Levar adiante o mote #LuteComoUmJornalista valeu a pena para os comunicadores de Alagoas. Depois de nove dias em greve, em decorrência da ameaça de terem seus vencimentos reduzidos, os profissionais do estado nordestino conquistaram uma vitória judicial. Na tarde desta quarta-feira, 3, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) rechaçou o pedido feito por três das maiores empresas de comunicação do estado. Os grupos Gazeta, Pajuçara e Ponta Verde pleiteavam a redução do piso salarial da categoria, sobretudo para os jornalistas iniciantes, que receberiam 40% a menos do que o valor atual.
A proposta vinda por parte dos conglomerados de mídia que, respectivamente, operam as afiliadas de Globo, Record TV e SBT, foi classificada como “inconstitucional e vergonhosa”, conforme destacado pela Rede Brasil Atual. A decisão em favor dos jornalistas de Alagoas foi feita de forma unânime pelos desembargadores responsáveis por julgar o caso. Além de impedir que novos contratados por órgãos da imprensa local comecem recebendo 40% a menos do que o atual, o TRT ordenou o reajuste do piso salarial dos jornalistas em 3%. Com o desfecho por meio do poder Judicial, nenhum comunicador alagoano pode ganhar menos que R$ 3.672,22.
Outra vitória por parte dos jornalistas de Alagoas é que, além da questão do piso salarial, o TRT decidiu pela estabilidade de três meses dos profissionais. Dessa forma, as afiliadas de Globo, Record TV e SBT não podem demitir os colaboradores que aderiram à greve ao decorrer dos próximos 90 dias. Representante da classe, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas (Sindjornal) classificou o ato judicial como histórico. “Respeito, dignidade e justiça! Nossa luta, nossa garra e a coragem da maioria dos jornalistas alagoanos e o apoio da sociedade foram decisivos. VITÓRIA HISTÓRICA DOS JORNALISTAS ALAGOANOS. Orgulho de todas e todos que lutaram!”, publicou a entidade em seu perfil no Twitter.
Para muitos comunicadores, a decisão vai muito além de impactar o meio da imprensa alagoana. A luta em prol dos jornalistas pode comover o Brasil inteiro, analisam. “O Jornalismo saiu vitorioso hoje. Não só não haverá redução salarial como ainda haverá aumento”, comenta o jornalista e mestrando em educação Eduardo Almeida. “Viver essa greve me fez lembrar o quanto temos que valorizar as pessoas, aquelas que trabalham ao nosso lado e que sabem as dores e as delícias do nosso ofício”, destacou Rosa Ferro. Em meio a mensagens de apoio a Glenn Greenwald, a hashtag #LuteComoUmJornalista, promovida pelo Sindjornal desde a semana passada, ocupou a lista de assuntos mais comentados no Twitter no Brasil.
A decisão por parte do Tribunal Regional do Trabalho faz com que os jornalistas de Alagoas — sobretudo os empregados dos três grupos de comunicação envolvidos no imbróglio — voltem às suas atividades habituais na imprensa. Desde a última terça-feira, 25 de junho, em meio ao estado de greve, as afiliadas de Globo, Record TV e SBT não tiveram como produzir novos conteúdos informativos — ao menos em quantidade que dessem para preencher as faixas horárias de seus telejornais.
Os canais tiveram de apresentar ao público reportagens “requentadas” e se viraram com os poucos profissionais que não aderiram ao movimento grevista. No caso da TV Gazeta, que é mantida pela família de Fernando Collor de Melo, contratou Sofia Sepreny às pressas para conduzir um de seus telejornais. Ao debutar como apresentadora da emissora, Sofia disse que o cantor Gabriel Diniz morreu porque teria sido vítima de uma “queda de caminhão”. Na verdade, o artista faleceu, em maio, em decorrência de acidente aéreo. Com o fim da greve, a contratada às pressas deve perder seu posto na bancada da afiliada da Globo, uma vez que os demais jornalistas voltam a trabalhar com a certeza de que não terão seus salários reduzidos.
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