O racismo de William Waack dessacraliza o jornalismo da Globo

Pedro Zambarda analisa que profissionais do jornalismo da TV Globo – como no caso de William Waack – não estão mais imunes a críticas e punições

O episódio da frase racista dita pelo jornalista William Waack num intervalo durante cobertura feita pela TV Globo da eleição presidencial norte-americana, divulgada um ano depois, teve reação imediata das pessoas na internet.

A primeira onda foi categorizar a frase “é coisa de preto”, entre risadas, como racismo. A Globo, como reação, afastou Waack no mesmo dia do ‘Jornal da Globo’ e do ‘GloboNews Painel’.

A segunda onda veio de jornalistas muito bem pagos e prestigiados de outras emissoras, além de um juiz do STF. Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Demétrio Magnoli, Rachel Sheherazade, Gilmar Mendes, Rodrigo Constantino e grandes nomes opinativos da direita conservadora mídia foram defender a “biografia de William Waack”. Relembraram sua competência como correspondente de conflitos armados, conhecedor da Europa e outros feitos, como sobreviver a um sequestro de grupos de Saddam Hussein na Guerra do Golfo. Enquadraram a frase racista como “erro”, “tribunal de Facebook” e “patrulha das redes sociais”.

Tentaram, em suma, dar uma passada de pano no colega. Uma curiosidade levantada pelo jornalista Anderson Scardoelli, editor deste Portal Comunique-se, é que nenhum deles é da Rede Globo. A emissora, pasmem, não descartou crime de racismo e nem censurou o ator Lázaro Ramos, que criticou abertamente Waack.

E o que aprendemos neste episódio protagonizado por William Waack? O jornalismo sacralizado de âncoras da TV Globo não está mais imune aos deslizes da ética.

Paulo Sotero e William Waack durante edição do ‘Jornal da Globo’ em novembro de 2016 (Imagem: Reprodução/Globo)

William Waack afastado da TV Globo…

Nada adiantam grandes salários, grandes audiências e nem mesmo uma grande biografia profissional para dissociá-la da falta de ética cotidiana. Se William Waack realmente partilhasse de princípios democráticos, talvez não faria alguns comentários que fez durante o impeachment de Dilma Rousseff. Procuraria um certo distanciamento crítico acerca das próprias opiniões. Sacralizado, ele achou que podia fazer o que quisesse, no ar ou fora do ar.

E não faria “piadas” de cunho racista em ambiente profissional que foram vazadas pelo operador de VT Diego Rocha Pereira e pelo designer gráfico Robson Cordeiro Ramos. Os dois se queixaram que aquela não era a primeira vez que William Waack falava algo racista e saía impune.

E o que aprendemos neste episódio protagonizado por William Waack? O jornalismo sacralizado de âncoras da TV Globo não está mais imune aos deslizes da ética.

Dessacralizado, o jornalismo mais honesto pode ser praticado diante do público.

Por isso, é importante enquadrar o episódio de Waack da forma que realmente ocorreu, sem poupá-lo das críticas pelo seu preconceito.

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Pedro Zambarda

Jornalista e escritor. Teve experiência na Editora Abril (Exame.com) e Globo.com (TechTudo). Atualmente, é editor dos projetos DigiClub, Drops de Jogos e Geração Gamer, além de ser repórter do site Diário do Centro do Mundo (DCM), onde também apresenta vídeos e entrevistas no canal no YouTube.

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