Em mais um artigo para o Portal Comunique-se, o revisor de textos Edson de Oliveira aborda o seu próprio trabalho enquanto profissional autônomo
Nunca duvidei da máxima murphyniana que diz que nada está tão ruim que não possa piorar. Quando achei que o pagamento que eu havia recebido em janeiro, cerca de 70% do que recebera em dezembro, era pouco, não imaginava quão pouco iria achar o que iria receber em fevereiro, 50% do que recebi em janeiro.
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Para não deixar atrasar o pagamento das contas que ficam comigo, porque, de atraso, já chega o da conta do condomínio, já comecei março pedindo $ocorro a dois amigos, ao primeiro, para pagar a conta da internet e, ao segundo, a do condomínio, ou, se achasse menos vergonhoso, mais uma vez, teria de pedir ajuda a minha mulher, cujas contas tiram do fixo e garantido salário dela, no mínimo, quatro vezes (!) o que as minhas tiram do oscilante e incerto salário meu.
“Pagamento só seria depositado no último dia do mês ou no Primeiro de Abril”
Mas, para quem (é feliz e) não sabe, vida de autônomo, “or, if you prefer”, freelancer, é assim mesmo, quando o dinheiro da luta pela sobrevivência não é pouco, falta ou atrasa, como o último deste escrevinhador atrasou, porque, a cinco dias do fim de março, fui surpreendido por um comunicado de um cliente informando que, por causa do atraso do pagamento de dois clientes dele, excepcional e infelizmente, o pagamento só seria depositado no último dia do mês ou no Primeiro de Abril (!).
Ainda bem que, até lá, eu poderia contar com o dinheiro de um livro que havia pegado para revisar, que já daria para pagar pelo menos a próxima conta da internet.
Se, por um lado, por causa da resistência do meu em informar-me seus dados bancários, não consegui depositar-lhe o dinheiro da conta que ele pagou para mim, por outro, mesmo correndo o risco de perder uma amiga certa nas horas incertas, depositei o dinheiro (do empréstimo) para pagar a conta do condomínio.
Se as pessoas que admiram meu ofício soubessem quanto Maria Rosa, personagem de “O Feijão e o Sonho”, de Orígenes Lessa, ama a profissão pela qual seu marido é apaixonado, mudariam de opinião sobre ele.