Existem aproximadamente 20 milhões de residências no Brasil que assistem televisão através de uma antena parabólica em Banda C, antenas circulares de 1,6 metros de diâmetro ou mais. Levando-se em conta uma média de 4,5 pessoas por residência, chegamos a um número de 90 milhões de brasileiros que assistem televisão através dessa plataforma. Isso significa que quase metade da nossa população está atrelada a este modelo de recepção.
Os sinais que chegam até as parabólicas trafegam em parte, na frequência de 3,5GHz. A Banda C, que transmite os sinais de televisão via satélite para a parabólica, atua na frequência de 3,7 GHz a 6,45 GHz, enquanto o 5G deverá utilizar de 3,3 GHz a 3,7 GHz. E é aí que surge o conflito com o 5G.
A tecnologia 5G é a próxima geração de rede de internet móvel e proporcionará uma internet mais rápida e mais estável. O problema é que essa inovação necessita de parte da frequência que hoje está sendo usada para a transmissão dos sinais nas parabólicas.
O 5G e as parabólicas podem conviver, porém, alguns canais de televisão transmitidos pelas parabólicas sofreriam interferência nas regiões onde uma antena de 5G estiver próxima a uma antena parabólica. No caso dessas antenas ficarem afastadas não haveria interferência alguma na recepção de sinal.
Como solução para as possíveis interferências, foram discutidas duas possibilidades: diminuir o problema distribuindo filtros instalados nas TVs ou a total migração da parabólica para outra frequência. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não aceitou a alternativa de instalar filtros nas parabólicas e optou pela migração de todas as parabólicas instaladas para a Banda Ku, uma outra faixa de frequência de internet.
No começo de 2021 a Anatel aprovou o edital que define as regras para a licitação da tecnologia 5G no Brasil. A novidade levantou dúvidas sobre o que acontecerá com quem utiliza parabólicas para a televisão aberta, exatamente por essas antenas ocuparem uma mesma faixa de frequência do 5G.
Ainda não há prazos definidos, mas o edital estabeleceu que as operadoras que comprarem lotes do 5G deverão distribuir receptores e antenas menores (Banda Ku) para os brasileiros que utilizam parabólicas, incluindo a instalação. Esses kits só serão disponibilizados para famílias cadastradas no programa bolsa-família do Governo Federal. Apenas 8 milhões de famílias estão cadastradas nesse plano, o que deixaria outras 12 milhões de famílias com a responsabilidade de custear do próprio bolso essa migração para continuar a receber o sinal de televisão de forma gratuita via satélite.
O dinheiro para a migração virá do valor pago na licitação do 5G — o que diminuirá a parte que sobra para investir em infraestrutura de banda larga em lugares com conexão ruim. Estima-se que isso custará R$2,8 bilhões de reais aos cofres públicos.
Além disso, a Anatel definiu que o processo será coordenado por uma entidade que ainda deve ser criada e que ficará responsável pela distribuição e instalação dos equipamentos.
Essa mudança de tecnologias deve durar cerca de dois anos e durante esse período haverá a chamada dupla iluminação, onde emissoras continuarão as transmissões por Banda C e iniciarão as transmissões por Banda Ku.
*Mario Finamore é CEO e founder da ‘Broadcast Media do Brasil’, uma empresa que atua no setor de media e televisão (sinal aberto, sat, cabo, streaming, etc.).
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