Depois do sucesso com Silvio Santos – A trajetória do mito, Fernando Morgado apresenta seu mais novo trabalho no mercado editorial. Desde meados de outubro, o jornalista vê o livro Comunicadores S. A. disponível para venda. Distribuída pela Matrix Editora, a obra se propõe a contar as histórias de oito dos principais apresentadores de TV do país. Mas histórias que vão para além do que é mostrado na telinha. A publicação se atenta ao talento empresarial da turma composta por Ana Maria Braga, Augusto Liberato (Gugu), Carlos Massa (Ratinho), Fausto Silva (Faustão), Luciano do Valle, Luciano Huck, Raul Gil e Silvio Santos.
Professor universitário e membro da Academy of Television Arts & Sciences, entidade realizadora dos prêmios Emmy, Fernando Morgado revela que a ideia de produzir um livro contando como apresentadores de televisão se desenvolveram como “verdadeiras máquinas de vendas” surgiu há dois anos, logo após a publicação da biografia sobre o dono do SBT. Ideia essa que consumiu muito o tempo do autor ao decorrer dos últimos 24 meses. Para chegar ao resultado final, distribuído em 192 páginas, o jornalista revela que coletou e analisou mais de 1,3 mil áudios, vídeos, entrevistas, documentos e reportagens publicadas em jornais e revistas. Além disso, realizou suas próprias entrevistas.
Fernando Morgado salienta que o livro passa longe de ser um trabalho laudatório em prol dos oito apresentadores. Comunicadores S.A. relembra fracassos protagonizados pelos animadores de TV no meio empresarial. “Fiz questão de tratar também dos negócios que não deram certo porque empreender envolve riscos”, conta o jornalista e escritor em entrevista exclusiva à reportagem do Portal Comunique-se. Problemas que foram superados e que podem ajudar a inspirar quem — sendo ou não da área de comunicação — busca empreender. “Tão importante quanto narrar as derrotas, foi contar com eles deram a volta por cima e se recuperaram. Isso certamente trará muitos ensinamentos para quem tiver contato com o Comunicadores S.A.“, comenta o autor.
E entre fracassos e sucesso no mundo dos negócios, Comunicadores S.A. apresenta ao leitor curiosidades envolvendo as carreiras empresariais dos oito apresentadores de TV. Algumas, o autor do livro adianta para a reportagem do Comunique-se. “Poucos sabem disso, mas Ana Maria Braga também é bióloga e quis usar seus conhecimentos na área para estimular no Brasil a produção e o consumo de carne de rã, que é considerada bastante saudável”, conta Fernando Morgado sobre o negócio que não foi muito para frente. Assim como a tentativa de Gugu em tentar fazer dinheiro por meio de venda de suco de banana em Portugal. Faustão, por sua vez, foi o responsável por trazer para o Brasil a raça canina cane corso.
Essas e outras histórias estão detalhadas nas páginas de Comunicadores S.A., que pode ser adquirido diretamente pelo site da Matrix Editora. Sobre o trabalho de pesquisa e suas análises sobre os oito apresentadores em destaque na obra, Fernando Morgado fala ao Portal Comunique-se. Confira, abaixo, a entrevista:
Quando surgiu a ideia de contar as histórias de famosos apresentadores brasileiros no âmbito do empreendedorismo?
Em 2017, lancei o livro Silvio Santos – A trajetória do mito, que teve cinco edições, entrou em diversas listas de mais vendidos, incluindo a da revista Veja, e abriu um novo filão no mercado editorial brasileiro. Na época, percebi que os leitores tinham muito interesse em conhecer não apenas o lado artístico, mas também o empresarial dos apresentadores. Claro que Silvio Santos foi o que mais se desenvolveu nesse aspecto, mas outras figuras da TV também se transformaram em verdadeiras máquinas de vendas. Foi, portanto, a combinação entre o interesse do público e a fartura de artistas-empreendedores no Brasil que me motivou a escrever o Comunicadores S.A..
Um livrorreportagem demanda tempo de pesquisa, trabalho de campo e, claro, produção textual. Você ficou quanto tempo dedicado à obra? Qual foi a parte que mais lhe chamou a atenção?
Estudo comunicação e marketing há mais de quinze anos e Comunicadores S.A. é resultado direto dessa jornada. Já a escrita propriamente dita demandou dois anos, iniciados após o lançamento do livro Silvio Santos – A trajetória do mito. Meu maior desafio foi conciliar esse trabalho com os outros que tenho, pois também sou professor universitário, palestrante e consultor.
O que mais me chamou atenção durante a pesquisa foi perceber o quanto os artistas populares já foram alvo de preconceito, inclusive por parte do mercado publicitário. Demorou até que esses apresentadores passassem a ser verdadeiramente respeitados pelo trabalho que faziam e pelos resultados comerciais que geravam.
A obra conta a vertente comercial de Ana Maria Braga, Faustão, Gugu Liberato, Luciano do Valle, Luciano Huck, Ratinho, Raul Gil e Silvio Santos. O que te fez chegar a esses nomes?
