Afinal, o que é um portal? E por que jornalistas insistem nesse nome?

Criados nos anos 90 para designar um conjunto de diferentes conteúdos em um mesmo site, os portais de notícias fizeram muito sucesso. Com os anos e avanços tecnológicos, o termo “portal” deixou de ser popular, mas segue no imaginário do jornalista. Afinal, faz sentido manter este título?

De acordo com análise no Google Trends baseada em dados a partir de 2004, o termo “portal de notícias” é pouco pesquisado. Em uma escala de 0 a 100, o volume de buscas por estas palavras alcançou, no máximo, o valor 1. Outros termos como “blog” e “notícias”, no entanto, o superam com valores de 100 e 50, respectivamente.

A palavra ‘portal’, no entanto, continua viva. Em 2007, o Grupo Globo inaugurou o G1, descrito como um Portal de notícias da emissora. Além dele, encontramos outros como o R7 (portal de notícias da Record), o Metrópoles, e nós, o Portal Comunique-se.

Para o pesquisador em comunicação e professor da Universidade Anhembi Morumbi, André Rosa, o termo pode ser adequado, apesar de ser anacrônico. De acordo com ele, a palavra remete a características presentes nos sites dos primórdios da web. “Naquele momento, fazia sentido você diferenciar um tipo muito específico de sites. Ou seja, aquele que apresentava a maior quantidade de coisas possíveis para o seu usuário, de outro qualquer”, esclarece.

O jornalista do jornal Washington Post, Sérgio Peçanha, também compreende a adequação da palavra portal, tendo em vista que caracteriza um tipo específico de site, mas acredita que sua relevância é maior para os jornalistas do que para o público.“Talvez a preferência pelo termo portal seja um reflexo das empresas por trás desses sites. O ‘Globo.com’, por exemplo, é a face digital de uma empresa enorme, com várias redações diferentes. Então, é realmente um portal. Mas acho que não importa muito para os usuários como os jornalistas chamam”, explica.

Novos portais no Brasil

No Brasil, os portais seguem surgindo e fazendo sucesso, mas algumas diferenças podem ser vistas com relação aos criados nos anos 90. Naquele período, era comum que os portais fossem direcionados a um público amplo e abordassem temas de diversas áreas. Hoje, este é um formato adotado também pela mídia local ou de nicho.

Um exemplo é o Portal Grande Tijuca, lançado no dia 1º de maio, com o objetivo de levar informações aos moradores da região do bairro que leva o mesmo nome, no Rio de Janeiro. Rapidamente, o portal caiu nas graças dos moradores e foi considerado um grande “síndico dos bairros”. Em três meses, o site já alcançou mais de um milhão de acessos.

“Sabemos o quanto o jornalismo anda com redações sendo exterminadas. Nesse processo de reinvenção, quatro jornalistas apostaram neste formato e vem alcançando bons resultados. Uma média superior a 300 mil acessos mensais, numa região que tem 415 mil habitantes, segundo o último Censo. E com empresas interessadas em anunciar conosco”, afirmou Rodrigo Rebechi, um dos editores do portal.

Quando surgiram?

Com surgimento no Brasil em 1996, os portais noticiosos representam a união de diferentes conteúdos, sites e subsites em um mesmo lugar. André explica que o nome era dado a sites que reuniam diversos serviços, como notícias e e-mail. “O conceito era esse: uma porta de entrada para a internet, a web. Um lugar em que você poderia encontrar, em um único endereço, tudo que precisa de fato”, afirma.

O mais antigo deles é o UOL, inicialmente chamado de Universo Online. De acordo com a história do site, em seu surgimento, reunia “serviço de Bate-papo, edição diária da Folha de S. Paulo, arquivos da Folha com cerca de 250 mil textos, reportagens do The New York Times (traduzidas para o português), Folha da Tarde e Notícias Populares, Classificados, Roteiros e Saúde e a revista IstoÉ”. Ele também foi pioneiro na produção de conteúdo para a internet, considerado o primeiro jornal online em tempo real do país.

Pouco tempo depois, em 2001, foi criado o Portal Comunique-se. O fundador e CEO do Grupo, Rodrigo Azevedo, conta que na época, sites eram considerados pequenos e simples, enquanto portais eram maiores. Pensando nisso, a empresa já nasceu grande, com várias editorias, colunistas e ferramentas para os usuários. “O motivo de ter recebido este título de “portal” é simples: era um portal. Basicamente, é a minha mania de pensar grande. Já havia alguns micro sites e queríamos sair do comum”, lembra.

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Hoje, 24 anos depois, a empresa segue como uma das principais do Brasil, mas deixou de intitular-se “portal de comunicação”. A referência ao site é apenas pelo nome ‘UOL’, assim como já era feita pelos usuários.

A mesma mudança também começou em portais de outros segmentos. Um exemplo é o Portal do Ministério da Educação (MEC), que anuncia em seu próprio site a migração para a plataforma única do Governo Federal. “Portal do MEC, agora, é gov.br/mec”, apresenta.

Uso do termo pelo mundo

Na América Latina, portais de notícia também são comuns em mais países. Na Colômbia, o jornal ‘El Tiempo’, um dos principais do país, se descreve como um portal. Já em outros países, como Estados Unidos e Espanha, a denominação de veículos noticiosos como portais não é comum. Apesar de utilizarem o conceito, em busca realizada pelo Comunique-se, não encontramos veículos que se descrevem desta forma.

“Trabalhei no New York Times e agora estou no Washington Post. O termo usado é apenas ‘website’, que é o que chamamos de ‘site’ no Brasil. A palavra ‘portal’ não é usada nessas redações e, hoje em dia, é pouco usada aqui em geral”, relata Peçanha.

Ele, no entanto, afirma que além das discussões acerca desta palavra, o que importa é a qualidade do serviço prestado à sociedade. “Para a maioria dos usuários, não acho que importa muito se você chama de site ou de portal. O que importa mesmo é se você presta um serviço útil e de qualidade”, enfatiza.

A diferença entre portal e site

O conceito de ‘portal’ refere-se à utilização de um endereço web que concentra diversos tipos de conteúdos, como notícias e entretenimento de diversos focos ou editorias, além de subsites com diferentes objetivos. A sua principal característica e o que o diferencia de um site comum é o fornecimento de conteúdos voltados a um público específico. Para isso, os portais podem ser de duas categorias: horizontais ou verticais.

O primeiro caso, dos portais horizontais, refere-se à presença de conteúdos sobre vários assuntos, como no Globo.com, R7 ou UOL. Apesar desta diversidade temática, o foco em um mesmo público se mantém. Os portais verticais, no entanto, são caracterizados pela abordagem de um assunto específico, como o Portal Comunique-se, no qual são encontrados diferentes conteúdos sobre um mesmo tema: a comunicação.

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Julia Renó

Jornalista. Natural de São José dos Campos (SP), onde vive atualmente, após temporadas em Campo Grande (MS). Formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MS) e voluntária da ONG Fraternidade sem Fronteiras, integrou o time de jornalistas do Grupo Comunique-se de julho de 2020 a abril de 2022.

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