Um profissional paraguaio do jornal ABC Color foi processado por calúnia e difamação por um senador que, de acordo com o repórter, teria participado de uma tentativa de suborno para interromper a investigação da reportagem. O jornalista investigava supostas irregularidades numa recente licitação que favoreceu um fornecedor do governo.
O senador Dionisio Amarilla Guirland entrou com uma ação na Justiça contra o jornalista Juan Carlos Lezcano. “Meus advogados já deram entrada num processo contra Lezcano, um caluniador sistemático,” escreveu Amarilla no Twitter.
O processo por difamação ocorre depois de o ABC Color e Lezcano denunciarem uma suposta tentativa de suborno para interromper suas investigações jornalísticas.
No dia 27 de maio, Lezcano publicou no ABC Color uma série de reportagens sobre as supostas irregularidades que teria cometido o Instituto de Previdência Social (IPS) na licitação que contratou a empresa Security Service Technology S.A. (SST) para serviços de segurança e vigilância.
O jornalista disse em entrevista à ABC TV Paraguay, publicada no Facebook, que devido a suas reportagens anteriores, ele foi chamado no dia 27 de maio para uma reunião na agência de comunicação que produz conteúdos institucionais para a SST. Ele trabalha como colaborador independente para a essa agência. Lezcano disse que Maria Luz Peña, responsável pela agência de comunicação, o chamou para explicar que suas reportagens no ABC Color estavam afetando a SST.
Depois dessa conversa, o jornalista disse à ABC TV Paraguay que foi conduzido a uma sala onde estavam o empresário Óscar Chamorro Lafarja e seu colega de universidade, o senador Amarilla. Os dois, de acordo com o jornalista, tentaram dissuadi-lo de continuar a investigação, oferecendo-lhe um acordo.
Amarilla disse à imprensa que Lezcano apareceu de surpresa na reunião que ele teve com Chamorro por outros motivos, e que ele foi trazido por Peña, conforme publicado por C9N Paraguay. Ele também disse não saber que Lezcano trabalhava para Peña.
Posteriormente, num vídeo publicado no Twitter na terça-feira, 28 de março, Lezcano mostrou Peña, dentro de um carrro, lhe entregando um envelope. Segundo Peña, ela disse que era “22” e que ainda ficava lhe devendo 2 milhões. A quantia era presumivelmente 22 milhões de guaranis (cerca de US $ 3.500)
Em outro vídeo gravado por Lezcano supostamente durante a reunião na agência de comunicação, publicado na página da ABC TV Paraguay no Facebook, podem ser ouvidas as vozes de dois homens, identificados pelo ABC Color como Chamorro e Amarilla.
Advogados do ABC Color denunciaram o suposto suborno ao Ministério Público e entregaram o envelope com o dinheiro, informou a agência EFE. Já o ABC Color reportou que, quando o envelope foi aberto, o MP constatou que ele continha, na verdade, duas vezes a quantidade de dinheiro que Peña informara a Lezcano.
De acordo com a EFE, Peña confirmou a uma rádio local ter entregue o dinheiro a Lezcano. No entanto, ela disse não ser suborno, mas um adiantamento do salário do jornalista como um colaborador independente da empresa dela.
Os promotores Josefina Aghemo e Sussy Riquelme, da Unidade Especializada em Crimes Econômicos e Anticorrupção, estiveram no ABC Color para iniciar as investigações baseadas na queixa do jornalista e no veículo de comunicação onde ele trabalha, de acordo com o site do Ministério Público do Paraguai.
As empresas SST e Buller S.A., de propriedade de Chamorro, venceram uma licitação pública do IPS em meados de maio. A entidade estatal contratou as duas empresas por 140 bilhões de guaranis (cerca de US $22 milhões), segundo ABC Color.
Depois do escândalo, o governo do presidente paraguaio Mario Abdo Benítez anunciou a suspensão do contrato e a abertura de investigações pelo MP, informou a EFE. SST disse em nota que a alegação de suborno feita por Lezcano é “absolutamente falsa”, reportou a Última Hora.
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