Mais uma vez esse maldito déficit fiscal. O governo gasta mais do que arrecada. Isto, ao longo do tempo, formou uma verdadeira bola de neve, denominada de dívida pública. A arrecadação de impostos deveria ser suficiente para bancar os gastos do Estado, mas estes aumentam sistematicamente, e um dirigente passa o déficit para o outro. Este por sua vez se esforça para equilibrar o orçamento, e às vezes, não intencionalmente, contribui para aumentar ainda mais a dívida. Ele não consegue resistir ás pressões dos poderosos e que dominam grande parte da economia especialmente, bancos, comércio e agricultura. São privilegiados, consideram isso um direito divino, que o gestor tem que satisfazer, quer queira quer não. Assim, os gastos do Estado não param de aumentar e um dos responsáveis é a quantidade de apaniguados pendurados nos salários bancados pelos impostos. Uma imensa burocracia privilegiada, vitalícia e improdutiva que contribuí para agravar ainda mais a situação financeira. O desfecho era previsível, uma hora os financiadores da dívida do Estado iriam suspeitar de uma crise maior, suspenderiam os empréstimos e o país iria quebrar.
A elite financeira está sempre de olho na relação da dívida com a capacidade do Estado pagar pelo menos os juros. A situação nacional evolui para um tal rombo que não há dinheiro nem para pagar os juros, quanto mais as parcelas da dívida. Todo ano o tesouro apresenta déficit e mais uma vez o Estado é obrigado a se socorrer de empréstimos dos endinheirados convencidos por taxas de juros cada vez maiores e que agravam ainda mais o déficit. Na outra ponta está a arrecadação. Ninguém quer pagar impostos. Alguns setores ganham do Estado isenção tributária sob o pretexto de poder fazer frente à concorrência dos importados e gerar empregos. Os pagadores de impostos fogem como podem. Uns simplesmente sonegam. Outros conseguem leis privilegiadas. Outros ainda confessam a dívida, mas esperam por descontos generosos para quita-las. Uma ciranda que privilegia os rentistas e agrava a situação da população que não tem como escapar dos impostos. A crise vivida é muito mais de ordem financeira do que econômica.
O pais acumulou uma dívida vultosa e sua renda é insuficiente para pagar os juros e a inchada máquina estatal. Há a necessidade da escolha de um ministro da economia que seja pragmático, mas que ao mesmo tempo seja terno e flexível. Um daqueles homens que falam com o mercado e são os fiadores da dívida perante os bancos. A tentativa de reorganização da dívida é a colocação no mercado de títulos da dívida pública, cada vez mais desacreditados. Os financiadores, contudo, estão de olho na questão política, para onde vai o pais e se há algum risco do ministro articular um calote no mercado. Ninguém dorme sossegado. A única saída possível é a assembleia, contar com os deputados para a aprovação de leis que acabem com os privilégios e crie novos impostos. Há uma reação forte no centrão sob o pretexto que a carga tributária é alta, o povo não pode pagar, e que é necessário cortar na carne, desengordurar a estrutura do Estado dos parasitas e diminuir os gastos. A realeza e a nobreza reagiram e forçaram a demissão do ministro Necker. Ele não conseguiu fazer os milagres que o rei Luís XVI esperava. O terceiro estado liderado pela burguesia tomou conta da Assembleia Nacional e redigiu uma constituição para transformar a monarquia absolutista. A reação da nobreza foi o estopim para o início da revolução que mudou o rumo político da humanidade.
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