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Eu leio, tu lês, ele lê. Será que todos nós lemos?

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A publicação digital fez sair da gaveta e da cachola dos contadores de estórias projetos de todos os tipos, para todos os gostos.

Pelo menos uma vez na vida a gente já ouviu dizer que brasileiro não lê. E, além dessa frase clichê cafona, quem gosta ou trabalha com literatura já ouviu também pelo menos um comentário preconceituoso contra os livros nacionais, especialmente os contemporâneos. Os autores aqui da terrinha tropical passaram anos carregando nos ombros duas “culpas” pesadas: a de serem brasileiros e a de serem contemporâneos. Se nascido brasileiro, o pecado já era mortal, mas se o sujeito, ainda por cima, cometesse o crime de estar vivo, o castigo era o fogo eterno do inferno literário. Se morasse no exterior havia muitos anos, ganhava indulgência e até algum crédito. Fora isso, a condenação era eterna, sem chance alguma de apelação.

E assim seguimos por um período repetindo e repassando essas verdades tortas de geração em geração, construindo no inconsciente nacional a certeza de que ler é chato, que ler nossos conterrâneos é brega e que o povo brasileiro tem várias características marcantes em sua personalidade: é bom de futebol, é bom de rebolado e é avesso aos livros.

Mas, como tudo na vida, esse tempo também está encarando o seu ocaso e essa realidade não reina mais absoluta no país do futebol e do requebrado. Com as grandes fantasias, as lindas histórias de amor, as inúmeras distopias, as ficções mirabolantes e as narrativas simples do dia a dia, escritas com uma linguagem que toca o coração, nossas crianças e nossos jovens vêm aprendendo que todo mundo tem direito de sonhar, e que sonhar é essencial. Assim, ganhamos uma nova leva de leitores e escritores que estão pipocando no mercado com força total. Essa tsunami literária trouxe blogueiros, divulgadores, grupos sociais e eventos voltados para a leitura. Ler entrou na moda, e essa moda veio para ficar.

Há quase três anos cavando o meu espaço no mercado literário, me deparei com uma realidade diferente da que via soprada aos quatro cantos. Descobri, para minha surpresa, que há sim movimentação nesse mercado. A princípio, considerei esta observação um fruto da minha própria empolgação. Um sonho de quem dá os primeiros passos em um terreno desconhecido. Mas a experiência me provou que, depois de anos respirando por aparelhos e correndo o risco de desligarem a parafernália respiratória que a mantinha moribunda, a literatura verde e amarela saiu do coma e começa, aos poucos, a abrir os olhos e a se alimentar sozinha.

Ainda ouço vez ou outra que não se lê no país e que consumimos, exclusivamente, as histórias importadas. É verdade que ainda lemos menos do que deveríamos. No entanto, lemos. Ainda lemos poucos nacionais. Contudo, lemos. A profissionalização do escritor ainda engatinha… mas há, enfim, novos escritores dispostos a soprar suas estórias ao vento e a levantar a mão na multidão. Precisamos parar de repetir frases velhas, reafirmar realidades ultrapassadas e reclamar da falta de oportunidades. Qualquer reação exige sempre uma ação. O próximo passo é construir novas realidades, lutar por novos espaços.

Em um mercado em que o profissionalismo não é financeiramente estimulado, a nova leva de autores que invade as redes sociais e as plataformas de autopublicação vem lutando com as armas que tem à mão. Eles movimentam novos mercados e arrastam consigo novos profissionais, trazendo à tiracolo capistas, diagramadores, ilustradores, revisores, copidesques, leitores beta, leitores críticos, marqueteiros, gráficas e muito mais. Um mercado paralelo ao tradicional, formado por pessoas apaixonadas que não aceitam abrir mão de seus sonhos.

Assim, vem sacudindo a poeira e colocando suas pranchas no mar digital para surfar pelas ondas sociais. As plataformas para publicação digital abriram o mundo da imaginação e dos sonhos para jovens e adultos, fomentando um mercado que sequer conseguia saber de si mesmo. Estamos descobrindo que podemos ler e, ainda melhor, que podemos escrever. Todos queremos tocar multidões, transformar experiências e alegrar corações.

De jeito nenhum me incomodo se me acusam de otimista. Porque sou. Tampouco me importo com os que dizem que estou em uma bolha social literária. Porque, na verdade, meti-me em várias. Achar bolhas literárias por aí já me parece um movimento promissor! E, nessas bolhas, há bons ares… desses perfumados, encantados, mágicos que qualquer sonhador gosta de respirar.

Dúvida? Em diversos grupos para leitura ou escrita, apenas do Facebook, somos mil, dez mil, cinquenta mil. Milhares de leitores e escritores falando só sobre LIVROS! Um número pequeno, frente aos 207 milhões de brasileiros. Mas muito bom, se considerarmos que cada um desses leitores e escritores atinge, na sua própria rede social, dezenas de amigos, parentes e conhecidos das mais variadas classes sociais, expondo-os aos seus hábitos de leitura e plantando uma sementinha ou uma pulga atrás das orelhas de cada um deles.

Não desanimo olhando o número de brasileiros que não lê. Pelo contrário, prefiro concluir que eles representam um mundo de possibilidades. No entanto, não sou ingênua a ponto de imaginar que teremos, algum dia, um país de 207 milhões de leitores. Afinal, nenhum mercado que trabalha com cultura terá em suas mãos todas as pessoas de um país. Mas sei que teremos um com cada vez mais leitores e cada vez mais escritores.

Hábitos são como teias que vamos tecendo aos pouquinhos. Ninguém constrói um hábito para um país na virada de uma noite. Eles se formam por repetição, por exposição, por exemplos.

E para quem reclamava da mesmice dos livros brasileiros, agora não pode mais choramingar. A publicação digital fez sair da gaveta e da cachola dos contadores de estórias projetos de todos os tipos, para todos os gostos. Um show de gêneros literários voltados para os públicos mais diversos vem invadindo as casas “digitais” das pessoas, trazendo um mar de possibilidades novas e eletrizantes.

Temos vários desafios pela frente, é verdade. Entre eles, fazer essas histórias chegarem aos seus públicos, transformar os leitores de livros piratas em consumidores de livros pagos, para profissionalizar os contadores de histórias e provar às nossas crianças, aos nossos jovens e aos nossos adultos que ler ajuda a aprender, mas que, principalmente, ler ajuda a viver!

*Camila M. Guerra. Escritora, tem 41 anos, 3 livros e alguns contos na bagagem. É a mais nova escritora que tem fascinado interessados em temas de ficção paranormal.

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Redação

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