Em seu novo artigo para o Comunique-se, Edson de Oliveira lembra uma história compartilhada com seus filhos
Minha filha não dorme enquanto não ouvir uma história, o que me faz sofrer nos dias em que substituo a mãe dela na leitura quando já estou contando carneirinhos. Mas não está em nenhum dos livros que já foram lidos para Amy, a maioria ganha da tia materna ou pega emprestada da biblioteca perto da escola onde ela frequentou quando tinha quatro anos, a história que mais contei para ela, como fiz para o irmão dela.
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Era uma vez um menino que morria de medo de onça, tanto, que nunca dormia com a cabeça descoberta, achando que, assim, ele não seria visto pela fera.
Dado para uma família criar quando sua mãe viu que não tinha nada, principalmente comida, para oferecer aos filhos, ele sempre acompanhava o chefe da família que o criava onde quer que ele tivesse algum serviço empreitado, como um campo para carpir, um rio para limpar ou um monte de pedras para tirar a marreta e pé de cabra, ajudando a preparar a boia e o café dos peões e cuidar do rancho.
Em pescarias
Como ele cochilava nas pescarias que os peões faziam no fim do expediente e atrasava a travessia dos rios na volta quando chovia, ele acabava sendo deixado no acampamento, onde, assim que escurecia, ele já acendia o fogo no meio das duas forquilhas que sustentavam a vara na qual ficava suspenso o caldeirão de comida, colocava os facões em volta de si e ia matando quantas muriçocas conseguisse enquanto o sono não chegava.
Na volta da pescaria, havia sempre um peão que, para ouvir as gargalhadas do pessoal da lida e os gritos de pavor do menino, puxava a coberta e dizia: “Olhe a onça!”.
Ainda bem que as únicas onças que apareceram para esse menino quando ele andava pelos matos e matas foram as das histórias que ele ouvia, ou este texto jamais teria sido escrito.