O senhor embaixador – por Heródoto Barbeiro

“Ninguém iria perguntar ao novo embaixador se tinha ou não feito carreira diplomática, se tinha conhecimento da história mundial”. Portal Comunique-se publica artigo do mestre do jornalismo Heródoto Barbeiro

Ele queria ser embaixador a qualquer preço. Representar o Brasil na capital do país mais importante da sua história política e econômica era o que mais queria. Tinha influência e poder político para chegar lá, ser recebido no palácio, com grande pomba e circunstância com ampla cobertura da mídia tupiniquim.

Ninguém iria perguntar ao novo embaixador se tinha ou não feito carreira diplomática, se tinha conhecimento da história mundial onde nações degladiaram em grandes conflitos mundiais e que a falha da política diplomática foi substituída pelo matraquear das metralhadoras. Sem diplomacia milhões de pessoas morreram nos campos de batalha. Daí os historiadores e cientistas sociais criticarem os países que não tinham um corpo diplomático técnico e capacitado para atuar, antes, durante e depois dos conflitos. Uma coisa era consensual, a preparação intelectual do embaixador.

O pretendente ao cargo não dava a menor importância do ranger de dentes do Itamarati. Ignorava totalmente as lições do sábio Confúcio, o primeiro pensador a criar um código de comportamento para embaixadores, no século 5 A.C., e que durante séculos orientou as escolas de diplomacia. O ponto central era que um negociador, em nome de sua nação, não podia perder “face”, ou seja aquilo que dissesse teria que ser necessariamente cumprido.

Estava decidido que seria nomeado pelo presidente da república com quem tinha grande proximidade…

Por isso, o embaixador tinha que ter certeza do que seria negociado para que não tivesse que voltar atrás, ou seja de perder “face”. Nada disso o abalava. Estava decidido que seria nomeado pelo presidente da república com quem tinha grande proximidade e tinha ajudado decisivamente para ganhar a eleição. Não seria a primeira vez que um cidadão comum seria nomeado embaixador do Brasil nas capitais das potências mais importantes do planeta. Portanto, não admitia que houvesse qualquer tipo de resistência, mesmo de parte da mídia de oposição.

Ele dizia que falava inglês fluentemente. É verdade que arranhava mal e mal algumas palavras e frases, mas quem precisava disso? Bastava contratar um bom tradutor e tudo estaria resolvido. Afinal, ele já tinha viajado para países de língua inglesa e conversado com vários políticos importantes, entre eles o primeiro ministro do Reino Unido.A história seguiu o seu curso e ele foi nomeado embaixador.

Assis Chateaubriand vestiu o fraque, pôs a cartola, e a bordo de uma carruagem levado para apresentar suas credenciais a sua majestade em Londres. Era o que mais queria em sua vida, ser recebido pela rainha, ter o título de representante do Brasil na corte de Saint James e ir e voltar em uma ponte aérea entre as capitais dos dois países. Com essa proeza suplantou Oswaldo Aranha, outro neófito em política internacional. Ele foi nomeado embaixador do Brasil em Washington, como compensação por não ter sido escolhido interventor no estado de Minas Gerais, pelo ditador Getúlio Vargas. Diante dessas exceções por que não outros também poderiam ocupar esses cargos mesmo não sendo do corpo diplomático permanente?

“Ele dizia que falava inglês fluentemente. É verdade que arranhava mal e mal algumas palavras e frases, mas quem precisava disso?”

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Heródoto Barbeiro

Comentarista do ‘Jornal da Record News’, noticiário do qual atuou por anos como âncora e editor-chefe. Já foi professor de história, carreira que seguiu por quase 20 anos. Na imprensa, passou por CBN, Rádio Globo, Jovem Pan, TV Cultura, TV Gazeta e Diário de S. Paulo. Edita o Blog do Barbeiro – Barba, Bigode e Cabelo, hospedado pelo R7. É "Mestre do Jornalismo" do Prêmio Comunique-se na categoria 'Âncora de Rádio'

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