País marcado pela alta concentração da mídia, o Brasil tem visto seu mercado de jornalismo se diversificar na última década com a chegada de organizações internacionais. O exemplo mais recente é da CNN, que licenciou sua marca para uso de uma nova empresa brasileira — com promessa de 400 novas vagas para jornalistas.
Apenas nos últimos anos, o país de língua portuguesa recebeu filiais do The Intercept (que chegou em 2016), Huffington Post (2014), El País (2013) e BuzzFeed (2013), que se juntaram a veículos internacionais já em funcionamento no Brasil, como Vice e BBC.
E essas empresas internacionais chegaram apesar da legislação no país que limita a propriedade estrangeira de empresas de mídia. Em 2016, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) entrou com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo confirmação de que a lei que exige que empresas jornalísticas e de radiodifusão tenham pelo menos 70% de capital brasileiro também se aplica a sites digitais, como reportou a Folha de S. Paulo. No entanto, o caso ainda está parado na Corte.
O editor-executivo do The Intercept Brasil, Leandro Demori, acredita que o interesse no Brasil começou a crescer antes dos Jogos Olímpicos de 2014, quando houve uma corrida de organizações estrangeiras para estabelecer escritórios ou correspondentes no país. Embora a atenção internacional tenha diminuído após a competição, os recentes acontecimentos políticos no Brasil e na América Latina foram responsáveis por voltar novamente os olhos do mundo para a região, diz o jornalista.
Neste ano, Argentina, Uruguai e Bolívia vão passar por importantes eleições gerais, e a Venezuela continua imersa em uma crise que movimenta o cenário geopolítico global. No Brasil, os eleitores escolheram no ano passado um presidente de direita, depois de mais de uma década de administrações posicionadas à esquerda. O novo governo tem sido marcado pela relação tensa com a imprensa. Veículos internacionais consideram o presidente Jair Bolsonaro parte da extrema-direita.
De acordo com Elizabeth Saad, professora da Universidade de São Paulo (USP), por muito tempo o mercado da América Latina foi ignorado pelos grandes conglomerados de mídia. Esse fato, no entanto, se mostraria positivo, pois o jornalismo da região buscou criar uma série de inovações para usar o potencial local, diz a professora.
“O jornalismo latino-americano se tornou um campo forte e muito visível, e isso atraiu olhares dos que não olhavam para a gente”, disse Saad ao Knight Center for Journalism in the Americas. “Além disso, a audiência latino-americana é muito signativa em termos de negócio. Então juntou esses dois lados”.
Hoje, a maior parte dos meios de comunicação brasileiros está nas mãos de grupos familiares. Um estudo de 2017 das organizações Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Intervozes colocou o país em “alerta vermelho” devido à alta concentração de audiência e propriedade da mídia. A pesquisa mostrou que cinco famílias controlam 26 dos 50 veículos com maior audiência no Brasil.
Diante deste cenário, o professor de jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, Antonio da Rocha Filho, vê a concorrência imposta por novos veículos como uma oportunidade de a mídia nacional se “oxigenar”.
“Historicamente, os grandes meios de comunicação do Brasil sempre estiveram ligados a grupos familiares”, explica o acadêmico. “Com a chegada das organizações internacionais, em um primeiro momento, os meios se viram ameaçados. Mas hoje é uma situação imposta, não há como se fechar. O que eles devem fazer é correr atrás do prejuízo”.
No entanto, como foi mencionado anteriormente, há tentativas de organizações nacionais de clarificar se sites de internet se encaixam nas mesmas regras de propriedade sobre capital estrangeiro que regem outros veículos. Quando a ANJ entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal em 2016, eles pediam a opinião sobre se os sites internacionais de notícias deveriam aderir ao artigo 222 da Constituição Federal.
Além de limitar o capital estrangeiro nas empresas de mídia a 30%, a legislação diz que a “a responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada” também é restrita aos cidadãos do Brasil.
O diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira, disse na época à Folha de S. Paulo que a atuação de empresas de mídia estrangeira no país tratava-se de concorrência desleal, já que elas podem captar recursos no exterior. “Elas não estão aqui nas mesmas condições, então o que buscamos é que, para atuar no Brasil como empresa jornalística, se enquadrem na Constituição”, afirmou.
