O primeiro trimestre do ano não foi positivo para profissionais da imprensa brasileira, ao menos no quesito tranquilidade e segurança para se trabalhar. De acordo com relatório divulgado nesta semana pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o volume de ataques a comunicadores no país aumentou 38% no comparativo com o mesmo período do ano passado.
De 1º de janeiro a 31 de março de 2021, a entidade identificou 73 ataques direcionados, no geral, a jornalistas, outros profissionais relacionados ao setor de mídia e empresas de comunicação. Em números absolutos, o aumento foi de exatamente 20 casos — no primeiro trimestre de 2020, o monitoramento realizado pela Abraji havia identificado 53 episódios de violência (verbal ou física) contra comunicadores e veículos.
Assessora jurídica da associação, Letícia Kleim aponta que, no fim das contas, políticos aparecem como principais protagonistas de ataques contra jornalistas. “O monitoramento da Abraji lista agressões e ataques, restrições de acesso à informação, processos judiciais, uso abusivo do poder estatal e restrições na internet”, explicou, conforme texto publicado no site oficial da entidade. “Os discursos estigmatizantes — em que autoridades públicas descredibilizam a imprensa publicamente — seguem como o indicador mais comum nos ataques à imprensa no país”, prosseguiu Letícia, que não mencionou o nome de nenhum agente da política nacional.
Fora da estatística apresentada, o apresentador Diego Santos simboliza que o segundo trimestre começou com ataques a profissionais da imprensa no Brasil. Titular de noticiário exibido pela TV Norte Boa Vista, afiliada do SBT em Roraima, ele recebeu em casa um “presente” de destinatário misterioso: bilhete com duas balas de calibre 380.
No dia 6 de abril foi a vez da equipe da Rádio Comunidade, de Santa Cruz do Capibaribe (PE), ser alvo da ira de criminosos. Declarando-se apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, quatro homens invadiram a sede da emissora e ameaçaram os funcionários, principalmente o apresentador Júnior Albuquerque. Ele, por exemplo, foi ameaçado de agressão.
“Eles chegaram de surpresa. Um deles começou a me ameaçar dizendo que iria me bater, que Bolsonaro não era genocida, nem assassino, e que iria esperar o programa acabar para me pegar fora da rádio”, afirmou Albuquerque, informa a Abraji. As investigações do caso envolvendo a Rádio Comunidade estão sob cuidados da delegacia do município.
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