Ocupando uma posição chave para formulação de políticas nacionais para igualdade racial no país – envolvendo negros, quilombolas, ciganos, grupos de minorias e comunidades tradicionais – ela encarna a antítese de grande parte das acusações de racismo, desprezo a minorias e aversão a jornalistas proferidas por opositores do novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Sua principal arma é a profissão, que utiliza há anos na defesa de direitos e valorização de seus antepassados. O timbre suave da voz e a disposição em ouvir atentamente os interlocutores com semblante tranquilo e compenetrado, escondem a personalidade forte e determinada. Desde o início do ano, Sandra Terena – como é conhecida – é a titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), órgão que compõe a estrutura do Ministério da da Mulher, Família e Direitos Humanos em Brasília. Formada Comunicação Social pela Universidade Positivo, em Curitiba (PR), com pós-graduação em Comunicação Audiovisual pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ela é a primeira jornalista índia do País.
Gerada na aldeia de Icatu, localizada no município de Braúna – no interior de São Paulo -, Sandra nasceu na capital paranaense em 1981, quando o pai deixou a aldeia e foi alistado no serviço militar em Curitiba. Mesmo morado de uma grande metrópole, ela passou infância e adolescência em aldeias da etnia terena no interior de São Paulo e guaranis no litoral paranaense, onde tem parentes.
Foi o convívio com seu povo que despertou o interesse de Sandra pela escolha da profissão, utilizada como canal de defesa de direitos indígenas.
Logo após concluir a pós-graduação, Sandra Terena reuniu amigos e com recursos próprios percorreu durante três anos aldeias indígenas na região do Alto Xingu e no Amazonas. O objetivo: registrar e denunciar o infanticídio que ocorriam nestes locais, praticado contra as criança indesejadas, condenadas à morte por nascerem com deficiência física ou mental, por serem gêmeas, filhas de mãe solteira ou ainda por serem vistas como portadoras de azar para a comunidade.
O material gravado foi transformado em um documentário: “Quebrando o Silêncio”, lançado em 2009 e disponível em serviços de armazenamento de imagens na internet. O trabalho lhe rendeu prêmios e a catapultaram como uma das principais vozes do país em defesa dos povos índios. Ocupou por diversas vezes as tribunas públicas, incluindo a Câmara Federal e o Senado, para defender a garantia de direitos dos índios.
O conhecimento das técnicas da profissão também levaram a jornalista a ocupar espaço nos veículos de comunicação e lutar para a implantação da primeira aldeia urbana no Brasil, a Kakané Porã localizada no bairro de Campo de Santana, na zona sul da capital do Paraná. O local, inaugurado em 2009, foi uma solução para conter os constantes conflitos entre o poder público e os “índios do asfalto”. Casas foram construídas e um espaço para que os índios possam comercializar os produtos artesanais que fabricam. Também se tornou um centro de disseminação da cultura indígena, com visitas regulares de estudantes e excursões.
Durante os últimos dez anos, Sandra Terena também atuou na profissão, produzindo textos para Gazeta do Povo e atuar na assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba. Casada, com o também jornalista Oswaldo Eustáquio, ela ainda encontrou tempo para criar quatro filhos do casal.
Antes de chegar a Brasília, a jornalista atuava na Coordenação de Mobilidade Urbana da prefeitura de Curitiba. Mesmo com todas as atividades, Sandra se desdobrou em 2018 para visitas diárias ao hospital, onde acompanhou a mãe em uma luta perdida para o câncer.
Agora, além de sua experiência em defesa de direitos de seus antepassados, a jornalista teve ampliado o leque de ações. É o momento de colocar em prática o conhecimento aprendido com o jornalismo para garantir a pluralidade de ações concretas, ampliando espaços para expressão e construindo políticas públicas para todos os segmentos de minorias.
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Por Carlos Ohara. Especial para o Portal Comunique-se.
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