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Agressões a jornalistas: Para ABI, Bolsonaro “envergonha o Brasil”

Agressões de jornalistas: Para ABI, Bolsonaro "envergonha o Brasil"
O presidente da República foi responsabilizado pelas agressões. (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil).

A entidade considera o presidente responsável pelos ataques à imprensa, realizados no último domingo, 29

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“Mais uma vez o senhor envergonha o Brasil, presidente”, assim inicia a carta aberta da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), destinada a Jair Bolsonaro, após as agressões sofridas por jornalistas brasileiros na Itália. A entidade enviou o texto em apoio aos profissionais da Folha de S. Paulo, UOL, TV Globo e BBC News Brasil, agredidos por seguranças do presidente em cobertura do G-20, na Itália, no último domingo, 31.

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Para o presidente da entidade, Paulo Jeronimo, Bolsonaro incentiva agressões à imprensa e torna-se responsável pelo caso. “Mesmo assim, o senhor e os demais membros de sua comitiva, aí incluídos representantes do Itamaraty, foram incapazes de uma palavra de desculpa aos profissionais que estavam apenas trabalhando”, completou, no texto.

Segundo relato publicado na coluna de Jamil Chade, no UOL, mesmo antes da aparição de Bolsonaro, as agressões já haviam começado. Uma produtora da Globo foi intimidada por pessoas que apoiam o governo brasileiro e uma repórter da Folha de S. Paulo foi empurrada por um segurança.

Após um breve discurso, os jornalistas passaram a ser empurrados e a equipe da GloboNews foi agredida por policiais e seguranças italianos, chegando a dar um soco no repórter que fazia a cobertura. Ao tentar filmar a agressão, Jamil Chade foi empurrado, teve o braço agarrado, para torcê-lo, e o celular levado.

Veja a carta da ABI na íntegra:

Mais uma vez o senhor envergonha o Brasil, presidente.
Repudiado por governantes do mundo inteiro, em cada evento de chefes de Estado o senhor mostra que o País foi relegado a uma situação de um pária na comunidade internacional.
Na reunião do G-20 neste fim de semana, mais uma vez, o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção.
Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras.
É de dar vergonha.
Na cerimônia de abertura do evento do G-20, no sábado, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, cumprimentou os chefes de Estado e de governo com um aperto de mão, mas o evitou claramente, fato devidamente registrado pela imprensa italiana. Não quis ser fotografado ao seu lado.
Mas as coisas não ficaram por aí.
Percebendo que era quase um penetra na festa, o senhor preferiu não aparecer para a foto oficial com os estadistas do mundo inteiro. Sentiu a rejeição generalizada.
Tampouco sentiu-se à vontade para participar do passeio organizado pelo governo italiano para os líderes do G20, que tiraram fotos jogando moedas na Fontana di Trevi, tradicional ponto turístico de Roma.
Mas o vexame e a vergonha foram maiores. Não pararam por aí.
Seus seguranças agrediram jornalistas brasileiros e roubaram seus equipamentos em represália a perguntas simples sobre as razões pelas quais o senhor não cumpriria a agenda comum aos demais chefes de Estado.
Repórteres da TV Globo e do jornal “Folha de S. Paulo” e um colunista do Uol foram à delegacia de polícia formalizar queixa das agressões praticadas por seus seguranças. Foi, talvez, um acontecimento inédito.
Mesmo assim, o senhor e os demais membros de sua comitiva, aí incluídos representantes do Itamaraty, foram incapazes de uma palavra de desculpa aos profissionais que estavam apenas trabalhando. Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas brasileiros.
A ABI mais uma vez faz o registro: com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas.
E, como numa bola de neve, elas só aumentam seu isolamento e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional.
Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa.
O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente.
Tenha compostura.

Paulo Jeronimo

Presidente da Associação Brasileira de Imprensa

Repúdio na imprensa

Na imprensa, as agressões foram repudiadas em cartas e notas publicadas pelos veículos de comunicação dos jornalistas. Em editorial publicado pelo G1, a Globo presta solidariedade a todos os profissionais atingidos, mencionando em especial, Leonardo Monteiro, que fazia a cobertura do G20 pela emissora. A empresa de comunicação ressaltou, ainda, que busca informações sobre uma solicitação de investigação do caso.

“No momento, ficam o repúdio enfático, a irrestrita solidariedade a Leonardo Monteiro e demais colegas jornalistas de outros veículos e uma constatação: é a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque”, destacou o texto.

À coluna do jornalista Jamil Chade, o diretor de conteúdo do UOL, Murilo Garavello, defendeu que o episódio registrado na Itália é um reflexo dos atos do presidente da República, Jair Bolsonaro. “Esse episódio lamentável é reflexo direto dos atos do presidente. O comportamento dos seguranças espelha o de Bolsonaro, que reage com violência a quem simplesmente cumpre sua função ao seguir seus passos e o submeter a um contraditório que ele sempre busca evitar”, disse.

A Folha também comentou o caso de agressão. Em nota, o jornal se solidarizou com os profissionais da imprensa brasileira e classificou o caso como “inaceitável”. “A Folha repudia as agressões sofridas pela repórter Ana Estela de Sousa Pinto e outros jornalistas em Roma, mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional”.

Em matéria publicada em seu portal de notícias, a BBC também se manifestou em apoio aos jornalistas agredidos, destacando as agressões sofridas por seu repórter. “A BBC condena fortemente qualquer tipo de violência contra a imprensa e insiste que o governo brasileiro assegure a segurança de jornalistas no desempenho de suas funções no espaço público”, apontou.

Entidades de jornalismo

O episódio envolvendo os jornalistas que estavam em Roma também foi repudiado por outras entidades de jornalismo. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Federação Nacional de Jornalismo (Fenaj) e o Instituto Vladimir Herzog publicaram notas de crítica ao comportamento do presidente da República diante das agressões e repudiaram as agressões.

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Julia Renó

Jornalista. Natural de São José dos Campos (SP), onde vive atualmente, após temporadas em Campo Grande (MS). Formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MS) e voluntária da ONG Fraternidade sem Fronteiras, integrou o time de jornalistas do Grupo Comunique-se de julho de 2020 a abril de 2022.

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