O prêmio, considerado o mais antigo entre os jornalistas, contemplou Patrícia Campos Mello por seu trabalho investigativo
A diretora da Abraji e repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo, Patricia Campos Mello, foi uma das ganhadoras da edição de 2020 do Prêmio Maria Moors Cabot, a mais antiga premiação a jornalistas. O texto de apresentação da brasileira destaca seu trabalho investigativo, mesmo em uma conjuntura na qual o jornalismo independente está sob ataque no Brasil e em outros países das Américas. “Não há democracias sem Patrícias, sem uma imprensa livre”, anuncia a homenagem.
Concedido desde 1939, o Maria Moors Cabot é oferecido anualmente pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. A premiação reconhece profissionais de imprensa com carreiras excepcionais na cobertura do mundo ocidental e que colaborem para um maior conhecimento sobre as Américas. Além de Patricia Campos Mello, foram agraciados Ricardo Calderón Villegas, repórter investigativo da Colômbia; Stephen Ferry, fotojornalista dos Estados Unidos; e, do mesmo país, a correspondente da NPR (National Public Radio) Carrie Kahn.
Os vencedores recebem uma medalha de ouro e 5 mil dólares cada um. A cerimônia virtual de entrega do prêmio, seguida de uma roda de conversa, será realizada no dia 13.out.2020.
Desde que publicou a série de reportagens sobre o esquema de caixa dois para impulsionar desinformação na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, Campos Mello vem sendo alvo de ataques feitos pelo próprio presidente, pelos filhos dele e apoiadores. Dois relatórios publicados pela ONG Repórteres Sem Fronteiras em 2020 citam as hostilidades a Campos Mello como parte de um sistema de ofensas a mulheres jornalistas.
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“Eu não sou a única. Existem várias outras jornalistas mulheres no fronte. A gente convive nesse novo ambiente em que o jornalista virou alvo. Somos sistematicamente intimidados”, conta a repórter especial da Folha. E complementa: “Temos de fazer o que já fazemos: focar na notícia, na matéria, na investigação. Não somos oposição, nem apoio a nenhum político de nenhuma corrente ideológica. O ideal é isolar esse ruído, essa intimidação toda e focar nas investigações”.
Marcelo Beraba, conselheiro e um dos fundadores da Abraji, afirma que o reconhecimento dado à jornalista é mais do que merecido. “Patricia tem uma sólida história de cobertura da política internacional e teve recentemente um papel importantíssimo ao nos revelar o esquema corrompido de uso eleitoral das redes sociais.”
A repórter se diz mais estimulada a continuar seu trabalho no jornalismo investigativo depois de receber a premiação. “É um super-apoio e, se pensar que grandes ídolos já ganharam esse prêmio, como Clóvis Rossi, Miriam Leitão, Dorrit Harazim e Rosental Calmon Alves, dá ainda mais ânimo”.
Valorização da imprensa
Campos Mello afirma que o atual momento é de revalorização da imprensa. “O jornalismo estava passando por uma época difícil, tanto no modelo de negócios, quanto na credibilidade. De repente, no meio da epidemia de covid-19 e de uma crise política, muitas pessoas se deram conta da importância do jornalismo profissional. Gente que está apurando fatos, ouvindo o contraditório, checando informação.”
Campos Mello ressalta a importância da iniciativa dos principais veículos de imprensa de consolidar os próprios dados da epidemia de covid-19 no Brasil, com apoio das secretarias estaduais. A jornalista, que já fez cobertura de outras epidemias, como a do ebola, em Serra Leoa, na África, e a do zika, no interior de Pernambuco, avalia que dessa vez a situação é diferente. “Além de fazer reportagem no campo, de se expor à contaminação, ainda temos que lidar com um governo que está tentando de alguma maneira minimizar a epidemia”.
Nesse contexto, a repórter elogia o desempenho da imprensa em seu importante papel de construir um registro histórico da crise sanitária. Campos Mello também foi testemunha da história em outros momentos importantes, como quando cobriu os desdobramentos do atentado de 11 de setembro ao World Trade Center, em Nova York.
Patricia Campos Mello foi a 37ª brasileira a receber o Prêmio Maria Moors Cabot. Além dela e dos outros profissionais já citados, a honraria foi oferecida a jornalistas e publishers como José Hamilton Ribeiro, Alberto Dines e Fernando Rodrigues. Confira a lista completa:
Paulo Bittencourt (1941)
Sylvia Arruda Botelho Bittencourt (1941)
Assis Chateaubriand (1945)
Orlando Ribeiro Dantas (1948)
Elmano Cardim (1951)
Belarmino Austregésilo de Athayde (1952)
Carlos Lacerda (1953)
Danton Jobim (1954)
Breno Caldas (1955)
Herbert Moses (1957)
Roberto Marinho (1957 e 1965)
Hernane Tavares Sá (1959)
M.F. Nascimento Brito (1967)
Alceu Amoroso Lima (1969)
Alberto Dines (1970)
Fernando Pedreira (1974)
Carlos Castello Branco (1978)
Luis Fernando Levy (1987)
Roberto Muller (1987)
Paulo Sotero (1987)
Roberto Civita (1988)
Carlos Lins da Silva (1991)
Ricardo Arnt (1991)
Gilberto Dimenstein (1991)
Otávio Frias Filho (1991)
Clóvis Rossi (2001)
João Antônio Barros (2003)
Miriam Leitão (2005)
José Hamilton Ribeiro (2006)
Merval Pereira (2009)
Norman Gall (2010)
Mauri Konig (2013)
Lucas Mendes (2015)
Rosental Calmon Alves (2016)
Dorrit Harazim (2017)
Fernando Rodrigues (2018)
Patricia Campos Mello (2020)