Um dia após ser eleito presidente da República, Jair Bolsonaro concedeu entrevistas a quatro dos principais canais de televisão do país. Na noite de segunda-feira, 29, ele apareceu pela primeira vez – ao vivo – em atração especial da Record TV. Depois, figurou nas telas de Band, Rede TV e SBT. Por fim, foi entrevistado pelo ‘Jornal Nacional’, da TV Globo. Em dois momentos, o integrante do PSL falou sobre órgãos da imprensa – especificamente do jornal Folha de S. Paulo e da EBC.
Além de ser a primeira emissora de TV a exibir uma exclusiva com Bolsonaro depois do pleito, a Record TV foi a que contou com a participação do político por mais tempo. Foram 30 minutos de entrevista conduzida pelo jornalista Eduardo Ribeiro. Entre outros assuntos, a mídia pública entrou em pauta. O presidente eleito demonstrou que não pretende manter o vínculo da União com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Ele sinalizou que irá encerrar as operações do grupo, ou repassá-lo à iniciativa privada.
“Não queremos a nossa propaganda em nossa TV oficial. A ideia nossa é privatizar ou extinguir. Não podemos gastar mais de 1 bilhão por ano com uma empresa que tem traço de audiência”, disse Bolsonaro, conforme registrado pelo site SRZD. “Preferimos confiar na mídia tradicional quando o governo quiser fazer os seus anúncios que tem que fazer. Há certos programas que só podemos atingir com o apoio da grande mídia”, prosseguiu o ainda deputado federal. A EBC foi lançada em 2007, no segundo governo Lula.
Depois de aparecer para os telespectadores do ‘Rede TV News’, ‘Jornal da Band’ e ‘SBT Brasil’, o próximo presidente da República foi entrevistado ao vivo pelo ‘Jornal Nacional’. A conversa de Bolsonaro com Renata Vasconcellos e William Bonner teve 12 minutos de duração e teve o trabalho da imprensa em discussão. O presidente eleito assegurou que respeitará a liberdade de expressão e o livre trabalho jornalístico. Fez questão, porém, de criticar diretamente a Folha de S. Paulo. Para ele, trata-se de jornal que produz notícias falsas.
Bolsonaro avaliou que a publicação perdeu toda a sua credibilidade. “Por si só esse jornal se acabou. Não tem prestígio mais nenhum. Quase todas as fake news que se voltaram contra mim partiram da Folha de S. Paulo. Inclusive a última matéria, onde eu teria contratado empresas fora do Brasil, via empresários aqui para espalhar mentiras sobre o PT. Uma grande mentira, mais um fake news do jornal Folha de S. Paulo, lamentavelmente”, disse o próximo mandatário do país. Na condição de entrevistado, sinalizou que o jornal paulistano ficará de fora de futuras partilhas da propaganda oficial do governo.
O conjunto de falas de Bolsonaro do ‘JN’ foi considerado pela edição do site Folha como “ataque”. No impresso desta terça, 30, a empresa de mídia definiu a postura do político como “ameaça”. Secretário de redação do jornal, Roberto Dias disse que a publicação agiu com “altivez, tranquilidade e transparência” diante da situação. Apesar de se colocar como alvo de ataques e ameaças de uma autoridade, a Folha ainda não viu nenhum entidade da área da comunicação social lançar nota de repúdio diante do ocorrido.
Até o momento, a defesa mais enfática do jornal paulistano foi feita por alguém de fora do Grupo Globo. Ao vivo, o âncora e editor-chefe do ‘JN’, William Bonner rebateu as afirmações de Bolsonaro. “Às vezes, eu mesmo achei que críticas que o jornal Folha de S. Paulo tenha feito ao ‘Jornal Nacional’ me pareceram injustas. Isso aconteceu algumas vezes. Mas para ser justo, do lado de cá, eu preciso dizer que o jornal sempre nos abriu a possibilidade de apresentar a nossa discordância, de apresentar os nossos argumentos, aquilo que nós entendíamos ser a verdade”, disse o apresentador. “A Folha é um jornal sério, é um jornal que cumpre um papel importantíssimo na democracia brasileira”, complementou o comunicador.
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