O editor-chefe do HuffPost Brasil, Diego Iraheta, no entanto, garante que as organizações internacionais vieram ao país para ficar — a chegada da CNN ao Brasil, segundo ele, reforça essa percepção, embora CNN Brasil seja apenas uma franquia — uma empresa brasileira obteve a licença para usar a marca CNN.
“É compreensível que empresas estabelecidas e líderes de segmento possam demonstrar algum desconforto com novos players em seus respectivos mercados. Isso se chama concorrência”, diz ele ao Knight Center for Journalism in the Americas. “Mas há demanda de leitores e consumidores por mais fontes de informação, por linguagens novas, por referências distintas”. Iraheta reforça que, em um ambiente de alto fluxo de desinformação, o momento agora é de fortalecimento do jornalismo, e não de “rixas entre empresas brasileiras e estrangeiras”.
“Entendo que quanto mais fontes de informação, mais plural é a formação de opinião dos cidadãos. E, num momento em que notícias falsas grassam, com chancela inclusive de contas oficiais, ligadas aos nossos governantes, mais importante é o jornalismo sério e responsável, que deve ser honrado pelos meios de comunicação”, afirma Diego Iraheta.
O The Intercept Brasil foi lançado em 2 de agosto de 2016, a primeira versão internacional da publicação online cuja sede principal é nos Estados Unidos. A redação brasileira fica no Rio de Janeiro, com cerca de 15 funcionários. A produção, segundo o editor-executivo, Leandro Demori, é pensada mais para o público externo do que para o brasileiro, parecida com a lógica de uma agência de notícias.
Uma das principais diferenças entre o Intercept e outros veículos brasileiros é o financiamento. O site é uma publicação da First Look Media, presidida pelo fundador do eBay e filantropo Pierre Omidyar. O modelo de negócios é nonprofit, e o Intercept Brasil também busca formas de diversificar sua renda, com projetos de crowdfunding e membership.
“De fato, ficamos mais confortáveis sabendo que tem uma fundação que nos sustenta e sabendo que não dependemos de publicidade”, diz Demori. “Muita coisa que investigamos não poderíamos publicar (em outros veículos)”.
Pertencer a uma organização internacional, no entanto, não é garantia de estabilidade financeira. Uma exemplo é o caso do BuzzFeed na América Latina. No Brasil, sete dos profissionais mais antigos da edição foram demitidos. “Eles estiveram comigo desde o começo, construíram o BuzzFeed no Brasil e, assim como a equipe que fica, são a razão do Brasil ser um mercado importante”, escreveu no Twitter a editora-chefe do site no Brasil, Manuela Barem.
No México, a divisão de notícias do BuzzFeed foi fechada após quase dois anos de funcionamento, como anunciou o editor Íñigo Arredondo Vera no Twitter. Essa movimentação segue a estratégia global de cortes da companhia: o fundador e CEO, Jonah Peretti, anunciou que reduziria em 15% sua força de trabalho.
Em janeiro, a Verizon Media, proprietária do Huffington Post, também anunciou cortes de 7% dos funcionários globalmente. O editor-chefe no Brasil, Diego Iraheta, no entanto, afirma que o conglomerado de mídia vê o Brasil como “um mercado absolutamente promissor” e cita parcerias com marcas para realizar iniciativas editoriais.
O HuffPost Brasil foi lançado em 28 de janeiro de 2014. Atualmente, são nove jornalistas na redação brasileira, que produzem notícias nas verticais de Política/Notícias; Mulheres; LGBT; Comportamento; Comida; e Entretenimento.
“Nos solidarizamos com nossos colegas do BuzzFeed que passaram por esse momento bastante difícil de cortes”, diz Diego Iraheta. “Nós enfrentamos o mesmo processo no início de 2017, com o fim da joint venture com o Grupo Abril. Na época, mais da metade das vagas foram cortadas”.
Apesar destes cortes recentes, a nova companhia por trás da CNN Brasil continua a montar sua redação. Américo Martins, diretor de jornalismo para a Europa e Américas da BBC e ex-presidente da EBC, foi contratado recentemente para ser o vice-presidente de conteúdo da emissora. O canal também trouxe três nomes da Record TV: Leandro Cipoloni, Virgilio Abranches e Fabiano Falsi. Jornalistas de todo país esperam para ver como as outras 400 vagas serão preenchidas.
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