O governador não dá trégua ao presidente da República. Faz oposição sistemática e tenta de todas as formas desestabilizar o chefe do poder Executivo. Para seus apoiadores, ele é uma novidade na política e na administração pública. Tem o apoio da classe média e dos líderes da direita, o que o habilita a ser candidato à presidência na próxima eleição.
Ele mesmo não esconde de ninguém que é candidato e opositor ao chefe de governo. Apoia uma agenda liberal para o Brasil e se caracteriza pela pressa e rapidez com que anuncia planos no governo do seu estado, o que lhe custa forte oposição, principalmente da ala à esquerda da política brasileira. Muito ativo, está sempre no redemoinho das especulações políticas e é muito hábil para criar fatos e narrativas que ganham amplo espaço na mídia local e nacional. Julga-se o mais gabaritado para ocupar a presidência, com o apoio de seu partido, cuja máquina conseguiu dominar com o carisma e a habilidade de atender aos pedidos de prefeitos e deputados de toda ordem.
A imagem de bom administrador é a marca de sua passagem pelo governo do estado. Assim, constrói o perfil de um político enérgico, competente e que lembra bem de perto os métodos de gestão da iniciativa privada. Para tanto, pôs um breque no poderoso corpo do funcionalismo público, que domina a máquina administrativa desde os tempos antigos. Para tanto, torna obrigatório o concurso público para os cargos oficiais, ainda que não tenha poder para restringir a contratação de cabos eleitorais e apaniguados do presidente ou do Legislativo.
Seu discurso exalta as obras consideradas estratégicas capazes de fazer dele um inovador na gestão pública. Várias obras ganham exposição nacional graças ao apoio da iniciativa privada. É ao mesmo tempo a propaganda que divulga para fortalecê-lo nas eleições. Se tudo caminhar dentro da ordem democrática, chega ao poder federal assim que se desincompatibilizar do cargo que ocupa.
O governador tem a expertise de bater nos presidentes da República. Mesmo nos que já deixaram o poder, mas são considerados lideranças nacionais que podem atrapalhar os seus planos. Sua paixão definitiva é o combate político e nenhum repórter que cobre o setor pode perdê-lo de foco, haja vista que suas contundente declarações contra o presidente podem ser emitidas em entrevistas no palácio do governo ou nas inaugurações de obras públicas. Uma de suas características na vida política é que não faz acordo que não o coloque na liderança de qualquer ação.
Como muitos outros políticos, Carlos Lacerda tem o ego exacerbado, fora de controle, que o projeta como um verdadeiro moralista da República. Passa da esquerda para a direita, assume o recém criado Estado da Guanabara, foco das agitações políticas lideradas pelo presidente João Goulart, sindicados, partidos de esquerda, ala nacionalista das Forças Armadas e outras tendências próximas ao socialismo.
Lacerda é um homem de direita. Junta-se com setores da elite e do Exército que tramam a derrubada do presidente, acusado de ser comunista. Os embates chegam ao auge em 1964. Movimentos militares quebram a hierarquia, lideram passeatas e promovem reuniões. Lacerda se entrincheira no Palácio das Laranjeiras e, armado de metralhadora, espera um confronto com fuzileiros navais. A batalha não acontece, uma vez que tropas do Exército partem de Minas Gerais e obrigam o presidente Goulart a deixar o Rio de Janeiro. Começa o regime militar.
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