Para uns é apenas uma transação comercial como outra qualquer. Para outros um pequeno pecado. Afinal ninguém sai perdendo com a prática da divisão de uma quantia que, ou já está combinada, ou faz parte do orçamento devidamente autorizado. É uma operação que não paga imposto e não se declara abertamente, mas é um dinheiro que sai de um bolso e vai galhardamente para outro. Rachadinha não é um nome nobre. Nem de baixo calão.
Para alguns é uma prática que vem de tempos antigos e apenas ganhou novos contornos com o desenvolvimento de operações capitalistas recentes. Por exemplo aplicar a parte recebida em investimentos rentáveis ou custear despesas que não necessitam de contabilidade na declaração de imposto de renda do final do ano.
A viagem de férias no exterior, com a família, uma reforma discreta na casa da praia, como a construção de uma adega de vinhos climatizada, ou mesmo uma cirurgia plástica de alto custo com a promessa de não ser declarada. Nada melhor que a velha e boa rachadinha quebradora de galho.
Não se sabe exatamente onde essa prática da economia marginal começou. Certamente não foi no Brasil. Há quem diga que foi importada das economias mais avançadas. Nem o nome de origem é esse. Rachadinha é uma tropicalização da prática de se dividir um dinheiro que surge de uma área cinzenta. Nem a poderosa receita federal do Tio Sam foi eficiente a ponto de impedir essa circulação ilegal de dinheiro.
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Pegaram o Al Capone, diz o Maluco Beleza, mas não conseguem enquadrar os participantes das rachadinhas, uma vez que a prática é difusa no país. Pode ser útil para bancar campanhas eleitorais, viagens dos chefes, compra de votos nas periferias das cidades, bolsas de estudos para cabos eleitorais e um sem número de outras utilidades. Úteis para se manter no poder e com a conta bancária positiva.
Não se sabe se tal prática chega ao Congresso Nacional ou está confinada apenas nos círculos locais e estaduais. Imagine um senador ser acusado de ficar com parte dos salários de seus assessores, o escândalo que isso iria provocar. Pode dar até cassação de mandato e os vultos históricos da pátria revirariam em seus túmulos.
A denúncia das rachadinhas é tornada pública originalmente no meio médico, pelo diretor do Colégio Americano de Cirurgiões. Pode parecer curioso que a divisão seja feita com quem tem um bisturi na mão. Segundo o dr. Paul R. Hawley, o processo se dá quando um paciente pergunta para o cirurgião quanto vai custar a cirurgia.
Ele estima em US$300,00. Divide o valor com o clínico geral que o indicou para fazer a operação, assim cada um fica com a metade do valor. Há um aviso no código de ética das Associações Médicas que proíbe especificamente as rachadinhas. É uma infração grave pagar comissões de qualquer forma. Ainda assim elas existem, diz o médico.
Os defensores da distribuição da grana argumentam que além de ganharem pouco, os pacientes pagam primeiro os cirurgiões, e muitas vezes o médicos que indicaram, nem recebem pelo acompanhamento do paciente. Isto não justifica um recebimento em segredo uma vez que é um negócios escuso. A prática da rachadinha como se vê não é nacional, e nem se originou no terreno da política, como se noticia hoje, e teve a história contada na Seleções de julho de 1953.
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