Luís Antônio Giron tentou trabalhar de casa na última sexta-feira. Gripado em plena época do coronavírus, ele pensou em preservar a saúde dos colegas de redação
Diretor de redação da IstoÉ, Germano Oliveira não teria dado aval ao home office de seu editor de cultura. Pior, teria demitido o jornalista por mensagem de WhatsApp, pontua sindicato
Por mais que autoridades públicas orientem para que a população evite sair de casa, o comando da IstoÉ parece adotar postura oposta. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), a direção da revista não apenas negou que um editor — gripado — fizesse home office, como o demitiu. O alvo da decisão foi Luís Antônio Giron, responsável pelo núcleo de cultura do título. A entidade de classe afirma, ainda por cima, que a dispensa foi feita por meio de mensagem de WhatsApp.
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“Não terá home office, e vamos resolver logo a sua situação. Boce [Você] está fora certo [sic]?”, teria questionado o diretor de redação da IstoÉ, Germano Oliveira. O teor da suposta mensagem foi divulgado pelo site do sindicato. O gestor da publicação semanal mantida pela Editora Três teria, segundo o próprio SJSP, demonstrado negligência diante da situação. Uma vez que o coronavírus apresenta alguns sintomas similares a de uma gripe comum. “Gripe nunca foi ameaça a ninguém. Eu mesmo trabalhei gripado a semana passada inteira”, afirmou o diretor por meio de WhatsApp, conforme crava a entidade jornalística.
“Para não comprometer a saúde das pessoas, expondo os colegas a riscos, não compareci à redação e justifiquei a minha ausência. Fiquei com medo de ter sido contaminado e contagiar as pessoas no ambiente fechado da redação”. Foi o que disse Luís Antônio Giron ao sindicato. À entidade, ele dá a entender que foi mesmo dispensado por meio de mensagem do WhatsApp.
A equipe do sindicato garante que, pelo WhatsApp, Germano Oliveira ameaçou processar Luís Antônio Giron. O motivo? O jornalista dispensado cogitou ir atrás de seus direitos trabalhistas. Apesar de desempenhar função de editor de cultura da IstoÉ ao decorrer dos últimos anos, o jornalista não era devidamente contratado pela Editora Três via CLT. Ele atuava no sistema de pessoa jurídica (PJ). Nesse sentido, o comunicador recém-demitido já pode contar com o apoio por parte da direção do SJSP.
Presidente do SJSP, Paulo Zocchi classifica como abusiva a postura adotada pelo diretor de redação da IstoÉ. “É intolerável que se demita um profissional que, na atual situação de pandemia, segue as orientações oficiais dos órgãos de saúde e decide trabalhar de casa por estar com um quadro gripal”, diz o dirigente sobre Germano Oliveira. “O jornalista [Giron] mostra uma responsabilidade coletiva que a Editora Três, por suas práticas, jamais demonstrou”, complementa.
Outros problemas
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo destaca que os problemas da Editora Três não se limitam à dispensa de Luís Antônio Giron por WhatsApp. A entidade afirma que a empresa de comunicação, que mantém a IstoÉ e outras revistas, está devendo cinco meses de salários aos profissionais que trabalham sob regime de PJ e quatro para quem é contratado sob o regime CLT. A crise financeira obrigou o conglomerado de mídia a diminuir sua estrutura nos últimos anos. Somente em 2018, conforme o Portal Comunique-se noticiou, a IstoÉ fechou as portas de suas sucursais no Rio de Janeiro e em Brasília.
Até o momento, a reportagem do Portal Comunique-se não conseguiu contato com Germano Oliveira e com nenhum outro representante da direção da IstoÉ e da Editora Três.