“Até os dez anos, idade com que, pelas minhas contas, devo ter chegado a São Paulo, eu não sabia o que era o Natal”. Portal Comunique-se publica artigo de Edson de Oliveira
O pisca-pisca que a menina dos meus olhos havia pendurado na mirra que ficava na sala de visitas de nossa morada ainda nem havia sido guardado, e eu já estava pensando no próximo Natal.
Na verdade, já começo a pensar desde o dia 26 de dezembro, a fim de ter bastante tempo para tentar convencer as pessoas que estiveram presentes em minha vida ao longo do ano a participar de minha festa ou a mim de participar da delas, o que não é nada fácil, porque, achando que o inferno são sempre os outros, só tendo um espírito verdadeiramente cristão, capaz de perdoar a quem nos tem ofendido, ou atendendo às conveniências, para, depois de passarmos o ano todo com uma pessoa com a qual nem sempre estivemos bem, nós confraternizarmos o que quer que seja.
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O Natal é a festa em que mais vejo mesas cheias e corações vazios, porque é impossível sentir o símbolo do amor cheio quando quem deveria ser o centro das atenções da festa não foi convidado.
Até os dez anos, idade com que, pelas minhas contas, devo ter chegado a São Paulo, eu não sabia o que era o Natal, e, quando vim a saber, não gostei, porque, enquanto todas as crianças que eu conhecia ganhavam presentes de causar inveja, como bicicletas e carrinhos a pilha, eu só ganhava um brinquedo sem graça, como um carrinho de plástico.
“O Natal é a festa em que mais vejo mesas cheias e corações vazios”
Já na hora da comida, em minha casa, nunca havia aquelas coisas gostosas que eu via na mesa dos outros, como frango, peru, carnes bovina e suína assadas, panetones (hum, sempre gostei de panetone!), nozes e champanhas, eram sempre macarrão com molho de tomate, polenta e carcaça de frango.
Foram tão poucos os Natais que passei com minha mãe, a qual, infelizmente, sabia o verdadeiro significado deste dia bem menos do que eu, que, quando, no último Natal, vi minha mulher enfeitando nossa árvore, fiquei tão feliz que tomei a sidra com a qual comemoramos o aniversário de Jesus como se fosse o mais nobre dos vinhos.