“O noticiário incita muitas pessoas a estocarem o produto na geladeira de casa o que contribui ainda mais para a alta”. Heródoto Barbeiro aproveita para discorrer sobre o preço da carne
Leia, abaixo, mais um artigo do “Mestre do Jornalismo” Heródoto Barbeiro no Portal Comunique-se
Estão de olho no preço da carne. Os preços não param de subir e quem vai a um açougue é capaz de avaliar a variação do valor do produto em poucas semanas. Os mais pobres já avaliam substituir a carne de boi por frango ou porco. Contudo, o movimento consumista em direção a esse mercado também faz o quilo do frango e do porco subir. Fazendeiros e criadores são acusados de privilegiar o mercado internacional em busca de dólares e desabastecer o mercado interno. Um lesa-pátria dizem os mais exaltados. Um golpe contra os mais pobres, dizem os apoiadores radicais do governo.
O ministério da Agricultura gira como uma barata tonta em busca de explicações que acalmem os consumidores. O noticiário incita muitas pessoas a estocarem o produto na geladeira de casa o que contribui ainda mais para a alta. Menor oferta, maior procura, dizem os burocratas do governo. Não é possível revogar a lei da oferta e da procura dizem os críticos liberais do governo. O fato é que mesmo os vegetarianos resolveram comer carne em uma atitude, acima de tudo, impatriótica.
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Há quem defenda uma ação do governo, testada inúmeras vezes no passado. Ou seja, cobrar um imposto sobre a exportação do produto. Com isso, as carnes ficariam mais caras no exterior e o mercado interno seria abastecido. O açúcar foi protagonista dessa política protecionista com resultados considerados favoráveis pela área política do governo. A oposição ao governo é totalmente contra a intervenção do Estado na economia, especialmente porque os programas de abastecimento da população tem um forte viés ideológico das esquerdas.
Nas aparições do presidente em solenidades e cerimonias populares, o tema abastecimento é rotineiramente lembrado. Não há filas no varejo como no passado, mas não faltam críticas aos chamados atravessadores e açambarcadores, parasitas que lucram com as agruras do povo. Não venham com essa desculpa que o preço “lá fora “ é mais convidativo. é preciso tabelar a cesta básica, concluem.
“Nas aparições do presidente em solenidades e cerimonias populares, o tema abastecimento é rotineiramente lembrado”. (Heródoto Barbeiro)
A questão não é mais decidir se o governo vai ou não intervir no mercado e forçar uma baixa do preço do quilo da carne. A alta do dólar em relação à moeda nacional faz as vendas externas ainda mais atraentes para os pecuaristas. Diante da pressão de partidos políticos que apoiam o governo, não há outra escolha senão a criação de um órgão que regule os preços e o abastecimento da população, especialmente a de baixa renda e que vive com um salário mínimo, mínimo. O controle dos preços no Brasil ganhou força na década de 1950 com a criação da Comissão Federal de Abastecimento e Preços (Cofap).
O governo vai além e cria a Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab), com poderes para intervir no mercado, fixando preços e controlando os estoques. João Goulart, seu criador, havia prometido que acabaria com as filas nas grandes cidades para se comprar feijão, arroz ou farinhas, como vinha acontecendo. Ele se prepara para disputar a eleição de 1964 e o tema é de vital importância para o seu projeto político. A Sunab foi extinta em 1997, por Fernando Henrique Cardoso.