Um dos temas mais importantes – talvez o mais importante – das mídias hoje é a disseminação de notícias falsas pelas redes sociais. Algumas das melhores cabeças do mundo estão buscando soluções. O que se tem de concreto é o seguinte: o jornalismo está em alta justamente por ter como missão (muitas vezes não consegue) buscar um mínimo de precisão.
Quero compartilhar aqui minha investigação – e certamente vai ajudar os mecanismos de combate à falsidade. Dirigentes do MBL (talvez por serem muito jovens e não saberem que eu, como repórter, ganhei os principais prêmios dentro e fora do Brasil por minhas reportagens investigativas) começaram a disseminar contra mim notícias obviamente mentirosas. Deixei correr para descobrir as pistas, sabendo que, por inexperiência, rastros seriam deixados.
Vi, então, que um dos disseminadores das mentiras é o líder do MBL, Fernando Holiday. Numa conversa telefônica (gravada), ele me revelou que o texto não era dele. Mas “concordava”. Perguntei-lhe, então, já que ele tinha tanta certeza, qual era sua fonte de informação. Revelou: Jornalivre.
Bastava ele dizer para mim: “peço desculpas, fui induzido a erro”. Tudo teria acabado aí. Não: com mais ferocidade, ele gravou um vídeo reafirmando todas as acusações. Achei estranho. Como estudante de Direito, ele deveria desconfiar de sua fragilidade numa ação de indenização por danos morais. Essa ferocidade aguçou minhas desconfianças.
Pode-se acusar Holiday de qualquer coisa. Menos de burro. Ele tem, no seu universo, uma trajetória de sucesso: venceu as barreiras criadas por ser pobre, negro e gay. Nesse ponto, admito, eu até o admiro. E, sinceramente, apesar de ele ter ideias muito diferente das minhas, também aprecio quem se dispõe a lançar debates contra a corrente – acho que esse tipo de provocação ajuda uma reflexão coletiva.
Por que ele insistiria em manter falsidades que daria para desmontar em 30 segundos? Ele escreveu, por exemplo, que eu tenho um “boteco” na Vila Madalena. Fiz um desafio nas redes sociais que chamou a atenção de centenas de milhares de pessoas: quem provar que eu tenho esse tal “boteco” pode ficar com o imóvel. Gerou então uma caça à comprovação.
Sabia que, ao fazer o desafio, rastros seriam deixados pelos responsáveis dessa engrenagem de fake news para provar que seria mesmo um “boteco”. Perfis falsos começaram a surgir usando o mesmo estilo de escrita de pessoas que eu já conhecia.
Comecei a investigar o Jornalivre que, recentemente, saiu numa lista de sites falsos. O site não é registrado no Brasil. Até aí, ok. Não tem expediente. Nem contato. Fui mais longe e colhi fortes indícios de que a fonte original é um publicitário de uma grande agência de publicidade brasileira, banido desta página por ser um hater. Descobri comunicação, via redes sociais, entre esse publicitário e dirigentes do MBL. Quando tiver as provas materiais, darei o nome. Vocês vão ficar surpresos em saber que alguém assim ocupa um cargo tão importante numa agência tão importante.
Como um site que não tem expediente – ou seja, um responsável – pode ser fonte confiável? Ainda mais para um homem público? Assim se vê a trilha. Monta-se um site falso, impossível de responsabilizar alguém – e uma rede dissemina.
Aviso: essa canalhice digital ocorre à esquerda e à direita.
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Gilberto Dimenstein. Jornalista, escritor e empreendedor. Ao longo de sua carreira, foi contemplado com diversas premiações nacionais e internacionais, incluindo troféus no Prêmio Comunique-se. Na imprensa, colaborou com a Folha de S. Paulo por 28 anos, integrou o time de colunistas da CBN e idealizou o site Catraca Livre.
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