O trabalho realizado no comando do podcast ‘UOL Investiga’, lançado neste mês com a primeira temporada dedicada a denunciar a vida secreta do atual presidente da República, rendeu ameaça à repórter Juliana Dal Piva. Na última sexta-feira, 9, ela registrou ter sido ameaçada por Frederick Wassef, advogado da família de Jair Bolsonaro. A situação fez com que a jornalista recebesse apoio de entidades de dentro e de fora da imprensa.
Em mensagem enviada à jornalista, que compartilhou a íntegra do conteúdo no blog que edita no UOL, Wassef chegou a sugerir o que poderia ocorrer com profissionais que buscam apurar informações relacionadas a autoridades em determinadas localidades. Para isso, citou como exemplo países reconhecidos por serem ditaduras. “Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”, escreveu o advogado próximo a Bolsonaro.
Ao revelar para o público a ameaça, Juliana Dal Piva destacou que a mensagem de Wassef fora enviada logo após a publicação de mais um episódio do podcast sobre a “vida secreta” de Bolsonaro. No conteúdo em questão, a jornalista trouxe à tona elementos que indicariam a participação do hoje mandatário do país em esquema de peculato envolvendo ex-assessores na época em que foi deputado federal. Também conhecido como “rachadinha”, o crime de peculato nada mais é do que uma forma de políticos se apropriarem de dinheiro público.
Desde que expôs a ameaça protagonizada por Frederick Wassef, Juliana Dal Piva tem recebido apoio de colegas, da chefia do UOL, de políticos e de entidades. Até o momento, a lista de instituições que saíram em defesa da jornalista conta com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Em nota, a Abraji destacou o fato de Wassef não ser o primeiro aliado do presidente da República a agir contra o livre trabalho de jornalistas. “Defendemos a liberdade de imprensa como direito garantido pela Constituição e pilar do Estado Democrático de Direito. Todo o apoio a Dal Piva, ao UOL e a todos os veículos e profissionais de imprensa que vêm sendo atacados sistematicamente desde que o governo Bolsonaro assumiu o poder, em janeiro de 2019”.
Por meio de carta assinada pelo presidente Paulo Jeronimo, a ABI fez questão de sinalizar que está à disposição para auxiliar a jornalista na parte jurídica. “Ao tomar conhecimento das ameaças feitas pelo advogado Frederick Wassef, hospedeiro do famigerado Fabrício Queiroz, entre outras proezas, expresso a solidariedade da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), colocando-nos à disposição para a adoção de medidas que se fizerem necessárias à sua proteção”.
Presidente da OAB, Felipe Santa Cruz anunciou pelo Twitter, ainda na última sexta-feira, que a instituição analisará o caso. “Minha solidariedade à jornalista Juliana Dal Piva . Vou determinar que a corregedoria da OAB apure o fato ocorrido e tome as medidas necessárias”, afirmou. A integrante do UOL agradeceu publicamente pelo apoio: “muito obrigado!”, registrou a jornalista ameaçada por Wassef.
Diante da ameaça, a jornalista Juliana Dal Piva e o UOL demonstraram não terem se intimidado. “Repudiamos o ataque cometido pelo advogado do presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, contra nossa colunista Juliana Dal Piva e reiteramos nosso apoio ao seu trabalho e nosso compromisso com o jornalismo sério, independente, apartidário e voltado para atender o interesse público”, afirmou o gerente-geral de notícias e entretenimento do portal, Alexandre Gimenez.
A colunista do UOL não é, contudo, a primeira jornalista a ser ameaçada pelo advogado da família do presidente Jair Bolsonaro. Repórter do Valor Econômico e especializada na cobertura de assuntos envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF), Luísa Martins foi às redes sociais para divulgar um episódio que teria ocorrido meses após a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
“Ele [Wassef] foi até a porta do STF e me coagiu a entrar no carro dele para reclamar de uma matéria”
Luísa Martins
“Embora assustador, o comportamento de Wassef infelizmente não surpreende: em 1º de outubro de 2019, ele foi até a porta do STF e me coagiu a entrar no carro dele para reclamar de uma matéria”, afirmou Luísa Martins. “Não é fato isolado. Minha solidariedade à incrível repórter Juliana Dal Piva”, continuou a jornalista em postagem no Twitter.
Enquanto são reveladas ameaças contra jornalistas mulheres protagonizadas por advogado sabidamente próximo à sua família, o presidente da República preferiu anunciar o que fez em relação à Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Senado para apurar supostas irregularidades no combate à pandemia da Covid-19 no Brasil. “Caguei para a CPI”, disse Bolsonaro, conforme destacou em uma de suas edições o jornal Correio Braziliense.
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