“Apesar da qualidade, o ‘Tá no Ar’ se despede na hora certa para evitar o desgaste no formato que mistura elementos do ‘Casseta e Planeta’ com esquetes e paródias de internet”. Portal Comunique-se publica artigo do jornalista Lucas Dorta
No dia 9 de abril foi exibido na TV Globo o último episódio do ‘Tá no Ar: a TV na TV’. O programa chegou ao fim após seis temporadas ganhando elogios de boa parte do jornalismo especializado em crítica de televisão e produzindo esquetes que ganharam repercussão e viralizaram na internet, atraindo assim a audiência do público mais jovem que cresceu nas redes sociais. Mas qual foi o grande diferencial da atração?
Acredito que o formato não teve nada de inédito e revolucionário. E isso está longe de ser um demérito. Em alguns momentos, o ‘Tá no Ar’ lembrou muito o estilo do ‘Casseta e Planeta’ e do início do ‘Pânico’ na Rede TV. Ambos satirizavam produções televisivas e contextos sociais. O ‘Tá no Ar’, porém, conseguiu fazer essas sátiras em uma linguagem mais moderna e dinâmica, utilizando características de esquetes de internet, com rapidez nas piadinhas, ironizações e trocadilhos. Tudo utilizando o recurso de tirar sarro da televisão por meio de efeitos que simulavam o telespectador mudando de canal.
“O grande diferencial da atração global foi na forma de se fazer as piadas. O programa não teve medo de citar produtos de outras emissoras”
Mas o grande diferencial da atração global foi na forma de se fazer as piadas. O programa não teve medo de citar produtos de outras emissoras, inclusive de concorrentes históricos, fato raro na Globo. Nesse caso, podemos considerar, sim, que é algo extraordinário no “plim plim”. Mesmo em meio a um processo de polarização política, o ‘Tá no Ar’ não ficou sentado em cima do muro. Criou quadros e esquetes que mostravam um posicionamento mais progressista ao tentar fazer o público rir das ondas reacionárias que tomaram conta do Brasil nos últimos anos. Mesmo assim, a esquerda não ficou de fora dos alvos das gozações. Um dos personagens marcantes foi o militante esquerdista que fazia críticas à Rede Globo.
Diferentemente de boa parte dos programas de humor que também produziam esquetes satirizando a televisão, personagens e contextos sociais do Brasil, a atração global evitou provocações às minorias e grupos considerados de maior vulnerabilidade social. Na maioria das vezes, tentou trazer um estilo mais reflexivo, que tentasse defender essas pessoas por meio de indiretas para setores reacionários. Neste período de polarização, esse estilo desagradou alguns telespectadores. Nas redes sociais, era comum ver pessoas reclamando que era um “humor lacrador”. “Programa de esquerda” ou “humor politicamente correto sem graça” também foram usados.
“Independentemente de concordarmos ou não com o jeito do humor do programa, é inegável que saíram da caixinha”
Normal para quem buscou arriscar e sair do tal padrão Globo. Independentemente de concordarmos ou não com o jeito do humor do programa, é inegável que saíram da caixinha ao assumirem certos posicionamentos em um canal visto como conservador por boa parte das pessoas. Principalmente, quando o objetivo da crítica era destinada aos membros da parte de cima da pirâmide política, social e televisiva.
Apesar da qualidade, o ‘Tá no Ar’ se despede na hora certa para evitar o desgaste no formato que mistura elementos do ‘Casseta e Planeta’ com esquetes e paródias de internet. Muitos canais do YouTube e o quadro do ‘Fantástico, ‘Isso a Globo Não Mostra’, apresentam as mesmas características do ‘Tá no Ar’. A longo prazo, a atração global poderia ficar enjoativa, perdendo assim um pouco da graça e do “efeito novidade”. Esse estilo tende a ser copiado e, consequentemente, uma hora também ficará ultrapassado, assim como a maioria das produções midiáticas ficam conforme o passar do tempo. Renovação é essencial nesse mundo de transformações e exigências cada vez maiores em um curto espaço de tempo.
Deixará saudades pelo fato do fim da atração acontecer em um momento correto. Ou seja, ficará distante do risco de ter um fim de programas de humor que saíram do ar, mas ninguém deu a mínima.
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Por Lucas Dorta. Jornalista formado pelas Faculdades Integradas de Jaú (FIJ).