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YouTube: um novo local para o jornalismo?

Fundo do YouTube inscrições abertas
O programa do YouTube é destinado a comunicadores negros de cinco países. (Imagem: iStock)
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Trabalhar na rede social mais utilizada no Brasil também tem sido uma escolha para muitos jornalistas. Com mais de 2 bilhões de usuários ativos, de acordo com as estatísticas do YouTube para a imprensa, trocar a rotina dos veículos de comunicação tradicionais pela de youtuber se tornou uma opção atraente. Mas, afinal, essa mudança é um caminho seguro e tranquilo para os comunicadores?

Com os avanços da internet, a linha que separa os canais tradicionais de comunicação e as redes sociais está cada vez mais tênue. Segundo o relatório Digital in 2020, produzido pela We are Social em parceria com a Hootsuite, 66% da população brasileira (140 milhões de pessoas) é usuária de redes sociais. Outro dado apresentado no relatório revela ainda que, a nível mundial, a população passa cerca de 2 horas por dia consumindo conteúdos em redes sociais.

A jornalista e cineasta Krishna Mahon, atualmente, vive as duas realidades. Ela, que trabalha na rede Bandeirantes e é dona do canal do YouTube ‘Imprensa Mahon’, explica que os dois tipos de produções vivem um momento em que se misturam. “A gente vê TV pelo YouTube, conteúdos que foram feitos por produtoras profissionais [também na rede social] ou coproduções com os canais. Além disso, os canais estão cuidando das suas redes e canais do YouTube, então tem uma mistura acontecendo que é muito boa e muito saudável”, pondera.

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De acordo com o Digital 2020 July Global Statshot report, também publicado pela We are Social em parceria com a Hootsuite, 27% dos entrevistados utiliza a rede social como fonte de informações. Assim, veículos de imprensa tradicionais também seguiram esse caminho da produção de vídeos para o YouTube. Emissoras como Globo, SBT, Record, Band e RedeTV somam mais de 20 milhões de inscritos.

O jornalista esportivo Lito Cavalcanti também acredita que as redes sociais e os veículos mais tradicionais devem caminhar juntos. Após uma extensa carreira, passando por todos os formatos de jornais e editorias, agora ele se dedica ao canal no YouTube, que também leva seu nome. Para ele, a autonomia de criação e produção é um atrativo na plataforma em que fala sobre sua especialidade: a Fórmula 1.

“O jornalismo em si, é o mesmo. Mas a plataforma muda muito. Como repórter antigo, você apurava, chegava no jornal, escrevia, passava o texto para o copydesk e poderia ir para o bar. Agora não é mais assim, você tem que ficar mais presente, e quando passa para o YouTube, você é tudo, mas é muito mais simples por que não tem que combinar nada com ninguém”, explica.

Rotina de youtuber

Krishna Mahon criou seu canal no YouTube para conversar com os colegas de profissão e ajudá-los. Com conteúdos direcionados à produção audiovisual, ela realiza entrevistas e dá dicas sobre a área. “O audiovisual, quando eu entrei, era muito branco, heterossexual, rico, uma coisa de meninos, de homens. Foi aí que falei: o conhecimento precisa ser democratizado para essa cara mudar. Foi daí que nasceu o Imprensa Mahon”, lembra.

Mesmo acostumada às rotinas de produção, gravação e pós-produção, Krishna enfatiza que a plataforma exige muito trabalho e gastos. Por esses motivos, ela quase desistiu logo no início. Hoje, divide o trabalho com uma equipe que auxilia na produção de conteúdo para todas as redes sociais do canal.

Lito conta que a desistência nos primeiros meses é frequente, principalmente porque muitos profissionais decidem começar o canal com produções caras e uma equipe grande, mas não têm retorno financeiro. Além disso, ele ressalta que ao se tornar youtuber, é preciso gostar de um trabalho sem rotina.

“Na verdade, o YouTube, como tudo na internet, te consome sete dias por semana, 24h por dia. Não tem descanso, você está a um passo do seu escritório por que ele fica em casa, então se você pensa alguma coisa, levanta da cama, vai lá e faz. Então não tem o tal do marasmo, da rotina, mas é uma coisa que me causa prazer”, afirma.

Outro desafio é aprender a lidar com o sistema de monetização da plataforma. Os dois jornalistas concordam que a profissão pode ser uma vantagem para quem começa no YouTube, pelo costume com a câmera, mas isso não garante o sucesso rápido. De acordo com o regulamento do site, o produtor de conteúdo pode ganhar dinheiro de cinco formas:

Receita de publicidade: receita gerada por anúncios de display, sobreposição e vídeo.
Apoio ao canal: ocorre quando os apoiantes efetuam pagamentos mensais recorrentes em troca de benefícios especiais.
Prateleira de merchandise: os fãs podem procurar e comprar merchandise oficial de marca apresentado nas suas páginas de visualização.
Super Chat e Super Stickers: os fãs pagam para que as mensagens deles apareçam realçadas nas streams de chat.
Receita do YouTube Premium: recebimento de parte da taxa de subscrição dos subscritores do YouTube Premium quando virem o conteúdo.

Além disso, também deve atender aos seguintes requisitos:

Para Krishna, apesar das dificuldades, o resultado do esforço é gratificante e pode ser percebido pela proximidade com o público. “Quando recebo mensagens, respiro fundo e isso me dá uma força e uma garra para não desistir, para entender que é muito trabalho, que é caro, que tenho que despender meu tempo, mas que vale a pena. Eu fico feliz, grata, acho que é a coisa mais linda que consegui fazer, até hoje”, revela.

Afinal, a carreira no YouTube se mostra tão difícil quanto o jornalismo tradicional. Por isso, Lito aconselha que esse trabalho seja feito com seriedade, mas visto como uma forma de diversão. “É bom ter cuidado, porque o YouTube não dá dinheiro. Você não vai viver de YouTube, você vai morrer de YouTube”, brinca.

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Julia Renó

Jornalista. Natural de São José dos Campos (SP), onde vive atualmente, após temporadas em Campo Grande (MS). Formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MS) e voluntária da ONG Fraternidade sem Fronteiras, integrou o time de jornalistas do Grupo Comunique-se de julho de 2020 a abril de 2022.

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