A comunicação brasileira não contará mais com o trabalho de um premiado e combatente profissional. O jornalista Audálio Dantas morreu nesta quarta-feira, 30, conforme informa a Agência Brasil. Aos 88 anos, ele estava internado no Hospital Premier, em São Paulo. A família não deu detalhes sobre a causa da morte. Figura imponente do jornalismo nacional, o comunicador lutava contra um câncer que teria evoluído para metástase.
Natural de Tanque D’Arca, cidade do agreste de Alagoas, Audálio Dantas construiu carreira de sucesso na mídia escrita, de acordo com o arquivo do Portal dos Jornalistas. Começou a carreira de jornalista em 1954, na Folha de S. Paulo, então chamada de Folha da Manhã. Seis anos depois, trocou de redação e foi trabalhar como repórter na revista O Cruzeiro. Na publicação, atuou, ainda, como redator e chefe de reportagem. Trilhando caminhos na mídia impressa, foi contratado pela Quatro Rodas em 1966. Mais tarde, somou passagens pela revista Realidade, onde foi redator e editor. Na primeira metade da década de 1970, trabalhou nas revistas Manchete e Nova. Depois de experiências em outras áreas, passou pela revista Negócios da Comunicação, sendo seu diretor-executivo de 2008 a 2014.
Em 1975, Audálio Dantas trocou o dia a dia das redações pela luta em defesa do jornalismo livre e, consequentemente, batalha contra a ditadura militar que ditava as regras no Brasil à época. Assumiu a presidência do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo quatro dias após o assassinato de Vladimir Herzog. No posto, teve coragem para denunciar a farsa montada pelos militares, que simularam que Vlado tinha cometido suicídio. Assim, liderou encontros em memória do colega – a destacar o ato ecumênico na Praça da Sé, na capital paulista; o evento religioso ficou marcado como uma das atividades em prol da redemocratização do país.
Depois de presidente do sindicato dos jornalistas, o já reconhecido profissional se aventurou na política. Foi eleito deputado federal em 1978, quando era filiado ao antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) de São Paulo. Tendo como bandeira de seu mandato a defesa das liberdades, sobretudo o livre trabalho da imprensa, foi agraciado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A entidade internacional concedeu-lhe o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos, em 1981.
Fora da Câmara dos Deputados após cumprir um único mandato como parlamentar, Audálio Dantas voltou aos trabalhos em defesa da classe jornalística. Em 1983, foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Mais de duas décadas depois da eleição histórica, assumiu cargo em outra entidade do setor. De 2005 a 2008, atuou como vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Premiado por reportagens e pela defesa ferrenha da liberdade de expressão, Audálio Dantas também se destacou como editor no mercado editorial. Foi dele a organização dos diários de Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Os relatos da escritora descoberta pelo craque do jornalismo brasileiro resultaram em reportagens publicadas por Folha da Manhã e O Cruzeiro. O destaque maior, contudo, veio depois, com o comunicador organizando o material em livro. Dessa forma, nasceu, em 1966, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. O título remetia à vida encarada por Carolina, moradora de comunidade na região central da cidade de São Paulo. Segundo reportado pela Agência Brasil em 2014, a obra vendeu mais de 100 mil exemplares, sendo comercializada em mais de 40 países e traduzida em 13 idiomas. O jornalista ainda teve outros livros publicados.
A morte de Audálio Dantas – que deixa a mulher Vanira Kunc, quatro filhos e netos – comoveu profissionais da imprensa. Fundador do Jornalistas & Cia, Eduardo Ribeiro garantiu que trata-se de perda para o Brasil e o jornalismo. “Boa viagem, Audálio”, escreveu em sua página no Facebook. Outro expoente da mídia nacional, Ricardo Kotscho usou o seu blog para definir que morreu um “digno cidadão brasileiro”.
Abaixo outras mensagens que reforçam: nosso país passa a contar com um talento a menos no jornalismo.
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