Na noite da última quinta-feira, 9, ao menos cinco profissionais de imprensa foram atacados enquanto cobriam a saída da seleção brasileira de um hotel localizado no bairro de Boa Viagem, na zona sul do Recife (PE). Torcedores que também aguardavam os atletas lançaram pedras, plantas e água e proferiram xingamentos contra equipes de reportagem que, segundo eles, obstruíam a visão que teriam dos jogadores.
Leia mais:
- Correspondente do SBT chega ao Afeganistão
- Fora do ‘Domingão’, Tiago Leifert decide deixar a Globo
- Resultados das manifestações para a imprensa: equipes hostilizadas e agredidas
Por volta das 16h30, a equipe de reportagem do Globo Esporte do Recife chegou ao local para fazer a cobertura. Em entrevista à Abraji, a produtora Sarah Porto afirmou que as hostilidades começaram quando a entrada do hotel em que a seleção se hospedou se encontrava relativamente vazia. Segundo a jornalista, mais de uma vez, sua equipe teve que fazer entradas ao vivo em meio a gritos como “Globo lixo”.
Os atletas estavam no Recife para disputar a partida contra o Peru pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022. Conforme os jogadores começaram a sair do hotel, a partir das 19h, a situação se agravou. De acordo com a jornalista, torcedores chegaram a gritar “sai da frente, puta”, antes de darem início aos arremessos.
Além do cinegrafista e da produtora do Globo Esporte, segundo apuração da Abraji, foram alvo dos arremessos um cinegrafista da TV Jornal, afiliada do SBT no Estado, e uma equipe do jornal Folha de Pernambuco, formada por um fotógrafo e pelo repórter esportivo William Tavares.
O repórter da Folha de Pernambuco contou que as equipes dividiam um espaço apertado reservado para a imprensa e que precisaram se posicionar em frente à torcida para registrar a saída dos jogadores. Foi quando passaram a ser atingidos por pedras, plantas e água.
As pessoas não conseguem entender que estamos exercendo a nossa profissão.
Sarah Porto
Um segurança do hotel já estava segurando a grade de proteção devido ao tumulto e à aglomeração. Os ataques cessaram somente quando uma das vítimas acionou policiais que deixaram uma área mais próxima ao hotel para controlar a situação, formando uma espécie de barreira.
Sarah Porto disse ter ficado atônita com o ocorrido, inclusive com os comentários misóginos que recebeu. “Ninguém está em um escritório e chama alguém de gostosa. As pessoas não conseguem entender que estamos exercendo a nossa profissão”.
Em seu perfil no Twitter, Porto fez uma reflexão: “Imagine um dentista, um médico, um frentista, um gari, qualquer trabalhador que esteja exercendo o seu ofício ser APEDREJADO porque está na frente de um cidadão que quer ver algo que está depois da pessoa”.
A Abraji registrou 242 casos de ataques a jornalistas no país entre janeiro de 2021 e agosto de 2021 – um aumento de 23,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
*Matéria originalmente publicada no site da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)