Por Katherine Pennacchio. Reportagem publicada originalmente no site do LatAm Journalism Review
Conseguir agendar e conversar por meia hora com uma jornalista com uma longa carreira e poder receber conselhos dela sobre seu futuro profissional parece não ser muito fácil. No entanto, atualmente é possível graças às mentorias da Women In The News Network (WINN).
Leia mais:
- O que editores devem fazer em prol da diversidade e inclusão?
- 5 iniciativas inovadoras para ampliação e retenção da audiência
- Para a maioria dos jornalistas, formação na área é importante para podcasts
É tão simples quanto acessar seu site, acessar a seção de mentoria e escolher entre as 17 jornalistas e editoras que oferecem seu tempo para orientar mulheres da América Latina vinculadas a meios de comunicação. A palavra mentoria, derivada do termo mentor, é definida pelo dicionário acadêmico da Real Academia Espanhola como ‘conselheiro ou guia’. De acordo com o dicionário Oxford, o verbo to mentor, do qual deriva mentoring, significa “aconselhar e treinar alguém, geralmente mais jovem”.
Na página da WINN você também pode buscar mentorias por categoria, que incluem planejamento de carreira, jornalismo freelance, estratégia em redes sociais, jornalismo de dados, jornalismo investigativo, perspectiva de gênero e jornalismo especializado.
Para solicitar uma mentoria, você deve solicitar uma adesão gratuita à WINN e o sistema te levará ao calendário da mentora com seus dias e horários disponíveis para uma chamada online.
“A WINN nasceu em 2018 como uma rede para promover a inovação digital na mídia. Como parte do meu trabalho na Accenture Argentina, apresentei um estudo para 25 mulheres jornalistas sobre como a colaboração e a tecnologia podem ajudar a reduzir a diferença salarial entre homens e mulheres. A partir desse encontro, surgiu a WINN. Começamos fazendo treinamentos, realizando encontros presenciais (especificamente na Argentina) e virtuais, dando bolsas para checagem de fatos e programação. Naquela época, lançamos um programa de mentoria, mas não teve muito sucesso”, disse Gabriela Oliván, fundadora do WINN, à LatAm Journalism Review (LJR).
“Olhando em perspectiva, acreditamos que a proposta não foi bem feita e os temas da conversa não ficaram claros, e a rede não tinha a maturidade que tem hoje. Agora, a rede é composta por mais de 3.200 jornalistas de todo o mundo. Então, como acreditamos muito na colaboração, no networking, relançamos a mentoria com uma rede muito mais robusta e tentamos corrigir esses erros iniciais”, acrescentou Oliván.
O programa de mentoria foi lançado em 30 de novembro de 2021 e, até a data de publicação deste artigo, realizaram em média 20 sessões de mentoria de 30 minutos cada.
O poder da colaboração
As mentoras da WINN são jornalistas de vários países da América Latina – Argentina, Colômbia, Chile, México – e também Inglaterra, e trabalham em meios de comunicação reconhecidos como BBC Mundo, La Nación de Argentina, El Mercurio, CNN, Forbes, entre outros.
Todas as jornalistas mentoras participam colaborativamente do projeto sem receber qualquer pagamento e foram selecionadas e convidadas a participar pelo Conselho Consultivo da WINN.
Oliván acredita profundamente no poder da mentoria e, além de ser a fundadora da WINN, também oferece seu tempo como mentora, apesar de não exercer a profissão de jornalista. “Estou convencida do poder de ajudar umas às outras. Acho que é o único caminho. Mas na América Latina não há muito essa cultura de mentoria. Na WINN tentamos fazer essa mudança cultural”, disse Oliván.
Ela disse ainda que, até o momento, realizou quatro mentorias e, no caso dela, a maioria das jornalistas busca seus conselhos para dar o salto do jornalismo para o mundo corporativo, embora não seja necessariamente algo que a WINN busque promover.
Troca de experiências
Jornalista mexicana radicada no Reino Unido que trabalha para a BBC Mundo, Laura García conversou com a LJR sobre sua experiência como mentora. Garcia havia feito três mentorias para a WINN no momento da entrevista e descreve sua experiência como positiva.
No caso dela, explicou, as jovens que a consultaram não chegam com uma exigência específica, mas com muitas dúvidas sobre sua trajetória profissional. “Eles têm muitas dúvidas sobre se estão fazendo a coisa certa, se estão perdendo ou ficando sem tempo, ou se estão ou não tomando a decisão certa”, disse Garcia.
“Normalmente conversamos por mais de meia hora por prazer e saímos, as duas partes, mais calmas, mais relaxadas, com mais energia e acreditando mais no nosso trabalho”, acrescentou a jornalista.
Mentoria e terapia
Francis Peña é jornalista multimídia venezuelana e conheceu as mentorias por meio de uma colega. Ela decidiu marcar uma consulta porque, depois de tirar um ano sabático de seu trabalho como jornalista, ela está pronta para criar estratégias para voltar a escrever, revender artigos para a mídia e construir sua marca pessoal.
“Minha experiência foi super agradável. Minha mentora foi Laura Garcia. Eu a escolhi porque vejo sua carreira como um exemplo de onde eu gostaria de ir no futuro e ela trabalha nos formatos (multimídia) que eu gostaria de continuar explorando”, disse Peña à LJR.
Peña vê as mentorias como uma oportunidade para obter orientação de alguém que ela admira e respeita, e também para fazer networking. “Acho que é uma experiência que fazia muita falta. Especialmente para as mulheres latinas que querem de alguma forma ‘chegar lá’ no mundo jornalístico. É interessante conversar com pessoas que conseguiram surfar muito dos desafios que devem ser enfrentados, sendo latinas e mulheres, dentro da profissão”, disse Peña.
Mariel Lozada, subeditora em espanhol da Rede Global de Jornalismo Investigativo (GIJN, na sigla em inglês), também agendou uma mentoría da WINN e concorda com Peña sobre a importância de ter uma orientação e conversar com alguém com mais experiência dentro da profissão.
“É sempre útil conversar com uma jornalista alguns anos mais velha que você, porque muitas vezes você tende a fazer tempestada em copo d’água com problemas que, com o passar do tempo, você percebe que não são tão graves. Falar sobre isso com outra pessoa te dá outra perspectiva. Por isso também digo que a mentoria foi uma espécie de terapia”, explicou Lozada à LJR.
A mentoria não serve apenas como terapia para quem a recebe, mas também para as mentoras.
“Faltam espaços para pedir ajuda, para perguntar, para nos ajudar mutuamente. Aprendo muito conversando com as pessoas que oriento. E também se torna uma espécie de terapia. Neste espaço confirmamos que não estamos loucas, que estamos todas lutando contra a indústria e que é difícil ousar perseguir seus sonhos”, disse García.
“Me dá gosto poder ajudar alguém a recuperar essa autoconfiança que sei que às vezes me faltou e que outras pessoas me ajudaram a encontrá-la”, acrescentou a jornalista.