O Diário de S. Paulo promete voltar a circular “em breve” nas bancas de jornal. Ao menos é o que afirma o texto assinado pelo jornalista Jair Viana e divulgado na segunda-feira, 7. Na internet, com o domínio spdiario.com.br em vez de diariosp.com.br, os trabalhos já foram retomados. Porém, os materiais que passaram a ser veiculados no novo site podem causar problemas legais para a marca. Isso porque, conforme conferiu a reportagem do Portal Comunique-se, os conteúdos são meras cópias de produções originalmente desenvolvidas por outros veículos de mídia, como G1 e rede Bom Dia. Em outras palavras, a volta do Diário de S. Paulo está sendo marcada por plágios.
Somente nos últimos dois dias, o site do Diário de S. Paulo publicou pelo menos oito textos (ao menos até às 16h). Todos aparecem com a marcação de terem sido produzidos pela “redação”. Em nenhum consta a assinatura de profissionais da casa. Até porque não foram produzidos internamente. Foram cópias de reportagens de outros veículos. Portal de notícias do Grupo Globo, o G1 foi vítima de dois plágios.
Produzida pela equipe do veículo em Brasília, a reportagem “Ministério Público denuncia 26 pessoas na Operação Greenfield” foi integralmente copiada (e colada). O Diário de S. Paulo reproduziu até o ponto final que, por padrão, o G1 insere em suas linhas finas. Transcrição de matéria exibida da edição de ontem do ‘Jornal Nacional’, “Manchas em praias do Nordeste são mistura de óleos venezuelanos, diz relatório da Petrobras” também aparece no DSP. A única diferença é que, na hora de dar “Ctrl C + Ctrl V”, o nome da estatal foi ignorado no título.
As demais pautas veiculadas pelo novo site do Diário de S. Paulo — e mapeadas pela reportagem do Portal Comunique-se — também não são originais. Mas diferentemente das cópias vindas do G1, não são necessariamente plágios. Os outros materiais são reproduções do Grupo Bom Dia. Sediada em São José do Rio Preto, no interior paulista, a empresa de comunicação é, desde 2015, propriedade de Kleber Moreira. O empresário, conforme informa Ivan Martínez-Vargas na Folha de S. Paulo, é o novo dono da marca Diário de S. Paulo. Tratam-se, nesse caso, de reproduções de conteúdos entre redações da mesma rede. Ao jornal paulistano, ele confirmou que comprou os direitos do DSP por R$ 30 mil. Na reportagem, a Folha destaca que o executivo já enfrenta processos na Justiça. Ações judiciais que podem aumentar, uma vez que cometer plágios configura em prática criminosa.
Caso a equipe do G1 acione Kleber Moreira judicialmente por causa dos plágios, o novo dono do Diário de S. Paulo pode inclusive ser preso. Ao menos, é o que prevê o artigo 184 do Código Penal. “Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa”, descreve o inciso primeiro do artigo, de acordo com a informação do Portal Educação. Até o momento, a reportagem do Portal Comunique-se não conseguiu contato com o empresário Kleber Moreira para comentar os plágios presentes na nova versão do Diário de S. Paulo. A direção do G1 ainda não se pronunciou sobre o tema.
Os plágios podem ser apenas mais um problema para a marca Diário de S. Paulo. Com a circulação interrompida desde janeiro de 2018, quando teve a sua falência decretada pela Justiça, a marca já vinha enfrentando dificuldades. Em outubro de 2017, jornalistas então contratados da casa ficaram em greve. A paralisação ocorreu em decorrência de frequentes atrasos salariais. Na ocasião, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo chegou a organizar um fundo para auxiliar os comunicadores grevistas. Meses após a greve, e já com o jornal sob intervenção judicial e fora das bancas, funcionários e colaboradores do DSP criticaram a decisão em paralisar as atividades do veículo de mídia. Paralisação que se manteve até esta semana (ao menos no online, que, com plágios, voltou a publicar novos conteúdos).
Ao anunciar que “em breve” voltará, com direito a reativar a versão impressa, o Diário de S. Paulo resgata a sua própria história. O texto assinado por Jair Viana destaca, entre outros pontos, os executivos e grupos de mídia que passaram pelo comando da empresa. Surgido com o nome Diário Popular, o jornal nasceu em 1884, a partir da ideia da dupla José Maria Lisboa e Américo de Campos. Depois, a marca passou a pertencer à família de Orestes Quércia (1938 – 2010), que até hoje administra outros negócios de comunicação no interior e litoral paulista. Em 2001, o veículo trocou de mãos, sendo comprado pelo Grupo Globo. Oito anos mais tarde, o corruptor J. Hawilla (1943 – 2018) comprou os direitos da corporação. Por fim, em 2013, Hawilla vendeu o controle para a então desconhecida Cereja Digital.
Apesar de historicamente sua circulação ser restringida a pontos da Região Metropolitana de São Paulo, a marca se coloca como um dos mais importantes projetos de mídia do país e do subcontinente latino-americano. “O Diário de São Paulo, considerado um dos mais importantes veículos da América Latina, volta a circular em sua versão impressa e também disponibilizado na versão web. O jornal, cuja a história surge em 1884, continua com seu dinamismo e seriedade. Idealizado por José Maria Lisboa e Américo de Campos, o jornal tem a marca de ser um dos principais veículos de comunicação do mundo”. É o que crava o texto de apresentação de retorno do jornal, que não informou que a volta se daria por meio de plágios.
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