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Diretor de redação da Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho morre vítima de câncer

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Jornalista e um dos donos do Grupo Folha morreu aos 61 anos. Otavio Frias Filho, que respondia pelo cargo de diretor de redação da Folha de S. Paulo, lutava contra um câncer no pâncreas

Pertencente à família que controla um dos maiores conglomerados de mídia do país, o Grupo Folha, Otavio Frias Filho morreu na madrugada desta terça-feira, 21. Aos 61 anos, ele lutava desde setembro contra um câncer no pâncreas. O empresário de comunicação estava internado no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. Formado em Direito e com pós-graduação em ciências sociais pela USP, ele trabalhou como jornalista, dramaturgo e ensaísta. Por mais de 30 anos, atuou como diretor de redação da Folha de S. Paulo.

O site da Folha publica com exclusividade reportagens que lembram a trajetória de Otavio Frias Filho. O veículo destaca, entre outros pontos, o empenho de seu diretor de redação em favor da redemocratização do país. “Otavio liderou campanhas das Diretas Já e reforma editorial“, crava um dos títulos da FSP sobre o jornalista vítima de câncer. A matéria destaca que ele assumiu a direção de redação em 1984, mas que começou a atuar no diário em 1974, quando tinha somente 17 anos. Seu primeiro artigo, porém, foi publicado em 1975.

Aberto a diversas opiniões

Otavio Frias Filho herdou o comando da Folha de S. Paulo de seu pai, Octávio Frias de Oliveira. Como destaque de sua gestão à frente do impresso esteve a abertura das mais diversas linhas de opinião. O próprio site da Folha pontua que ele participou da ideia de, em plena ditadura militar, dar vez a críticos do regime. Para ficar no âmbito da política, recentemente, o jornal chegou a ter como colunistas os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e a então petista Marta Suplicy (hoje sem partido). O presidenciável Guilherme Boulos (Psol) também teve coluna nos últimos tempos. O mesmo ocorreu com Kim Kataguiri, líder do MBL e candidato a deputado federal pelo DEM de São Paulo.

Decorrente de um câncer no pâncreas, a morte de Otavio Frias Filho, ou Otavinho, como era conhecido pelos colegas de imprensa, ocorre justamente no mês em que foi iniciada campanha publicitária que valoriza o jornal como defensor da “diversidade de opiniões”. “Dando voz a todas as correntes de pensamento encontradas na sociedade. Política, cultura, comportamento, economia e outros assuntos vistos por seus muitos ângulos”, informa parte da ação. A peça conta com vídeo na internet e inserções em emissoras de TV. O filme aborda como a Folha lida com artigos e reportagens sobre o ex-presidente Lula.

Maior jornal do país

Sob comando de Otavio Frias Filho, a Folha de S. Paulo se tornou o maior jornal do Brasil. Isso em tiragem e vendas. A primeira vez que a FSP chegou ao topo do mercado foi 1985, quando superou o carioca O Globo. Posição que perdurou por décadas. Nos último anos, porém, o diário paulistano foi superado no quesito impressões pelo Super Notícia, tabloide popular mantido pelo grupo mineiro Sempre Editora. Otavinho também foi um dos idealizadores do Manual da Folha, guia que registra o estilo textual – e de apuração – que rege a redação. Por todo o seu trabalho, foi tido como referência entre profissionais da imprensa e acadêmicos. Ele é um dos seis jornalistas perfilados no livro Eles Mudaram a Imprensa, da FGV.  “Jornalistas que tiveram uma participação fundamental na reformulação ou a criação de órgãos de imprensa brasileiros nas últimas três décadas do século XX”, anuncia a obra.

