Português, matemática, geografia, história, biologia, educação física e… fake news. Essas são algumas das disciplinas que estarão presentes no dia a dia de escolas públicas do ensino fundamental e médio espalhadas pelo país. Fake news como matéria da educação básica? No que depender da BBC Brasil, o tema relacionado à disseminação das notícias falsas vai, sim, ganhar a sala de aula nos próximos meses. E com direito a jornalistas como professores. É o que informou a empresa de comunicação em evento realizado na terça-feira, 12, em São Paulo.
O objetivo central do projeto que a BBC traz para o Brasil é incentivar a leitura crítica de notícias entre os jovens. Ação que, entre outros pontos, visará mostrar aos estudantes como identificar um boato. Chamado pelo grupo de media literacy (alfabetização midiática, em tradução livre), o projeto faz parte da Beyond Fake News, campanha promovida internacionalmente pelo conglomerado de comunicação. A iniciativa que chegará às escolas daqui já passou por outros três países, dois africanos e um asiático: Quênia, Nigéria e Índia. Para os criadores do programa, são locais em que a propagação de notícias falsas chega a prejudicar o processo democrático e a segurança do povo.
Todo o trabalho vem do compromisso assumido publicamente pelo diretor responsável pelo serviço mundial de notícias da BBC, Jamie Angus. Ele quer mostrar aos jovens estudantes a importância de se exercer o senso crítico ao consumir conteúdo em meios tradicionais de comunicação e nas redes sociais. Para a empresa, a ausência dessa percepção no público em geral colabora para que mentiras viralizem — como se fossem reais — na internet. Algo que ocorre por meio de plataformas como Facebook e Twitter, mas também em sites obscuros, que mentem até o nome do “jornalista” que produz os boatos.
A ação de media literacy vai ao encontro da defesa do jornalismo e da informação correta que há oito décadas é feita pela empresa britânica de comunicação. É o que analisa Jamie Angus. “Há mais de 80 anos, a BBC News Brasil tem oferecido notícias objetivas e imparciais para o público do país todo. Com as notícias falsas hoje mais elaboradas e sofisticadas que nunca, entretanto, é preciso um esforço global para promover a leitura crítica de notícias”, afirmou o executivo durante o evento desta semana. “Para garantir que o jornalismo imparcial e factual não seja abafado, é preciso haver cooperação e colaboração entre veículos de qualidade, plataformas de tecnologia e formuladores de políticas públicas”, complementa o executivo.
O projeto idealizado pela BBC contará com a realização de oficinas em escolas. Também contará com exposição de vídeos em plena sala de aula e presença de jornalistas. Caberá aos comunicadores escalados para irem às escolas conversar sobre fake news com o público jovem. Levando em consideração questões de cada país, o programa no Brasil terá suas próprias especificações. De modo amplo, porém, o formato para dar início à versão nacional terá como base a realizada no Reino Unido. No país europeu, mais de 1.500 escolas foram atendidas. Para isso, contou com “repórteres aprendizes”, responsáveis por compartilhar conteúdos.
No Brasil, o trabalho desenvolvido a partir da campanha Beyond Fake News terá até com “provas” para quem estiver em sala de aula. Os responsáveis pelo projeto anti-notícias falsas informam, desde já, que serão realizados nas escolas encontros interativos, com direito a exercícios e gincanas. Atividades que terão como base exemplos reais de boatos que tiveram repercussão nacional ou até mesmo internacional. “O objetivo é ajudar os alunos a desenvolverem a habilidade de filtrar ruídos e mentiras em meio à confusão do universo digital, e refletir sobre o que estão compartilhando na internet”, reforça a equipe da BBC, que reforça: com jornalistas, quer levar a discussão sobre fake news ao âmbito da educação. Afinal, segundo Nelson Mandela, é a “arma mais poderosa do mundo”.
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