O abaixo-assinado chancelado por mais de 200 jornalistas da Folha de S. Paulo contra a decisão da publicação de, segundo eles, divulgar de forma recorrente “conteúdos racistas” segue movimentando grupos e entidades. Na direção contrária do movimento que elogiou o antropólogo Antonio Risério, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) lançaram nota conjunta em apoio aos colaboradores do jornal paulistano. No texto divulgado na noite de quinta-feira, 19, os dois órgãos enfatizam que o “racismo reverso não existe”.
Na nota, Fenaj e SJSP criticam o comando da Folha de S. Paulo. De acordo com as duas entidades, o jornal errou ao publicar um artigo de Risério. Intitulado “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo”, o texto foi publicado na seção ‘Ilustríssima’ — que é voltada a temas culturais — no último fim de semana. Para além desse material, os órgãos sindicais falam em hábito do jornal em disseminar “artigos de opinião e colunas com uma série de distorções e falácias sobre a questão racial no Brasil”.
Ideia falsa de que o jornalismo precisa abrir espaço a discursos nocivos à democracia e aos direitos humanos
“Nossa entidade parabeniza a coragem e a firmeza das e dos jornalistas em se posicionaram contra uma decisão editorial evidentemente equivocada da empresa”, afirmam as entidades. “Tal atitude, por sinal, deveria ser natural em uma redação: a defesa do jornalismo e de uma imprensa verdadeiramente independente passa necessariamente pelo livre debate, circulação de ideias plurais e o constante diálogo dos profissionais para aprimorar as decisões editoriais de uma publicação — sem transigir na ideia falsa de que o jornalismo precisa abrir espaço a discursos nocivos à democracia e aos direitos humanos.”
As duas entidades evocam, ainda, trecho do Código de Ética dos Jornalistas. Em seu artigo 6º, parágrafo 11, o documento destaca como dever do profissional da imprensa do Brasil “defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias.”
Confira, a seguir, a nota assinada por Fenaj e SJSP (o texto foi divulgado quando o abaixo-assinado de jornalistas da Folha de S. Paulo tinha menos de 200 apoiadores):
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) saúdam e prestam total apoio aos quase 200 jornalistas da Folha que escreveram uma carta aberta à direção do jornal criticando o posicionamento editorial da empresa a respeito da questão racial.
No último domingo (16/01), o jornal publicou artigo de Antônio Risério, que abordava o suposto “racismo de negros contra brancos”. Em resposta, os profissionais da empresa demonstraram preocupação com o padrão editorial adotado pela direção da Folha, que nos últimos meses publica artigos de opinião e colunas com uma série de distorções e falácias sobre a questão racial no Brasil.
Nossa entidade parabeniza a coragem e a firmeza das e dos jornalistas em se posicionaram contra uma decisão editorial evidentemente equivocada da empresa. Tal atitude, por sinal, deveria ser natural em uma redação: a defesa do jornalismo e de uma imprensa verdadeiramente independente passa necessariamente pelo livre debate, circulação de ideias plurais e o constante diálogo dos profissionais para aprimorar as decisões editoriais de uma publicação — sem transigir na ideia falsa de que o jornalismo precisa abrir espaço a discursos nocivos à democracia e aos direitos humanos.
Vale lembrar que o Código de Ética dos Jornalistas diz que:
Art.6º: É dever do jornalista: (…)
XI – defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias.
Em nossas convenções coletivas, defendemos que as empresas jornalísticas não podem restringir, por normas internas, a plena liberdade de expressão – nos terrenos político, econômico, social, esportivo ou outros – e o exercício de cidadania para seus jornalistas. E não há melhor forma de exercer a cidadania do que se posicionar em um debate tão essencial quanto à perversa dinâmica estrutural do racismo em nosso país.
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