Opinião

Na contramão da imprensa, O Antagonista e Crusoé ampliam redações

Projetos jornalísticos criados pela dupla Diogo Mainardi e Mario Sabino reforçam suas redações. A revista Crusoé passa a contar com ex-editor da Veja e se prepara para receber um colunista “politicamente incorreto”, enquanto o site O Antagonista foi buscar no G1 seu mais novo integrante. Investimentos vão no caminho contrário de outros órgãos da imprensa brasileira, que sofrem com demissões e fechamentos

Mais um jornal impresso é extinto no Brasil“. Notícias como essa têm sido cada vez mais comuns envolvendo órgãos de imprensa espalhados país afora. Somente no intervalo dos últimos dois meses, além do fim da edição em papel do centenário A Cidade, O Globo e a TV Gazeta de São Paulo sofreram com demissões em massa. O diário do Grupo Globo dispensou de uma única vez mais de 30 jornalistas. A emissora de TV pertencente à Fundação Cásper Líbero acabou com um noticiário e demitiu mais de 25 profissionais de seu departamento jornalístico. Em sentido oposto ao de cortes de pessoal, dois projetos nativos digitais estão ampliando suas equipes. Eles contam com um ponto em comum, são criações de Diogo Mainardi e Mario Sabino: o site O Antagonista e a revista Crusoé.

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No ar desde janeiro de 2015, O Antagonista nasceu a partir do desejo de seus sócios-fundadores em produzir conteúdo para a internet . Egressos da Veja, onde respectivamente foram redator-chefe e colunista, Sabino e Mainardi talvez não imaginassem que o projeto tivesse em menos de quatro anos números estrondosos de audiência. De acordo com os dados registrados pelo SimilarWeb, o site teve 55 milhões de visitas somente no último mês de outubro. O número coloca o domínio como o 36º mais acessado no Brasil, aparecendo à frente de portais como R7 e iG. O sucesso junto ao público tem como consequência o investimento contínuo na equipe responsável por produzir as notas e reportagens exclusivas que movimentam, sobretudo, os bastidores da política nacional.

Redações ampliadas

Sob a batuta do diretor Claudio Dantas, no projeto desde o dia em que José Dirceu foi preso, em 3 de agosto de 2015, o expediente de O Antagonista conta com mais quatro jornalistas. Diego Amorim, Felipe Moura Brasil e Rogério Ortega integram o time do site desde o último ano, pelo menos. A partir de agora, mais um profissional passa a fazer parte da empresa. Mineiro de Itabira, Renan Ramalho chega com a missão de acompanhar o que de mais importante acontece com o poder Judiciário e a Polícia Federal. Para isso, ficará baseado em plena Brasília, trafegando entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Ministério da Justiça, que será comandado pelo ex-juiz Sergio Moro a partir de janeiro. Para o trabalho, não falta experiência ao novo contratado do site. Ramalho soma sete anos de reportagens para o G1, além de ter no currículo passagens por Folha de S. Paulo e R7.

O reforço do repórter focado em questões do Judiciário casa com o momento da política brasileira, que terá Jair Bolsonaro (PSL) como presidente da República ao decorrer dos próximos anos. “A contratação do Renan vem em linha com a demanda que surge com montagem de um novo governo e com a ‘nacionalização’ da Lava Jato, principalmente por causa da presença do Sergio Moro, por tudo que ele representa, e pela equipe que está sendo montada para o Ministério da Justiça”, comenta Claudio Dantas. A suprema corte do país também não escapará dos olhos do novo repórter do site, adianta o gestor. Ele ainda sinaliza que vai contratações podem ocorrer. Afinal, o objetivo é acompanhar tudo que envolve os bastidores do poder. “Temos que dar conta. Estamos investindo em pessoal e em plataforma”.

Claudio Dantas é o diretor de O Antagonista em Brasília (Imagem: arquivo pessoal)

O site, porém, não é o único projeto jornalístico fruto da parceria entre Mainardi e Sabino. Revista digital que teve a sua primeira edição divulgada no início de maio, a Crusoé também tem se reforçado. Em outubro, o veículo dirigido por Rodrigo Rangel contratou Gustavo Alves, ex-coordenador de nacional de O Globo e ex-repórter do Estadão. No início deste mês, foi a vez de Duda Teixeira, então editor de internacional da Veja, ser contratado. Com os reforços dos últimos dois meses, a publicação virtual conta com nove profissionais fixos. Desses, seis ficam baseados diretamente na capital federal, a destacar a presença do repórter fotográfico Adriano Machado. O sexteto faz com que a equipe em Brasília seja maior do que muita sucursal de jornal e revista. De acordo com o serviço de Mailing do Comunique-se, a Istoé, por exemplo, conta com apenas três jornalistas no Distrito Federal. A Época, por sua vez, possui cinco profissionais na cidade.

