com formas textuais.

Embora novos gêneros textuais estejam surgindo, entre eles os gêneros digitais (e-mail, whatsApp, redes sociais), é interessante notar que eles preservam ainda características de gêneros já consagrados e com as mesmas finalidades, mas que se diferenciam por serem mais rápidos, eficazes e imediatos.

O WhatsApp surgiu como uma alternativa ao sistema de SMS e agora, além de textos, possibilita o envio e recebimento de áudios, fotos, vídeos além de chamadas de voz. As mensagens devem ser sempre objetivas e rápidas. Essas são algumas considerações gerais, mas, acredite, o gênero digital também tem suas normas pautadas pela ABNT e se você for usar o WhatsAppp em trabalhos científicos, é bom consultá-la antes.

Embora novos gêneros textuais estejam surgindo, muitas pessoas relatam uma certa resistência à comunicação virtual, como se esse fosse um espaço desprovido de regras, sobretudo no que diz respeito à linguagem, mas isso não é verdade. A verdade é que o mundo virtual e a comunicação estão intrinsecamente relacionados e certamente antigos gêneros serão adaptados e outros novos surgirão, o que nos proporcionará novas e ricas descobertas para o campo da linguagem.

*Dulce de Almeida Torres é graduada em Letras Inglês, Mestre em Ciências da Educação e é professora da Área de Linguagens e Sociedade da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional – Uninter

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