Para fazer a seleção dos artistas, estabeleci uma série de critérios, com destaque para a longevidade das suas carreiras e a notoriedade ganha nos últimos tempos pelas suas atividades paralelas ao vídeo. De todo modo, além dois oito apresentadores que ganharam capítulos exclusivos, cito outros 30 nomes no prólogo, deixando claro que posso tratar deles de forma mais aprofundada em livros futuros.
Para o resultado final, você realizou quantas entrevistas? Quais foram as mais curiosas? Por quê?
Para o Comunicadores S.A., coletei e analisei mais de 1,3 mil áudios, vídeos, entrevistas, documentos e reportagens de jornais e revistas. Isso incluiu, por exemplo, a longa entrevista que fiz com Raul Gil, que me recebeu em seu escritório no bairro paulistano de Moema. Essa conversa rendeu muitas histórias inéditas para o livro.
Comunicadores S.A. traz não só cases de sucesso nas carreiras desses oito profissionais. Há relatos de fracassos também. O que levou a essa decisão editorial?
Fiz questão de tratar também dos negócios que não deram certo porque empreender envolve riscos. Perder e ganhar são dois lados de uma mesma moeda. Escrever sobre o mundo dos negócios ignorando isso seria iludir o leitor. Por outro lado, tão importante quanto narrar as derrotas, foi contar com eles deram a volta por cima e se recuperaram. Isso certamente trará muitos ensinamentos para quem tiver contato com o Comunicadores S.A..
Na hora de transformar as pesquisas em texto final do livro, quais foram os pontos em comum que você percebeu na trajetória desses profissionais dentro e fora da televisão?
De todos os pontos em comum que percebi, gostaria de destacar um: o fato deles terem conseguido distribuir suas energias de forma equilibrada para os lados artístico e comercial das carreiras que abraçaram. Esses oito apresentadores foram os que melhor compreenderam que a televisão é, antes de tudo, um negócio. Isso parece óbvio, mas não é. O erro mais comum que vejo artistas cometerem é o de ignorarem a importância da relação com agências e anunciantes.
Na parte empresarial, esse pessoal tem histórias um tanto quanto incomuns… Pesquisa em relação à comercialização de carne de rã, suco de banana, nova raça de cachorro… Como ocorreram esses e outros casos curiosos?
Ao mesmo tempo em que se relacionavam com emissoras, agências e anunciantes, muitos apresentadores abriram seus próprios negócios. Uns foram motivaram por boas oportunidades surgidas quase que por acaso, como foi o caso de Silvio Santos quando se tornou sócio do Baú da Felicidade. Já outros entraram em setores com os quais tinham alguma ligação de ordem pessoal.
Por exemplo: poucos sabem disso, mas Ana Maria Braga também é bióloga e quis usar seus conhecimentos na área para estimular no Brasil a produção e o consumo de carne de rã, que é considerada bastante saudável. Gugu, por sua vez, investiu na venda de suco de banana em Portugal, país onde nasceram seus pais. Faustão foi o responsável por trazer para cá a raça cane corso, que conheceu durante uma viagem à Itália.
Você mostra que no início da década de 1970 agentes da ditadura militar consideravam Silvio Santos como “subversivo”. Ele chegou a ter sua carreira como comunicador e homem de negócios ameaçada por isso? Como ele conseguiu se safar dessa?
Sim. Pesquisando nos arquivos do SNI, descobri que o regime militar quis desfigurar o ‘Programa Silvio Santos’, obrigando-o a ser gravado, mais curto e sem plateia. Silvio, então, enviou uma carta ao então ministro das Comunicações, Hygino Corsetti, na qual defendeu a produção que fazia, os empregos que gerava e a diversão que dava ao povo. Fiz questão de incluir no livro a reprodução de todos os documentos que comprovam esses acontecimentos.
Ao seu ver, Comunicadores S.A. pode ajudar jornalistas e demais profissionais da comunicação na hora de empreender? Por quais razões?
Sem dúvida. As situações que narro no livro servem de inspiração para profissionais de comunicação pensarem novos negócios a partir dos trabalhos que já realizam. O importante é deixar de lado qualquer possível preconceito que se tenha com o lado comercial da profissão. É fundamental encarar o mercado publicitário como parceiro, e não como inimigo, na hora de desenvolver empreendimentos calcados na produção de conteúdo. Além disso, o livro mostra que é possível conciliar liberdade criativa e editorial com receita comercial. Digo mais: independência financeira é o que de fato garante liberdade criativa e editorial.
Com o livro pronto, qual a sua análise: essa turma se destaca nos negócios porque manda bem na apresentação ou se consolida na telinha por ter talento empreendedor? Por quê?
Por ambas as razões. A grande lição que Comunicadores S.A. deixa é justamente essa: não basta ser um bom comunicador sem ser um bom negociante e não basta ser um bom negociante sem ser um bom comunicador. Quem descuida de um dos lados não consegue se desenvolver. O tempo de carreira e os ganhos financeiros dos artistas que trato no livro são provas incontestes disso.
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