Rodrigo Rangel conduz a equipe de jornalistas da Crusoé (Imagem: arquivo pessoal)

Exclusivo: mais um reforço

A partir da próxima semana, Crusoé terá a colaboração de Leandro Narloch. Com passagens por veículos como Superinteressante e Veja, ele é autor da série de guias politicamente incorretos: da história do Brasil, da América Latina, da história do mundo e da economia brasileira — obras que figuraram em listas dos livros mais vendidos do país. Agora, passa a ser mais um colunista da revista digital, que já conta com textos de Diogo Mainardi, Mario Sabino, Marcos Troyjo e Rui Goiaba (codinome adotado por Rogério Ortega). Em seu mais novo emprego, Narloch deve instigar os leitores com questionamentos e polêmicas. Apesar do acerto com o projeto virtual, o jornalista e escritor também seguirá escrevendo para os jornais Folha de S. Paulo e Gazeta do Povo.

Leandro Narloch se prepara para ser o colunista “politicamente incorreto” da revista digital Crusoé (Imagem: arquivo pessoal)

Antagonistas dos passaralhos

Sobre os recentes reforços, Rodrigo Rangel vê que a Crusoé está na contramão do mercado jornalístico do Brasil. “Neste momento difícil para as redações, em que muitos veículos têm demitido profissionais, felizmente estamos podendo contratar graças ao nosso crescimento e, mais do que isso, produzir conteúdo relevante e diferenciado”. O diretor de redação reforça um ponto que faz com que a revista digital não contamine o que tem de mais precioso (o conteúdo editorial) com interesses meramente comerciais. “Vale dizer, para garantir nossa independência, não aceitamos e não aceitaremos publicidade de nenhuma espécie do setor público. Isso nos deixa muito à vontade para fazer jornalismo da melhor maneira possível”, avisa o gestor da publicação — afirmação que vai ao encontro do que foi exposto por Mario Sabino em recente artigo.

Modelos de negócios

Sem dar vez a propagandas governamentais, os projetos criados por Mario Sabino e Diogo Mainardi se rentabilizam de outras formas. O site O Antagonista, que desde março de 2016 tem 50% de sua operação sob cuidados da consultoria Empiricus, veicula anúncios nativos do Google e mantém parceria com a rede Taboola, que exibe os chamados links patrocinados. A marca também mantém ativo canal no YouTube, que financia os produtores de conteúdos conforme suas audiências na plataforma (estrelados por Claudio Dantas, dois dos últimos vídeos divulgados já têm mais de 100 mil visualizações cada). O diretor do projeto adianta, inclusive, que o trabalho no YouTube será “turbinado já no começo do próximo ano”. Deixando a internet, a equipe do site prepara o encontro “O novo Brasil pós-PT“. O evento, que contará com palestrantes convidados, será realizado em São Paulo na tarde da próxima segunda-feira, 26. Para participar, o interessado precisa investir R$ 559,90 (à vista) ou R$ 624,90 (em seis vezes).

Enquanto veículos mais antigos sofrem para ampliar a base de interessados em pagar para consumir seus conteúdos, a Crusoé pode ser considerada um case de sucesso. Em seis meses de vida, a revista digital dirigida por Rodrigo Rangel contabiliza mais de 55 mil assinantes. Válida por 12 meses, a assinatura custa atualmente R$ 160,92 (valor à vista) ou 12 vezes de R$ 14,90 (R$ 178,80 no total). Para manter os atuais e atrair novos leitores, a publicação investe em reportagens investigativas e exclusivas. Logo na edição de estreia, fez o então juiz da operação Lava Jato, Sergio Moro, quebrar o silêncio e falar pela primeira vez desde a condenação do ex-presidente Lula. No período eleitoral, produziu capas com materiais críticos a figuras do PT, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Jair Bolsonaro. A ideia é mostrar ao público em geral que a publicação é uma “ilha” do bom jornalismo.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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