Ditabranda e passaralhos

Apesar de Otavio Frias Filho se colocar como defensor da redemocratização do país, editorial publicado pela Folha de S. Paulo em 17 de fevereiro de 2009 repercutiu negativamente. O texto usou o termo “ditabranda” para se referir ao período em que os militares estiveram no poder. O jornalista, empresário e diretor de redação demorou quase um mês para admitir que a publicação tinha errado. “O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis”, escreveu. O episódio foi lembrado pela reportagem do BuzzFeed News BR, que valoriza o feito de Otavinho ter imposto seu estilo “à imprensa brasileira”.

De maior jornal do país, a Folha de S. Paulo sob direção de Otavio Frias Filho enfrentou demissões em massa nos últimos tempos. Em abril deste ano, as redações da FSP e do Agora, também mantido pelo grupo, foram unificadas. Ao menos 10 jornalistas foram demitidos devido à operação.  Em 2016, o veículo passou por cinco passaralhos. Em uma dessas movimentações de enxugamento, editorias foram juntadas e a sucursal do Rio de Janeiro foi afetada. Atualmente, de acordo com registros do Workr, solução de comunicação corporativa desenvolvida pelo grupo Comunique-se, a redação da Folha conta com pouco mais de 200 profissionais.

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Fachada do prédio da sede da Folha de S. Paulo. Sob direção de Otavio Frias Filho, jornal se tornou o maior do Brasil (Imagem: reprodução/Google Maps)

Escritor e dramaturgo

Em meio ao noticiário sobre a morte de seu diretor de redação após meses de batalha contra um câncer, a Folha lembra que a vida profissional de Otavio Frias Filho não se resumiu ao jornal. Em sua carreira, ele escreveu livros. De Ponta-Cabeça, Queda Livre, Tutankaton, Um País Aberto e Seleção Natural são algumas de suas publicações. Como escritor, deixa duas obras prontas, informa o site da FSP. Otavinho deixou pronto o infantil A Vida é Sonho e Outras Histórias para Pensar e  uma coletânea de artigos escritos nos últimos anos. Não conseguiu concluir, porém, o livro que em que pretendia analisar os seus feitos e os de seu pai, de quem herdou o comando da Folha de S. Paulo. Como dramaturgo, produziu peças teatrais.

Luta contra o câncer

Otavio Frias Filho lutava contra um câncer no pâncreas desde setembro de 2017. A batalha contra a doença foi divulgada em abril por meio do blog editado pelo jornalista Fernando Morais. Ele revelou ter passado por uma cirurgia, além de ter encarado o tratamento quimioterápico. A doença, contudo, não foi capaz de fazer com que ele abandonasse de vez a gestão do jornal. “Não tenho ido à Folha nos dias em que há medicação e nos dois ou três dias subsequentes, dado que o quimioterápico provoca alguma náusea e dor de cabeça. Mantenho contato diário, por telefone e e-mail, com o jornal. Tenho dedicado algum tempo a retomar a feitura de um livro de ensaios que estava na gaveta”, contou na ocasião. Com o agravamento de seu estado de saúde, teve de ser internado no Sírio-Libanês.

Jornalistas lamentam perda

Otavio Frias Filho deixa a mulher, a também jornalista Fernanda Diamant, com quem teve duas filhas: Miranda e Emília. Também deixa três irmãos: a médica Maria Helena, Maria Cristina, responsável pela coluna ‘Mercado Aberto’, e Luiz Frias, presidente do Grupo Folha. A morte dele foi sentida para além dos familiares. Desde o início da manhã, figuras públicas, incluindo entidades e profissionais da imprensa, estão lamentando a perda. Boa parte destaca o empenho dele em modernizar a Folha e a mídia brasileira como um todo. “Uma das pessoas mais inteligentes que conheci, estupendo jornalista, autor de uma revolução na mídia, que perda”, escreveu Caio Blinder. “Otavio Frias Filho não liderou apenas o processo de modernização da ‘Folha’. Sua atuação foi decisiva para a mudança do jornalismo brasileiro; conceitos saídos da Barão de Limeira geraram consequências em todas as redações importantes”, analisou Fernando Molica.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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