Ao ver a câmara que se encontrava na gaveta em que peguei meu título de eleitor para ir escolher quem iria substituir Luís Inácio Lula da Silva na Presidência da República, fiquei me perguntando o que eu iria querer fotografar a caminho das urnas. A resposta estava em frente à escola em Osasco à qual, até 2014, voltei para votar: o velho barracão onde brincávamos na hora do recreio. Única imagem de meus primeiros anos de escola que o tempo ainda não apagou do concreto, a antiga construção foi o lugar que, em 1979, quando eu estava na 5ª. série, o professor de Educação Artística escolheu para começar a produzir um filme sobre monstros de outro planeta, tendo como estrelas alguns de meus colegas de classe. Em 1975, quando, mesmo sem certidão de nascimento, fui matriculado na escola de tábua do IAPI, o lugar onde foi construída a Benedicto Weschenfelder, onde estudei da 7ª. à 8ª. séries, era só mato. Meus primeiros dias de escola foram difíceis, mas teriam sido mais se eu não tivesse encontrado uma professora tão atenciosa, como a dona Maria Luísa (o acento no “i” e o “s” ficam por minha conta), que me ensinou tão bem que já saí da primeira série sabendo a tabuada do 2 ao 5 e escrever muitas palavras. Eu adorava quando ela dizia que quem acertasse toda a tabuada iria ganhar 1 cruzeiro, porque, sentindo amor pela Matemática desde o primeiro contato, não deixava o dinheiro ir parar na mão de ninguém, e pedia que eu pintasse os desenhos que ela mimeografava para colocar na pasta de Português, sempre me deixando com vontade de ter uma caixa de lápis colorido igual à dela, com 36 cores, uma das quais o verde-berilo, cor do carro dela, se não me engano, um Corcel. Desta inesquecível professora me ficaram não só as boas lições de Matemática e Português, mas também as de sensibilidade, como em um dia de inverno em que, vendo que eu não conseguia escrever de tanto frio, me levou para a cantina e pediu que eu só voltasse para a classe depois de tomar um café com leite bem quentinho. Tanto quanto a primeira, da segunda professora eu também não esqueço, dona Belmira, cujas aulas de Português me fizeram deixar sem o caderno infanto-juvenil muitos dos jornais que eu vendia no fim de semana. Professora com a qual estudei na 3ª. e na 4ª. séries, dona Aracy falava tão bem de mim para minha mãe, a qual, por causa do trabalho de empregada doméstica, dificilmente ia às reuniões, que a fazia chorar de emoção. Já o professor Antônio Andrade, da 5ª. série, nunca me fez chorar, mas me deixava envergonhado toda vez que pedia que eu fosse à sala do diretor mostrar a prova de Português com toda a conjugação verbal certa. Mas com vergonha mesmo eu, que sempre fui um aluno exemplar, fiquei no dia em que dona Icléa, uma das melhores professoras de Português que tive, me deu uma chamada por ter deixado de fazer a lição de casa. Ainda no ginásio, tive outros professores fora de série, como Thier, de Matemática, Kátia, de Estudos Sociais, e, “last, but not least”, Narciso, de Inglês. Quando voltei ao colégio, eu não imaginava que iria levar tão a sério as divertidas aulas de Biologia do Sérgio, o último dos professores cujas lições nunca se apagaram de minha memória.
*Edson de Oliveira. Revisor de textos há mais de 20 anos, corrigindo principalmente legendas de vídeo, transcrição de áudio e textos jornalísticos, é editor dos blogues EFMérides e Blogue da Revisão.