O clima não está nada bom – por Marli Gonçalves

Relaxe. Inspire. Respire fundo. Espirre. Dê aquela tossidinha. Olhe para o céu. Não se assuste se ele estiver avermelhado, pode até ser os seus olhos que já andam mesmo muito irritados. Não se assuste se o dia de repente virar noite como ocorreu em São Paulo, e se a água preta, preta, pretinha da chuva que caiu tiver manchado sua roupa no varal. Vai falar e sua boca estará seca. Eles dizem que isso não quer dizer nada, que é intriga da oposição

A coisa está mesmo feia, periclitante. As mudanças climáticas estão sendo claramente sentidas em todo o mundo e esse mesmo mundo todo voltou os olhos para o Brasil, onde uma enorme região arde a olhos, filmes e vídeos vistos, além de mapas, satélites, e agora a nossa própria percepção. Estamos sendo notícia diária, nossa orelha esquerda ardendo e coçando (brincadeirinha, dito popular), sendo até acusada de incendiária, sem qualquer prova.

O problema é só nosso, brasileiro? Não? Começou agora? Não. Acontece só aqui? Não. Está piorando esse ano? Sim, está, porque parece que foi dada a largada para a balbúrdia quando ficou sinalizado que o presidente que nos governa não é chegado em plantinhas, nesse tal meio ambiente e que se bobear, entre quatro paredes, deve dizer que isso é coisa de veado, com aquele seu costumeiro olhar seco, agitado, perdido, esganado, e com as frases boquirrotas e irresponsáveis que profere, mesmo quando não provocado. Sem noção de que é o presidente, que suas falas são oficiais e que chegam ao mundo todo. E ainda tem os Filhos do Capitão; para vocês terem uma ideia o tal que quer ser diplomata chamou o presidente da França, Emanuel Macron, de idiota. Só isso, minha gente. O menino tomou suco de galo. Tá bem esquisito isso.

Claro, depois do paizão ter mandado a primeira ministra alemã Ângela Merkel cuidar das florestas dela, o que eles inclusive já fizeram há muitos anos, e de confundir Noruega com Dinamarca, acrescentando baleias e golfinhos voadores na discussão que já nos custou mais de bilhão de dólares com a suspensão do Fundo Amazônia, grana que apoiava a fiscalização das áreas nacionais cada vez mais atingidas.

“Estamos sendo notícia diária, nossa orelha esquerda ardendo e coçando (brincadeirinha, dito popular), sendo até acusada de incendiária, sem qualquer prova”

Será uma orquestração? Nacional, dos que chegaram ao poder, para ampliar as áreas do agronegócio? Se for, totalmente desastrosa, desafinada. Internacional, dos países ricos para, segundo o presidente acusa, mandar suas Ongs para nos invadir a qualquer momento?

Pronto, foi instalada a confusão. O Brasil virou o vilão da vez e será difícil se desvencilhar dessa se continuarmos a permitir a emissão dos gases tóxicos desse nacionalismo frouxo, de desinformação espalhada por esquerdas e direitas e centros, se não pararmos a escalada de arroubos e respostas atravessadas de ministros de pouca diplomacia, provocações a líderes de grandes potências.

Todos nós perderemos muito mais do que o ar caso a situação não seja emergencialmente controlada, com ações reais, e não bazófias. Já estão em perigo nossas exportações, os acordos comercias com a Comunidade Europeia e com o Mercosul. E enquanto nossa moçada continua correndo atrás do rabo do Lula preso, são os protestos mundiais que se multiplicam e pedem a cabeça do senhor Jair Bolsonaro.

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O aquecimento global é realidade indiscutível, a não ser entre os que ainda juram de pés juntos (lá onde todos vamos parar um dia, e mais rápidos se a fustigação continuar) que a Terra é plana e acreditam que podem conter a busca da liberdade. O mundo – esse todo globalizado – anda mesmo cheio de problemas, com conflitos, guerras entre nações, brigas religiosas, ditaduras querendo voltar, e a economia patinando sem capacete.

Precisa de muita saúde para atravessar o século. O que com esse clima anda bem difícil.

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Marli Gonçalves

Jornalista formada pela FAAP, em 1979. Diretora da Brickmann&Associados Comunicação, B&A. Tem 40 anos de atuação na profissão, com passagens por vários veículos, entre eles Jornal da Tarde, Rádio Eldorado e revista Veja. Na B&A, além de assessoria de imprensa e consultoria de comunicação, especializou-se em gerenciamento de crises, ao lado de Carlos Brickmann, com quem trabalha desde 1996. Também é editora do Chumbo Gordo, site de informações da B&A. Mantém, ainda, o blog particular Marli Gonçalves (http://marligo.wordpress.com). Desde 2008, escreve semanalmente artigos e crônicas para inúmeros jornais e sites de todo o país sobre comportamento, feminismo, liberdade e imprensa. Entre suas atividades na área de consultoria, comunicação empresarial e relações públicas foi de 1994 a 1996 gerente de imprensa da multinacional AAB, Hill and Knowlton do Brasil (Grupo Standard, Ogilvy & Mather). Participou de várias publicações e veículos, entre eles, Singular & Plural, Revista Especial, Gallery Around (com Antonio Bivar), Jornal da Feira, Novidades Fotóptica, A-Z, Vogue. Na área política, foi assessora de Almino Affonso, quando vice-governador de São Paulo, e trabalhou em várias campanhas, entre elas, de Fernando Gabeira e Roberto Tripoli.

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