Uma pesquisa feita entre junho de 2016 e janeiro deste ano apontou que, para mais de 90% dos profissionais de imprensa brasileiros, o jornalismo é crucial para a democracia e capaz de promover uma sociedade melhor. Apesar disso, existem discordâncias em relação a como ele pode exercer esse papel da melhor maneira.
Menos de 25% dos participantes da pesquisa declararam concordar totalmente com as afirmações de que o jornalismo fornece narrativas verdadeiras e contextualizadas dos fatos, retrata a diversidade dos grupos que formam a sociedade e representa e dá voz à totalidade das pessoas.
Os dados são do Projeto Credibilidade, que buscou saber como os jornalistas brasileiros percebem sua missão e os padrões adotados em seu exercício profissional. Os 314 entrevistados responderam a perguntas sobre o papel do jornalismo na sociedade, sua visão de empresas jornalísticas, indicadores de qualidade de notícias, políticas de ética e diversidade nas redações e práticas de edição do conteúdo digital. Os primeiros resultados da pesquisa se encontram aqui.
Segundo uma das coordenadoras do Projeto Credibilidade, Angela Pimenta, os resultados mostram que “existe um desafio claro de tornar mais robusta a prática [jornalística] em relação à sua missão”.
Além disso, os entrevistados disseram que as redações onde trabalham apoiariam afirmações que refletem princípios éticos (91%) e valores qualitativos no jornalismo (79%). Alguns comentários que acompanharam as respostas, contudo, revelaram certo distanciamento entre o apoio formal e a prática real no cotidiano.
No total, foram consultados jornalistas de 38 diferentes veículos e 15 localidades do Brasil, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Mais de um terço das pessoas ouvidas na pesquisa trabalha como repórter.
Os resultados foram apresentados durante workshop para membros do consórcio de mídia do Projeto Credibilidade em 30 de julho, durante o 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Segundo o professor Francisco Belda (Unesp), que também coordena a iniciativa, em setembro deve ser divulgado um relatório interpretativo dos dados.
Atuando como o capítulo brasileiro do Trust Project, o Projeto Credibilidade é uma iniciativa que busca refletir sobre a fragmentação das notícias no ambiente digital e desenvolver ferramentas para promover um jornalismo digital confiável e de qualidade. Surgiu a partir de um ambiente generalizado de desconfiança na mídia no Brasil. A realização é do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Em dezembro de 2016, o projeto formou um consórcio de mídia, que hoje conta com catorze parceiros (incluindo a Abraji), e passou a realizar discussões para diagnosticar suas necessidades, bem como identificar atributos de credibilidade do jornalismo digital. O objetivo é que, a partir desses indicadores, as redações apliquem novas práticas e melhorem seu posicionamento perante a opinião pública.
“Queremos criar um padrão de qualidade para o jornalismo no âmbito digital”, diz Belda. “Um selo de qualidade que seja claro, visível e evidente para os leitores”.
Também está prevista a criação de “etiqueta de credibilidade” que contenha metadados sobre o conteúdo das notícias na internet. Segundo o professor, a medida serviria para distinguir o jornalismo de qualidade de notícias falsas. Futuramente, o projeto planeja promover hackathons e desenvolver os protótipos dessas ferramentas.
Os principais indicadores de qualidade de uma notícia, de acordo com os entrevistados pela pesquisa, foram precisão, apuração e correção (76%), independência editorial (57%), correção ágil dos erros, pluralidade das fontes consultadas (44%), contextualização da informação (44%) e atribuição clara das fontes (43%). No site do projeto, ainda há uma lista com os oito indicadores priorizados pelo Trust Project.
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