Rubens Valente, Andreza Matais e Thiago Prado vão falar um pouco de seus trabalhos jornalísticos. Painel sobre cobertura da operação Lava Jato será realizada no 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Organizado pela Abraji, o evento está com inscrições abertas
A Operação Lava Jato já passa da 50ª fase. São centenas de acusados e condenados, bilhões de reais em bens bloqueados e mais de mil procedimentos instaurados. Ao longo de seus mais de quatro anos, a operação contou com publicização e cobertura midiática intensa. Os sites de vários veículos disponibilizam especiais sobre a investigação, que é recorrentemente capa de revistas semanais e ganhou espaço garantido na “página quatro” dos principais jornais do país.
No terceiro dia do Congresso da Abraji (sábado, 30 de junho), três repórteres que acompanharam (e acompanham) de perto as investigações farão um balanço da cobertura jornalística sobre a operação, com moderação de Guilherme Amado (JSK Stanford/O Globo), no painel “Os erros e acertos da cobertura da Lava Jato”.
Na opinião dos três, a cobertura tem dado mais certo do que errado.
Para Rubens Valente, o noticiário focado na Lava Jato acertou ao ser extensivo e intensivo, “trazendo luz aos principais fatos da investigação” e “permitindo ao país conhecer a profundidade dos esquemas criminosos, acentuando a importância da operação”. É de Valente a reportagem sobre as conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com Romero Jucá, José Sarney e Renan Calheiros, que falavam sobre “estancar a sangria” e em “um grande acordo nacional” com “o Supremo, com tudo”. O material foi publicado na Folha de S. Paulo.
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Andreza Matais, editora da ‘Coluna do Estadão’, considera que a transparência dada por Sergio Moro ao processo contribuiu para que a cobertura tivesse essa característica. “Isso permitiu aos jornalistas (e também aos interessados) conhecer a investigação como um todo. Com tudo escancarado foi possível checar os dados, questionar, apontar falhas, cruzar informações”, aponta a repórter. “Não era muito comum a PF, por exemplo, dar coletiva explicando suas operações. Geralmente se soltava apenas um release. Isso mudou na Lava Jato. Foi um avanço para evitar erros”, afirma.
Em março de 2016, Andreza revelou que o ex-presidente Lula usava cobertura em São Bernardo que foi comprada por primo de José Carlos Bumlai, amigo pessoal do político e preso na Operação. No final do mesmo ano, publicou que José Yunes, ex-assessor de Temer, recebera R$ 1 milhão de Lúcio Funaro, também preso na Lava Jato.
Andreza Matais: “não era muito comum a PF, por exemplo, dar coletiva explicando suas operações”
A mesa ainda contará com Thiago Prado, repórter do jornal O Globo. Prado foi quem deu o furo sobre um apartamento do então diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. A reportagem foi citada pelo juiz Sergio Moro, no julgamento de Cerveró, como base para uma das condenações do executivo.
“A Lava Jato é uma investigação que trouxe, pela primeira vez, qualidade de provas e de documentos muito grande. Fez com que a imprensa tivesse muito material, de mais qualidade”, afirma Prado. “Independente das consequências, se o político foi preso ou não, [a Operação] foi importante para a imprensa, porque trouxe mais pluralidade para o noticiário em relação a personagens que antes não apareciam”, aponta o repórter do Globo.
Andreza pondera que, se por um lado a vasta quantidade de informações oficiais sobre a Lava Jato trouxe benefícios, por outro provocou “uma dependência dos jornalistas dos documentos produzidos pelos investigadores, em detrimento de uma produção própria”. Prado vai na mesma linha: “Houve um excesso de informação que muitas vezes não teve a curadoria adequada”, diz.
Ponderações
Para Prado, no hard news é difícil fugir dessa dependência. “No calor do momento, quando há denúncia, nas primeiras horas, nos 2 dias seguintes, é quase impossível sair do ‘oficialesco’. Acaba sendo a aspa do depoimento. Mas tem que continuar buscando, e os veículos têm feito isso. O ponto principal é não deixar o assunto morrer”, aponta.
Valente não considera que a utilização das informações de órgãos públicos tornou a cobertura refém do “oficial”. “A cobertura implicou vários níveis e focos. Um deles era, necessariamente, o acompanhamento das atividades normais dos órgãos no andamento da Lava Jato. Havia um interesse público e jornalístico óbvios em saber como essas corporações estavam encaminhando suas investigações e a imprensa cumpriu o seu papel de mapear e acompanhar o desenrolar da história”, afirma o jornalista da Folha de S. Paulo.
Na opinião de Valente, porém, a cobertura esbarrou em algumas limitações: “Em uma situação ideal, a imprensa deveria ter reunido recursos financeiros e humanos suficientes para correr atrás de mais boas histórias próprias. Isso foi possível em alguns bons momentos da cobertura, mas talvez não com a frequência que seria desejável”, aponta o jornalista.
Matais complementa. “É difícil competir com a Lava Jato, que pode quebrar sigilos, tem delatores, está anos-luz à nossa frente, mas não é impossível e não podemos nos acomodar. Revelar uma linha da Lava Jato não é fazer jornalismo investigativo, na minha opinião. Revelar algo que faça a Lava Jato correr atrás, sim”, aponta.
13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo
Quando:
Dias: 28, 29 e 30 de junho de 2018
Onde:
Universidade Anhembi Morumbi
(Rua Casa do Ator, 275 – Vila Olímpia | São Paulo – SP)
Inscrições:
No site congresso.abraji.org.br
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Por Rafael Oliveira.