Depois de vitórias em 2017 e 2018, em 2019 o Brasil foi o terceiro país que mais inscreveu projetos no Data Journalism Awards, atrás apenas de Estados Unidos e Reino Unido. Também foi o único latino-americano entre os dez países com mais inscrições na última edição do prêmio, que reconhece a excelência em jornalismo de dados do mundo todo.
O país destes trabalhos reconhecidos internacionalmente tem agora uma premiação para chamar de sua: o prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, cujas inscrições foram abertas no dia 27 de junho durante o 14o Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo.
O prêmio, organizado pela Open Knowledge Brasil e pela Escola de Dados, já havia sido anunciado na terceira edição da Coda.Br, a Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais, que aconteceu em São Paulo em novembro de 2018.
“Percebemos que já existe no Brasil um ecossistema de jornalistas de dados, uma comunidade cada vez mais robusta, produzindo cada vez mais trabalhos interessantes”, disse Natália Mazotte, diretora da Open Knowledge Brasil, ao Centro Knight. “Pensamos que seria muito interessante ter um prêmio focado em jornalistas de dados, nesse ecossistema que está florescendo cada vez mais, para incentivar e até para poder mapear os trabalhos que vêm sendo feitos”.
Iniciativas diversas, em grandes e pequenas redações, elevaram o status e a qualidade do jornalismo de dados feito no Brasil nos últimos anos, comentou Mazzote. Entre elas estão o investimento de grandes veículos como Estadão, Folha de S. Paulo e G1 em seus núcleos de dados e o surgimento de meios menores como Gênero e Número, revista digital da qual Mazotte é cofundadora, DataLabe, laboratório de dados localizado na favela da Maré, no Rio de Janeiro, e Marco Zero, meio sediado em Recife, citou ela.
“Com o prêmio recebendo muitas entradas, teremos um panorama do que vem sendo publicado, de coisas que nem sempre estão no radar, de veículos não tão conhecidos. E também coisas mais locais, de regiões como Nordeste e Norte, trabalhos com os quais nem sempre temos contato aqui na nossa bolha no Sudeste”, comentou.
O prêmio está dividido em quatro categorias: Investigação guiada por dados, Visualização, Inovação em jornalismo de dados e Jornalismo e dados abertos. São elegíveis trabalhos publicados em meio digital, impresso, TV ou rádio entre 1º de julho de 2018 e 8 de setembro de 2019, dia em que se encerram as inscrições.
O júri da premiação vai selecionar três finalistas por categoria, e os 12 finalistas terão isenção na inscrição para a próxima edição da Coda.Br, que neste ano acontece nos dias 23 e 24 de novembro, em São Paulo. Lá serão anunciados os vencedores de cada categoria, que levarão cada um o prêmio em dinheiro, no valor de R$ 2.500, mais isenção na inscrição no 15º Congresso da Abraji, a ser realizado em 2020.
A Abraji é apoiadora institucional do prêmio, explicou ao Centro Knight Daniel Bramatti, presidente da entidade e editor do Estadão Dados, núcleo de jornalismo de dados do jornal.
“Ao mesmo tempo em que essa iniciativa reconhece a qualidade de trabalhos feitos anualmente, ela promove e difunde o jornalismo de dados e suas técnicas”, disse Bramatti. “É uma forma de dar visibilidade a um ‘braço’ do jornalismo que ainda tem muito espaço para crescer.”
O jornalista Cláudio Weber Abramo, que faleceu em 12 de agosto de 2018, dá nome a essa primeira edição da premiação. Ele atuou em vários veículos de mídia e foi cofundador da Transparência Brasil, organização dedicada ao acesso à informação e ao combate à corrupção. Ele foi responsável por vários projetos que buscavam usar dados públicos para monitorar a atuação de autoridades dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo e também é celebrado por seu protagonismo na campanha pela aprovação da Lei de Acesso à Informação, sancionada em 2011.
Em junho de 2018, Weber Abramo foi um dos instrutores do curso online do Centro Knight “Como cobrir eleições sem errar”. No curso, os alunos tiveram acesso a bases de dados criadas por ele como o Datascópio, repositório de dados públicos.
“Cláudio foi o pioneiro do jornalismo de dados no Brasil”, disse Bramatti. “Ele criou as primeiras ferramentas que facilitavam a leitura e a extração de ferramentas de grandes bases de dados. E sempre associou esse trabalho à busca do aprofundamento da democracia e do aprimoramento de nossas instituições”.
“Qualquer profissional interessado em analisar e expor o funcionamento da máquina pública, e eventuais desvios e irregularidades, precisa hoje em dia dominar ao menos algumas técnicas do jornalismo de dados”, acrescentou o presidente da Abraji. “As bandeiras que Cláudio levantava seguem totalmente relevantes para quem coloca o interesse público entre as razões fundamentais para se fazer jornalismo”.
Mazotte também destacou o papel do jornalismo de dados na qualificação do debate público. “O jornalismo baseado em mais evidências, com uma multiplicidade de fontes e trabalhando os dados ou as informações disponíveis de maneira mais palatável, ajuda a diminuir a polarização, porque sai do espectro da opinião, de um lado contra o outro, e mostra os dados e o contexto para que o debate seja feito”, afirmou. “Acreditamos que é muito importante nesse momento do Brasil qualificar esse debate e trazer, pela imprensa, essas informações de maior qualidade”.
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