Comunicação

Para diretor da Folha, carta contra “textos racistas” é “parcial”

O diretor de redação da Folha de S. Paulo, Sérgio Dávila, posicionou-se diante da carta aberta redigida por mais de 200 jornalistas da casa contra o que chamou-se de “publicação recorrente de textos racistas”. Em texto divulgado originalmente no site da marca no fim da noite de quarta-feira, 19, o executivo afirmou que o abaixo-assinado cometeu série de equívocos e foi contra os princípios editoriais do veículo.

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“O preocupante é o teor do texto, que vai contra um dos pontos basilares e inegociáveis do Projeto Folha: a pluralidade e a defesa intransigente da liberdade de expressão”, escreveu Dávila, que chegou a dizer, no mesmo conteúdo, que manifestações desse tipo são legítimas. O diretor observou, ainda, que o material crítico ao jornal foi formulado por profissionais sem cargo de liderança.

Em outro trecho de sua resposta à carta, que inicialmente havia sido chancelada por 186 jornalistas, Dávila lista o que considera como erros. “O texto erra, é parcial e faz acusações sem fundamento, três características indesejáveis em se tratando de profissionais do jornalismo”, avaliou o diretor. “Erra ao sugerir que a Folha publicou artigos que relativizam ou fazem apologia do racismo, o que não aconteceu, até porque racismo é crime”, prosseguiu.

Na parte sobre o que considera como parcialidade da carta, o diretor de redação define como omissão o fato de o manifesto não citar iniciativas implementadas no decorrer dos últimos três anos. Como exemplos, ele cita — sem dar números — contratações de profissionais negros para os cargos de colunistas, blogueiros e repórteres. Além disso, destaca a criação da função da editoria de ‘Diversidade’.

Os textos mencionados tiveram menos de 1% da audiência total do dia em que foram publicados — Sérgio Dávila

Sobre o que classifica como acusações sem fundamentos, Dávila atenta-se ao trecho da carta que critica o que seria, segundo os jornalistas-manifestantes, a estratégia do veículo em apenas conquistar audiência: publicar um artigo polêmico e, na sequência, dar espaço para materiais que servissem de “resposta”. “Os textos mencionados tiveram menos de 1% da audiência total do dia em que foram publicados e em muitos casos levaram a cancelamentos de assinatura”, pontua o diretor de redação — que também não apresentou dados sobre o volume de cancelamentos.

Por fim, Dávila lembrou que a publicação que dirige é centenária e garantiu que a Folha de S. Paulo seguirá com o seu tradicional modelo de jornalismo. O que, com as palavras dele, será feito na companhia de uma “redação que esteja disposta a implementar com profissionalismo os princípios defendidos por seu projeto editorial: um jornalismo crítico, apartidário, independente e pluralista”.

Sérgio Dávila é o diretor de redação da Folha de S. Paulo. (Imagem: reprodução/YouTube)

Texto completo de Sérgio Dávila

Leia, abaixo, a íntegra do texto assinado por Sérgio Dávila, diretor de redação e secretário do conselho editorial da Folha de S. Paulo, como resposta à carta aberta formulada por mais de 200 jornalistas do próprio veículo:

O abaixo-assinado é um instrumento legítimo de manifestação dos jornalistas sem cargo de confiança que ali colocaram seu nome. O recurso já foi usado em outros momentos da história da Folha. Também são saudáveis a crítica e a autocrítica, desde sempre estimuladas pelo jornal. O preocupante é o teor do texto, que vai contra um dos pontos basilares e inegociáveis do Projeto Folha: a pluralidade e a defesa intransigente da liberdade de expressão.

Além disso, o texto erra, é parcial e faz acusações sem fundamento, três características indesejáveis em se tratando de profissionais do jornalismo.

Erra ao sugerir que a Folha publicou artigos que relativizam ou fazem apologia do racismo, o que não aconteceu, até porque racismo é crime.

É parcial ao omitir iniciativas que têm sido a prioridade do jornal nos últimos três anos, como a contratação de profissionais negros no elenco de colunistas, blogueiros e repórteres e a criação da editoria de Diversidade, a primeira do gênero na grande imprensa.

Acusa sem fundamento ao creditar a publicação de opiniões divergentes, que são a base do jornalismo defendido pelo jornal, a uma suposta busca por audiência –até porque os textos mencionados tiveram menos de 1% da audiência total do dia em que foram publicados e em muitos casos levaram a cancelamentos de assinatura.

A Folha seguirá fazendo o jornalismo que a consagrou nos últimos 100 anos, com uma Redação que esteja disposta a implementar com profissionalismo os princípios defendidos por seu Projeto Editorial: um jornalismo crítico, apartidário, independente e pluralista.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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