Em novo artigo publicado pelo Portal Comunique-se, o “Mestre do Jornalismo” Heródoto Barbeiro aborda questões que envolvem nacionalismo e xenofobia
Exportar era a desgraça do Brasil. Tudo o que a colônia produzia era enviado para o mercado europeu. De um lado não havia mercado interno na possessão portuguesa, de outro a metrópole ganhava na intermediação da venda dos produtos. Assim, açúcar, fumo e algodão eram produzidos para atender o comércio internacional e deixava em sua esteira a pobreza, a escravidão e as grandes propriedades rurais nas mãos da elite fundiária.
A economia brasileira estava voltava para o mercado externo e os preços dos produtos eram negociados com os poderosos compradores. Com isso a colônia era uma exportadora de riqueza e acumuladora de miséria. Esse quadro atravessou três séculos. Estava adequado aos parâmetros do mercantilismo onde a riqueza se acumulava com a balança comercial favorável, e o saldo convertido em metais preciosos. Os portos eram fechados para combater o contrabando e as rendas da coroa. Portanto o comércio era identificado pelos colonos com a exploração.
Com o advento da República, foram eleitos dois vilões para o subdesenvolvimento nacional: a agricultura e a exportação . Por isso o governo provisório tentou romper com a economia do império e partir para a industrialização e o desenvolvimento do mercado interno. Contudo para sediar uma revolução industrial no solo pátrio era necessário mais do que uma sacola de boas intenções. Simultaneamente seria preciso capitais para financiar o industrialismo e que a população tivesse poder aquisitivo para comprar os produtos.
Seria uma industrialização tardia, mas nesse mesmo período os estados alemães e o Japão desenvolviam suas próprias revoluções industriais. Infelizmente, o projeto do ministro da fazenda, o Encilhamento, terminou em uma grande bancarrota onde as empresas criadas só existiram no papel e uns espertinhos ganharam dinheiro especulando na bolsa do Rio de Janeiro. Em tempo, o ministro era Rui Barbosa.
Segundo a Organização Mundial do Comércio, atualmente o Brasil representa apenas 1% de tudo o que se compra e vende no mundo. A soma das exportações e importações representam apenas 25% do Pib brasileiro. Países como China, Chile,Espanha e Tigres Asiáticos cresceram graças as importações e inserção nas cadeias produtoras mundiais. O Brasil do século 20 gastou milhões em promoção com produtos nacionais em feiras e estímulo às exportações. Mas os governos do século 21 optaram pelo mercado interno que teria salvo o Brasil da recessão de 2008.
Assim, o nacionalismo se misturou com a xenofobia, a ameaça da intervenção das multinacionais, como se elas já não estivessem por aqui. Por isso optou-se pela negociação apenas entre governos. Obviamente uma postura ideológica, com a expansão da intervenção do Estado na economia. Esta é mais uma decisão que o país vai ter que tomar.
Se olhar para o contexto mundial o Brasil vai ver que os que optaram pela internacionalização da economia tiveram mais sucesso dos que se agarraram ao mercado interno. Se optar pela abertura vai ter que investir em infraestrutura e incentivar empresas de vocação exportadora. Isto não significa desistir do mercado interno, mas planejar uma forma eficiente o que os dois tem de melhor.
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